Este vai ser um Dia dos Pais especial para Rogério Koscheck, 53 anos, e seu marido, Weykman Padinho, 39. Desde que adotaram quatro irmãos negros, Juliana, 13, Maria Vitória, 5, Luiz Fernando, 3, e Anna Claudia, 2, três deles com anticorpos do vírus HIV, em 2013, a família já estava completa.

Com o tratamento precoce, primeiro eles viram “de um modo quase milagroso” que suas crianças não herdaram o vírus da mãe biológica. Foram todas negativadas, como manda o protocolo. Em fevereiro, o juiz deu ao casal a guarda definitiva delas, que agora levam seus sobrenomes.

Primeiro de abril de 2014 foi o início da gestação, diz Koscheck, relembrando a primeira visita ao abrigo. A empatia de Juliana, então com 11 anos, com Padinho foi imediata. “Vocês são irmãos?”, perguntou ela. “Somos um casal”, recebeu de resposta. “Como o Niko e o Félix [personagens da novela ‘Amor à Vida’]?”, indagou. E emendou: “Ah, tá”.

Maria Vitória, então com quase três anos, era tão calada que suspeitavam que ela fosse autista ou surda. Mas surpreendeu a todos quando cruzou a sala, sentou no colo de Koscheck e pediu que ele abrisse um pacote de balas. “O vínculo foi muito rápido. Elas estavam lá para nós, e nós estávamos lá para elas.”

Rogério e Weykman com os filhos, Juliana, 13, Maria Vitória, 5, Luiz Fernando, 3, e Anna Claudia, 2; crédito: Arquivo Pessoal.

As primeiras visitas foram de três horas, depois passaram para o dia inteiro e, na última etapa, aos finais de semana. Quando o quarteto chegou definitivamente à casa deles, 72 dias depois, foi uma revolução. Para dar conta, o casal brigou na Justiça pela licença-paternidade (Koscheck é auditor fiscal, e Padinho, contador). Conseguiram seis meses.

E seguiram à risca o conselho da psicóloga: “Aproveitem as coisas boas do abrigo”. De lá, as crianças herdaram uma rotina metódica, na qual os menores estão impreterivelmente às 21h na cama menos Juliana, que ganha uma horinha a mais com um dos dois para recuperar as lacunas de aprendizado. “Todos têm disciplina e comem de tudo”, conta.

Quando anda pelas ruas, Koscheck diz que vê olhares de aprovação e reprovação. Mas preconceito, não admite: “Não há a necessidade de a pessoa conviver, mas respeitar é fundamental”, pontua.

Para ele, família é a conjugação de três coisas: amor, afeto e projeto. E ser pai? “Perpetuar valores e sentimentos, trocar amor.” Final feliz? Não, ainda. Presidente da Associação Brasileira de Famílias Homoafetivas, ele tem um sonho maior: o de a sociedade aceitar todas as conjugações de família. “O comum fica mais lindo quando desaparece.”

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