O crescimento da demanda por cuidadores de pessoas idosas está mudando a composição do trabalho doméstico no país. Dados recentes do Dieese mostram que, enquanto a quantidade de empregados em serviços gerais recua, a presença de cuidadores em domicílio quase dobrou nos últimos dez anos.
Segundo levantamento com base na Pnad Contínua do IBGE, de um total de 5,9 milhões de trabalhadores domésticos em 2024, 21% são cuidadores. Em 2014, esse número era de 13,9%. A maioria desses profissionais atua com idosos, refletindo o envelhecimento acelerado da população brasileira.
Essa mudança estrutural no mercado é acompanhada por condições de trabalho ainda precárias. A informalidade entre cuidadores é alta e 79% não têm carteira assinada. Mesmo com maior escolaridade média, eles recebem salários baixos e enfrentam jornadas extensas. A média salarial em 2024 foi de R$ 1.482, para jornadas semanais de 41,6 horas.
Aumento da demanda por cuidadores de pessoas idosas revela crise
Especialistas apontam que o aumento da demanda por cuidadores de pessoas idosas se dá por uma combinação de fatores. O principal é o envelhecimento da população, com projeções indicando que, até 2070, 40% dos brasileiros terão mais de 65 anos.
Outro fator é a redução no número de familiares disponíveis para cuidar dos idosos. Famílias menores, casamentos menos duradouros e a distância geográfica entre pais e filhos contribuem para esse cenário. As mulheres, que historicamente assumem os cuidados em casa, estão cada vez mais presentes no mercado de trabalho. Isso reduz o tempo disponível para a chamada dupla jornada.
Cristina Vieceli, economista do Dieese, afirma que falta infraestrutura pública e privada para apoiar o cuidado contínuo. "Como falta uma infraestrutura de serviços especializados, tanto públicos quanto privados, como os Centros Dia, onde a pessoa deixa o idoso, vai trabalhar e depois volta para buscar, a gente tem essa questão da contratação de trabalhadoras domésticas especializadas em cuidados", disse em entrevista ao Globo.
Crédito: Jacob Lund/Shutterstock
Trabalho exige responsabilidade, mas segue desvalorizado
A pesquisadora Juliana Teixeira observa que o trabalho das cuidadoras, apesar de mais especializado, ainda é enquadrado no mesmo regime precarizado das empregadas domésticas. "A antecessora do trabalho doméstico remunerado no Brasil é a mulher escravizada. Há uma dificuldade histórica de entender que o que cuidadoras fazem é trabalho", disse ela ao Globo.
Além disso, o envolvimento emocional comum na rotina dos cuidados pode dificultar o reconhecimento da profissional como trabalhadora com direitos. “É como se elas estivessem fazendo o que é o destino delas enquanto mulheres negras empobrecidas”, completou Juliana.
A demanda por cuidadores de pessoas idosas deve continuar crescendo, impulsionada pelo aumento da longevidade e pela falta de políticas públicas estruturadas. A Política Nacional de Cuidados foi anunciada no fim de 2024. Contudo, ainda aguarda regulamentação, sem planos e metas claros.
Enquanto isso, milhões de mulheres negras seguem exercendo funções essenciais com pouca proteção social. O desafio agora é transformar esse crescimento em uma oportunidade de valorização e formalização do setor.
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