Semana passada dei minha primeira palestra da vida. Fui convidada pra falar sobre minha vida na Sabesp SP e achei importante jogar luz sobre a idade e o envelhecer.
Percebo o quanto a sociedade atual se sente desconfortável com o tema. Na tentativa de melhorar o que consideram ruim, criam novas formas de denominar a velhice: melhor idade, terceira idade, +50, platinados. Quem inventou que envelhecer é ruim foi a própria sociedade, talvez pela incapacidade de lidar com a morte, já que, normalmente, quanto mais velhos, mais próximos dela ficamos.
Eu acredito em vida eterna, mas quem não acredita em nada também não tem o que temer: simplesmente vai deixar de existir e ponto.
Mas as rugas, os cabelos brancos, o ganho de peso, o andar mais lento têm sido colocados embaixo do tapete como se assim algo pudesse mudar.
Eu deixei meus cabelos brancos e estou muito confortável, não me importo que me chamem de dona ou senhora e nem que me cedam o lugar no metrô ou nas filas em sinal de respeito. Nenhuma dessas coisas importam porque aceito muito bem que estou envelhecendo e não diminui quem sou, ao contrário.
A adolescência e juventude trazem angústias que já não vivo, tenho mais paz e autoestima. Posso escolher as pessoas com quem quero conviver e não me desespero com as manias de quem sou obrigada, pelas circunstâncias da vida, a ver todo dia.
Falava sobre isso na minha palestra: a idade é apenas um registro civil pra organizar a sociedade, mas como você vai viver entre um aniversário e outro é o que interessa de verdade.
Então, o que você faz da sua vida? De verdade? Não vai me dizer que reclama e murmura do que te aconteceu? Seja lá o que for: câncer, perda de pessoas amadas, falência, doenças crônicas, falta de dinheiro ou de emprego. Temos que aprender a lidar com a vida ou morreremos sem ter vivido de verdade.
Não controlamos a maioria das coisas que nos acontecem, então o pouco que depende de nós precisa ser bem cuidado para que estejamos fortes quando a tormenta vier. E ela vem, sempre. Atinge de forma desigual a todos, mas atinge.
Sugiro aqui como leitura o livro “Option B”, da escritora Sheryl Sandberg. Poderosa, rica, famosa, feliz e perde o marido de forma drástica ficando com os dois filhos. Qual a opção B pra isso? Alguém pensa no que vai fazer se enterrar um filho? Um companheiro que se ama? Ou se tiver Alzheimer? Ninguém faz plano B pra essas coisas, mas elas acontecem a todo momento. Por qual motivo? Ninguém tem uma única resposta, mas eu acredito que é para que existam cada vez mais seres humanos dignos desse nome que podem renascer e fazer ainda mais depois da dor, seja ela qual for.
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Não gosto dos efeitos do Botox no rosto das pessoas, nas fotos vemos olhos arregalados, faces endurecidas. Muito estranho, talvez um pouquinho aqui e ali dê certo, mas décadas usando não dá certo. Não tenho medo do espelho porque gosto da pessoa que sou, me sinto relevante, quero ajudar os outros ainda por muito tempo. Usaria alguns recursos de beleza se tivesse dinheiro para tal, mas por mim, e não pelos outros.
Então, se você só se preocupa com sua idade civil, pena. Vai ser dolorido cada aniversário feito, cada nova ruga e cada vez que te chamarem de tia na rua. Mas se você tem vivido seus dias intensamente, mesmo que aos olhos dos outros eles sejam todos iguais, então cada aniversário é uma festa, cada ruga um detalhe e ser tia ou dona será indiferente.
Eu jamais me imaginei palestrando e muito menos falando sobre minha vida. Mas aconteceu e foi muito legal. Tenho aprendido muito, conhecido novas pessoas, indo além dos limites que me impus. Cuido de meus pais idosos, não como um peso, mas um privilégio. Assistindo ao fechamento de um ciclo, exercitando meu lado mais humano para que os dias deles também façam sentido.
Envelhecer não te destrói como pessoa. Por mais que traga novos problemas, envelhecer é uma etapa da vida que apenas os que ficam vivos experimentam.