A vida mais longa é um dos bons subprodutos do mundo moderno. Se for pensada e bem planejada, pode ficar ainda melhor. Por isso vários fatores que influenciam na qualidade de vida aparecem cada vez mais na pauta das discussões sobre longevidade, com exceção de um dos mais importantes: a moradia.

"Tenho estudado muito o assunto e percebi que, nos Estados Unidos e na Europa, essas discussões já estão muito mais avançadas do que no Brasil", afirma Marília Viana Berzins, presidente do Observatório da Longevidade Humana e Envelhecimento (Olhe).

Para estimular o debate sobre o tema, organizou o workshop 00. Segundo Berzins, o intuito foi apresentar iniciativas que já existem no país e estimular o surgimento de outras. "O futuro do Brasil é a velhice", justifica.

Participaram representantes de três projetos _ República dos Idosos, de Santos (SP); Cidade Madura, de João Pessoa (PB); e Vila dos Idosos, de São Paulo (SP), e de uma empresa do mercado imobiliário que já está olhando mais para a fatia do mercado dos idosos, a construtora J. Bianchi, de Mogi das Cruzes (SP).

Poucas unidades, entre todas as iniciativas apresentadas, no entanto, oferecem itens de acessibilidade, o que parece ser um dos grandes desafios do setor.

Conheça um pouco sobre cada uma das iniciativas:

 

República dos Idosos - Santos (SP)

A ideia é semelhante à das repúblicas de estudantes. Os idosos mantêm sua autonomia, mas contam com uma rede de apoio da prefeitura nas áreas cultural, familiar, da saúde e social. O aluguel custa R$ 108, em imóveis da prefeitura, com grupos de no máximo dez moradores, e o morador arca com luz, água, gás e fundo de reserva, totalizando uma mensalidade de R$ 180.

O critério para participar é ser maior de 60 anos, ter autonomia, morar na cidade, ter renda de até dois salários mínimos e não ter vínculo familiar em Santos. Já passaram pelas três casas do projeto 225 idosos em 20 anos. Atualmente há 29 moradores e uma lista de espera de 52 idosos.

Segundo Celiana Nunes, chefe da seção de repúblicas da Prefeitura de Santos, um dos principais desafios é encontrar novos imóveis para ampliar o projeto, pois a maioria à venda são sobrados, pouco acessíveis aos idosos.

Cidade Madura - João Pessoa (PB)

É um residencial fechado com 40 casas adaptadas para idosos, sob administração da Companhia Estadual de Habitação Popular da Paraíba. As unidades são para duas pessoas com mais de 60 anos, têm 54 m₂ e uma área comum com praça, pista de caminhada, redário, mesas de jogos, aparelhos de ginástica, centro de convivência, horta comunitária, biblioteca, sala de vídeo e um núcleo de saúde com enfermeiras e psicólogos.

O idoso recebe uma concessão e pode morar com o cônjuge ou outro acompanhante que tenha mais de 60 anos de idade. Não existe aluguel. Os moradores pagam as despesas e R$ 50 de taxa de limpeza por mês. De acordo com o psicólogo Fabrício Oliveira, os critérios para ser candidato a morador, além da idade, são: não ter casa própria, ganhar até cinco salários mínimos e ser capaz de viver sozinho.

Além do condomínio de João Pessoa, já foram inaugurados no interior do Estado outros dois, em Campina Grande e Cajazeiras, em 2015 e 2016. Um quarto empreendimento está em obras e deve ficar pronto em novembro deste ano, em Guarabira. Atualmente o Estado tem uma fila de 80 idosos à espera de vagas.

Vila dos Idosos - São Paulo (SP)

 Parte do Programa de Locação Social da Secretaria de Habitação do Município de São Paulo (SEHAB), o empreendimento fica no Pari (região central da capital) e tem cerca de 145 unidades para famílias em situação vulnerável, 57 apartamentos de 1 quarto, sala, cozinha e banheiro e 88 quitinetes, das quais 25 unidades (9 apartamentos e 16 quitinetes) são adaptadas com barras de segurança no banheiro e portas mais largas para cadeira de rodas, todas localizadas no térreo.

Os gastos variam de R$ 100 a R$ 130 por mês, dependendo da renda do morador. Entre os critérios exigidos para morar no residencial, lançado em 2007, estão ter mais de 60 anos, renda máxima de três salários mínimos e autonomia para viver sozinho.

Segundo Cleusa Aparecida de Jesus, diretora técnica da DEAR- Centro da SEHAB, a fila de espera “é gigantesca”, porém a Companhia Metropolitana de Habitação (COHAB) está fazendo um mapeamento dos prédios públicos desocupados ou com ocupação parcial da cidade de São Paulo que podem ser reaproveitados no programa.

Construtora J. Bianchi - Mogi das Cruzes (SP)

 A J. Bianchi, de Mogi das Cruzes, está investindo no mercado de imóveis para idosos, de olho nessa fatia crescente do mercado. "As empresas estão sempre buscando se diferenciar, e uma maneira de fazer isso é investindo em públicos específicos", disse Fábio Bianchi, diretor da empresa.

A construtora já lançou e vendeu dois prédios residenciais incorporando alguns dos itens do design universal (pensado para todos os tipos de idades, dificuldades e limitações), em Suzano (2009) e Mogi das Cruzes (2010).

moradia de idosos Edifício Olímpia Life Time, lançado pela J. Bianchi em 2009, em Suzano; crédito divulgação

Com o sucesso, entregou outros dois empreendimentos, em 2014 e 2015, nos mesmos municípios e com as mesmas características: altura diferenciada de tomadas e interruptores; portas mais largas do que 60 cm e caixilhos com persiana de enrolar. No total, já foram lançados 228 unidades com esse conceito.

"Neste momento, estamos estudando um conceito diferente. Desenvolver um produto pensando na longevidade dos moradores, na facilidade de locomoção e no conforto dentro do apartamento e em sua área comum", anuncia Bianchi. Um dos desafios a serem vencidos, segundo ele, é a dificuldade de financiamento para pessoas maiores de 80 anos.

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