Tem se sentido sozinho? Acha que precisa se exercitar mais ou comer menos? Às vezes considera que está meio sem propósito na vida? Se respondeu afirmativamente a alguma ou várias dessas perguntas, é muito provável que você não viva em uma das blue zones do mundo.

Pois essas (traduzindo do inglês) zonas azuis concentram pessoas com características opostas às descritas nas questões acima. E, graças a esse perfil, tais regiões se caracterizam pelas altas taxas de longevidade de seus habitantes.

O termo blue zones se originou a partir de estudos dos pesquisadores Gianni Pes e Michel Poulain, em 2004. Eles apontaram a província de Nuoro, na Sardenha (Itália), como um local de concentração de centenários. O conceito ganhou força com educador americano Dan Buettner.

Em um artigo de 2015 para a revista “National Geographic”, o autor identificou, com a ajuda de um time de pesquisadores, mais outras quatro regiões do planeta em que as pessoas costumam viver bem mais que a média mundial: Okinawa, no Japão; a ilha de Ikaria, na Grécia; a península de Nicoya, na Costa Rica; e a aldeia de Loma Linda, no sul da Califórnia, nos EUA.


Tenha acesso aos melhores conteúdos informativos. Clique aqui e faça parte do grupo de Whatsapp do Instituto de Longevidade!


A partir dessas análises, foram elencados nove fatores que favorecem o aumento da longevidade nas blue zones. “Apesar das diferenças de localização geográfica dessas zonas, os hábitos de suas populações têm muitas características em comum”, afirma Roni Chaim Mukamal, médico geriatra da Sociedade Brasileira de Geriatria e Gerontologia (SBGG) e palestrante sobre o tema no GeriatRio, evento realizado no Rio entre outubro e novembro para debater o envelhecimento saudável.

“Isso comprova dados de estudos anteriores, segundo os quais o estilo de vida e o ambiente são determinantes de 80% da longevidade, enquanto a genética responde por 20%”, diz.  

Longevidade estendida: os 9 grandes segredos das blue zones

Não ficar parado

O primeiro deles é a movimentação. “Os habitantes dessas zonas vivem em áreas rurais e se exercitam o dia todo de maneira natural, e não somente por uma ou duas horas na academia”, frisa Mukamal. “Eles são obrigados a caminhar, sobem e descem montanhas no trabalho cotidiano sem usar veículos motores”, exemplifica. “Buscam lenha, tiram leite de vaca, capinam o canteiro”, complementa Claudia Flo, coordenadora da área técnica de saúde do idoso na Secretaria de Estado da Saúde de São Paulo. “Quanto mais trabalham, mais se mexem.”

Propósito de vida

Na esteira desse primeiro fator vem o segundo: ter um propósito de vida. “Os habitantes das blue zones em geral gostam de se sentir úteis até o final dos seus dias, não se aposentam para ficar em casa sem fazer nada”, diz Mukamal. “Eles sabem as razões pelas quais acordam todos os dias de manhã, têm planos”, considera Claudia.

Ritmo calmo

Mas nada de ser workaholic ou realizar tarefas no limite de prazos apertados. Outro dos pulos do gato dessas pessoas, segundo Mukamal, é “ter um ritmo de vida mais calmo, não estar sempre correndo”. “Um dos costumes na ilha de Ikaria, na Grécia, por exemplo, é tirar um cochilo depois do almoço, o que ajudaria a evitar problemas cardiovasculares”, afirma. É o que Claudia define como uma vida com leveza, bom humor e também resiliência diante das dificuldades.

Dieta mediterrânea

E, por falar em almoço, chegamos a um dos ingredientes mais importantes da receita da longevidade nas blue zones: a alimentação. “As dietas nesses lugares são muito à base de alimentos regionais, de raiz”, caracteriza o geriatra da SBGG. “À ilha de Ikaria, na Grécia, por exemplo, não chegam enlatados. Consome-se muito azeite de oliva, é preferido o queijo de cabra. Em Okinawa, no Japão, come-se muita soja e as algas marinhas, associadas à saciedade e à melhora do sistema imunológico, também vão muito à mesa dos habitantes”, pontua.

blue zones

Crédito: Yulia 1971/Shutterstock 

Prato quase cheio

Nas zonas azuis, predomina ainda a regra dos 80%. “A pessoa come sem ficar saciada por completo”, explica Claudia Flo. “Ingere até 80% do que tem vontade, e os 20% que restam de fome significam a diferença entre engordar e emagrecer.”

Pouca carne, muitos vegetais

Ainda no quesito comida, Claudia destaca que os indivíduos das blue zones se rendem aos vegetais e consomem pouca carne – em geral, uma vez por semana. “Comem feijão de todo tipo, fava, soja, ervilha e muitas leguminosas”, especifica.

Não pode faltar o vinho

Você gosta de um bom vinho? Se respondeu que sim, então está alinhado com o paladar dos habitantes das blue zones – com exceção dos de Loma Linda, nos EUA, que evitam o álcool por integrarem uma comunidade de membros da Igreja Adventista do Sétimo Dia.

O vinho, por sinal, é saudável para o coração – mas nada de excessos. “Os moradores das zonas azuis tomam de uma a duas taças por dia, e não se trata dessa taça gigantesca que nós estamos acostumados a usar – é uma bem menor”, ressalta Claudia Flo. “E não vale deixar pra tomar as 14 doses da semana todas no sábado”, acrescenta. “Além dos benefícios da bebida em si, aliás, ela é compartilhada com os amigos durante as refeições, favorecendo o convívio social.”

Em grupo – e na melhor tribo 

Pois essa é outra regrinha de ouro das regiões da longevidade aumentada: o senso de comunidade. “São pessoas que se ajudam, se defendem, se apoiam mutuamente”, afirma Mukamal. “A questão de família é muito forte, e os idosos são inseridos nos núcleos, são cuidados dentro das casas”, diz. “Em Okinawa, as mulheres mais velhas têm o hábito de se reunir para conversar e tomar chá”, lembra Claudia. “Isso é ficar perto de quem você ama, entre amigos, crianças, avós, pais.”

Cabe aqui outro princípio seguido nas blue zones: “Você escolhe a melhor tribo em que vai conviver”, diz a coordenadora da secretaria da saúde. “E participa de grupos com hábitos saudáveis, como a prática de exercícios.”

Questão de fé

Em paralelo, os moradores das zonas azuis cultivam também a espiritualidade. “Compartilham uma crença, uma fé”, afirma Claudia. “É um ponto que os consola diante das dificuldades e ajuda a unir as pessoas que têm as mesmas convicções.”

Blue zones: exemplo a ser seguido

A partir dos conceitos das blue zones, outras regiões do mundo procuram criar iniciativas para adotar práticas que favoreçam a longevidade. “Envelhecer bem não é uma questão puramente individual, é necessária a colaboração do entorno, da cidade”, analisa Gabriel Monteiro, diretor para a América Latina da Dialog Health, companhia que organiza delegações de estudo para profissionais em busca das melhores práticas e inovações em saúde e longevidade.

Mukamal menciona que algumas cidades dos Estados Unidos já se espelham nas zonas azuis para criar estruturas que fomentem a adoção de um estilo mais saudável de vida. Uma dessas ações é a construção de ciclovias e de estacionamentos para bicicletas.

Para Gabriel Monteiro, o maior mérito do estudo das blue zones é tratar todos os aspectos que as constituem de maneira integrada, acessível e de fácil entendimento. “A costura dos diversos elementos para a longevidade é bastante original no modelo”, avalia. 


Compartilhe com seus amigos

Receba os conteúdos do Instituto de Longevidade em seu e-mail. Inscreva-se: