Acha que o ar da cidade está muito seco? O nível de poluentes que respira também o tem incomodado? Ora, talvez você possa ajudar um pouco nisso, de alguma forma. Aliás, antes de correr para seu próximo compromisso, queremos contar-lhe como algumas pessoas de fato empreenderam uma medida contra a poluição atmosférica – e a favor da própria qualidade de vida. E, por falar em corrida para algum lugar, não se esqueça: este 22 de setembro é o Dia Mundial sem Carro. Que tal deixar o seu na garagem?

Foi o que fez a jornalista Adriana Marmo, de 51 anos, que mora na cidade de São Paulo desde 1993 – nasceu em Limeira, no interior do Estado. Ela conta que, há cerca de cinco anos, aproveitou mudanças que aconteceram em sua vida para acrescentar uma por vontade própria: trocar o carro pela bicicleta na maior parte dos seus deslocamentos pelo espaço urbano – e isso foi estendido depois para viagens também.


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“Eu vivia presa em congestionamentos e sentia que a vida era uma bolha”, afirma. Por essa época, em uma visita a Amsterdã, Holanda, conversou com engenheiros especializados em mobilidade urbana e ficou encantada com as possibilidades transformadoras do uso da bike como meio de transporte. Por falar em transformação, sua carreira profissional também tomava outros rumos com a saída de um emprego fixo e o início de uma trajetória como prestadora de serviços de comunicação.

Olho no olho

Assim, diz ter percebido que era hora também de se libertar do carro. “Mudei tudo, inclusive o estilo de vida”, conta. E especialmente sua relação com o espaço urbano. “A bicicleta te coloca dentro da cidade, interagindo com as pessoas e mesmo as árvores”, descreve.

“Hoje, posso dizer que sei diferenciar todos os tipos de dama-da-noite, pelo cheiro e pela época”, exemplifica. “Na avenida Doutor Arnaldo, por onde circulo com frequência, já tem até motorista de ônibus que me conhece e me cumprimenta.”

E, ao contrário do que muita gente pode imaginar, esse olho no olho com os elementos da metrópole fez aumentar também a sensação de segurança de Adriana ao percorrê-la. No dia a dia, seu roteiro fica mais restrito ao centro expandido, entre Perdizes, na zona oeste, região em que mora, e a avenida Paulista, onde trabalha atualmente.dia mundial sem carro

No Dia Mundial sem Carro, siga o exemplo da jornalista Adriana Marmo, que, na foto, passeia pela Rio: saia por aí de bike. Crédito: Arquivo Pessoal

No entanto, a jornalista conta que aprendeu, com as pedaladas, a explorar todos os cantos da capital, passando pelas ciclovias de Sapopemba até chegar à Cidade Tiradentes, no extremo da zona leste. Dá também seus giros pelas zonas sul e norte, sem restrição de paradeiro. “Eu não conhecia São Paulo e agora não tenho medo de São Paulo”, define. “Volto de bike para casa de madrugada numa boa.”

Para a saúde, o impacto também foi positivo, diz. “Eu nunca fui sedentária, costumava correr maratonas”, testemunha. “Mas agora minha atividade física é muito mais constante. E pedalar me ajuda até a aliviar crises de enxaqueca.” 

Dia Mundial Sem Carro: contra o sedentarismo

Benefícios ligados à saúde pela troca dos veículos motorizados pela bicicleta também foram percebidos pelo especialista de sistemas Aldo Nakamura, de 51 anos. Natural de Londrina (PR), ele mora em São Paulo desde a infância. E foi justamente para se livrar do sedentarismo que, em 2014, resolveu tentar fazer o trajeto de casa para o trabalho de bike. 

“Eu trabalhava na avenida [Brigadeiro] Faria Lima, perto do Largo da Batata, em Pinheiros, e morava em Santo Amaro”, lembra. “A distância era de 12 quilômetros, que eu costumava percorrer de ônibus, metrô e trem. O trajeto pelo transporte público levava entre uma hora e uma hora e vinte. E o trânsito me irritava muito, além do problema da superlotação.”dia mundial sem carro

Aldo Nakamura, que toca o projeto social Pedalando sem Idade, cujo objetivo é oferecer passeios gratuitos de bicicleta para idosos e pessoas com mobilidade reduzida; Crédito: Arquivo Pessoal 

Foi quando ele percebeu que a ciclovia da Faria Lima passava na frente de seu escritório. “Comecei aos poucos, para pegar condicionamento físico”, afirma. “Decidi que faria uma parte do caminho usando as laranjinhas do Bike Sampa [projeto de aluguel de bicicletas do Itaú]. Então, tomava o ônibus, descia uns três quilômetros antes do trabalho e alugava uma bike. Nos primeiros dias, descia dela com as pernas bambas e sem fôlego. Mas a sensação de pedalar se tornou maravilhosa.

”Em 2015, resolveu comprar a bicicleta própria. “Como não sabia se conseguiria ir com ela de casa até o escritório, adquiri um modelo dobrável por dois motivos: poderia guardá-lo no trabalho e, se não fosse capaz de chegar pedalando, eu o dobraria e colocaria no porta-malas de um táxi”, diz. “Mas, para minha surpresa, no primeiro dia completei os 12 quilômetros com êxito.” 


dia mundial sem carroProjeto social Pedalando sem Idade, que oferece passeios gratuitos de bicicleta para idosos e pessoas com mobilidade reduzida. Crédito: Reprodução/Instagram/@pedalandosemidade 

Nakamura conta que, como não havia ciclovia e ciclofaixas por todo o caminho, trafegava também por “ruas mais calmas e mesmo pela calçada, devagar”, diz. “A região da [av. Engenheiro Luís Carlos] Berrini e da [rua] Funchal me dava medo, mas depois fui pegando mais confiança e descobrindo novas rotas alternativas. Alguns anos depois, a ciclovia dos corredores da Chucri Zaidan, Berrini e Funchal começou a sair do papel e isso deixou meu percurso bem mais tranquilo.”

Colesterol sob controle   

Atualmente, ele pilota uma Mountain Bike de 24 marchas, que usa não só para ir ao trabalho mas também para a farmácia e o mercado nos finais de semana. “Os benefícios que a mudança me proporcionou na vida são inúmeros”, frisa. “O principal deles foi me trazer mais alegria, disposição e reduzir o estresse. Confesso que já não tenho tanto prazer em dirigir um carro e que sempre procuro um motivo para tirar a bike da garagem e sair pedalando.”

 Em seus cálculos, a melhora do condicionamento físico foi obtida depois de cerca de quatro meses pedalando com regularidade. “Meu nível de colesterol ruim baixou, e o do bom aumentou”, reforça. “Hoje, meu percurso de ida volta do trabalho é de 38 quilômetros, entre Santo Amaro e Campos Elíseos. Desde 2014, já percorri 18 mil quilômetros”, dimensiona Nakamura, que toca um projeto social chamado Pedalando sem Idade, cujo objetivo é oferecer passeios gratuitos de bicicleta para idosos e pessoas com mobilidade reduzida.  

Alguns tombos   

Celia Cruz, de 53 anos, diretora-executiva do Instituto de Cidadania Empresarial, organização que fomenta negócios de impacto socioambiental, tem uma história com alguns obstáculos em relação à troca do carro pela bike.

“Depois de comprar duas bicicletas no Canadá que acabaram sendo roubadas, meu vizinho de lá, um superatleta, me presenteou com uma que era dele”, recorda. “Era muito melhor que as que eu tinha comprado.”  

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Célia Cruz diz que leva o mesmo tempo para percorrer de carro e de bicicleta os 6 km que separam sua casa do trabalho; Crédito: Arquivo Pessoal 

Já no Brasil, resolveu então que iria duas vezes por semana ao trabalho de bike. “Depois passei a fazer isso uma só vez, no dia do rodízio do carro”, diz. “Recentemente, porém, invadiram a vilinha em que moro em São Paulo e roubaram a minha bicicleta.”

Porém, Celia não perdeu o entusiasmo pelo meio de transporte movido a pedaladas. “Bike, para mim, é curtir a cidade de um jeito diferente, andar por ruas bonitas. Eu moro a 6 km de distância do meu trabalho e acabo levando praticamente o mesmo tempo no trajeto de carro ou de bicicleta. E é bom para a saúde, embora eu já tenha levado uns tombos, como quando bati na guia. Mas sempre uso capacete e acho menos perigoso do que andar de automóvel.”   


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