O envelhecimento chegou de maneira precoce na vida da professora Marta Pessoa, 64 anos. Há 22 anos, ela abriu mão dos planos profissionais e estabeleceu outra rotina para cuidar dos pais e da babá idosa: a distância. A experiência faz parte do livro “É Tempo de Cuidar – Eles Envelheceram: E Agora?”, da editora Batel, lançado em 2017.
Nele, Marta conta seus desafios no cuidado a idosos, sobretudo em uma época onde a profissão de cuidador ainda não era regulamentada e as informações sobre o assunto, quase inexistentes. A ex-professora da Universidade Federal de Paraíba (UFPB) e hoje diretora da Rede Nacional de Ensino e Pesquisa fala também sobre como a tecnologia pode contribuir para a construção de uma cultura de cuidado e respeito.
Confira, a seguir, os principais trechos da entrevista ao Instituto de Longevidade Mongeral Aegon.
Há 22 anos, você cuidou de idosos em uma época que o assunto não era difundido como hoje. Como foi essa experiência?
Eu era professora do departamento de informática na UFPB e, na época, morava em João Pessoa, na mesma cidade que meus pais. Depois, me mudei para o Rio de Janeiro para fazer doutorado e vivia a minha rotina pessoal e de trabalho. Do dia para a noite, meu pai teve um AVC. Foi quando precisei me preparar para tomar conta dele com a ajuda da minha babá, Neném, que sempre esteve presente em nossas vidas. Eu deixei de ser filha única e passei a ser cuidadora única.
Como você conseguiu conciliar a sua rotina com os cuidados a seu pai?
Durante esse tempo, eu tive que aprender como cuidar de idosos – e em um grau de complexidade muito alto, porque eu morava longe deles. A minha rotina mudou muito e eu precisei abrir mão dela, assim como de um intercâmbio do doutorado.
Na época, eu poderia ter trazido eles para morar comigo, mas os médicos me alertaram que tirar o idoso do lugar onde vive poderia gerar um impacto devastador. E, principalmente, porque eu estava em um momento que viajava com frequência devido ao trabalho. Ou seja, eles iriam ter que passar por diversas adaptações. Como não podia também largar meu emprego e voltar a morar em João Pessoa, precisei aprender a tomar conta a distância.
Como conseguiu driblar essa distância?
Não é fácil tomar conta de idoso e a distância é mais difícil ainda. Mas é possível. Eu tive a capacidade de formar uma rede de apoio, com médicos, outros profissionais de saúde e cuidadores. Eu tentava sempre fazer deles aliados. Eles também se comoveram muito com a história.
Após a morte de meu pai, tive que cuidar da minha babá. Eu quis trazê-la para morar comigo no Rio, mas ela quis ficar na casa dos meus pais em João Pessoa. Mais uma vez precisei cuidar a distância.
Você tinha alguma experiência com seu pai. Os desafios foram os mesmos ou você sentiu diferença?
A grande dureza naquela época era não ter nenhuma informação. Não tinha internet para se informar como hoje – e poucas pessoas cuidam de idosos. Foi um período de muita solidão e desinformação. Quando a Neném foi ficando mais velha, próximo aos 80 anos, ela sofreu uma queda e precisou fazer uma cirurgia e receber cuidados 24 horas. Foi quando decidi que ela deveria vir morar comigo.
Mas também foi uma época que descobri que estava com câncer. Tive medo de trazê-la e, na hipótese de eu morrer, ela ficar em um lugar que não conhecia, sem parentes, analfabeta e idosa. Então, eu a convenci a viver em um apartamento em que moravam duas primas. Eu me senti mais segura e apoiada.
Você buscou informações. De onde e por quem chegavam?
As únicas pessoas que mais me orientaram eram os geriatras. Era apenas com um ponto de vista: o da saúde. Mas, sem essa rede de apoio, não seria possível cuidar a distância.
O Brasil está envelhecendo mais rapidamente comparado a outros países. Afirma-se que, em 2050, o número de pessoas acima dos 60 anos terá triplicado. Logo, a pauta sobre o cuidado do idoso vem sendo mais debatida. No entanto, você acha que estamos preparados ou ainda faltam mais recursos para a construção de um envelhecimento com cuidado e respeito?
Nos últimos 25 anos, a gente começou a entender a pauta do envelhecimento populacional. O Brasil está envelhecendo rapidamente e, agora, as pessoas falam mais das demandas desse público. Há várias formas de falar da velhice, inclusive, de que são pessoas que fazem exercício, que cuidam da saúde. É a mensagem boa passada para a nova geração: “se cuide, para ser um velho igual a mim”. Mas tem essa parcela da população que já perdeu autonomia e precisa da família por perto e do apoio governamental.
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Outra coisa que vejo melhorando é a relação com o mercado e esse público. Há serviços e produtos com maior frequência para atender a essa demanda. Hoje, a inovação e os recursos tecnológicos de apoio ao idoso de alta dependência estão mais avançados.
De que forma a internet e os recursos tecnológicos podem contribuir para essa rede de cuidado?
Com os gastos com passagens e o desgaste do deslocamento, eu comecei a pensar em um robô de telepresença. Eu me inspirei no robozinho do Sheldon, da série The Big Bang Theory. Graças à tecnologia, comecei a participar remotamente de consultas médicas com Neném. Por meio dele, posso conversar com ela, almoçar e passear. Sem o robô, eu estaria muito mais distante. Claro, os robôs não devem ser pensados como um meio de substituir a presença, mas sim como uma forma de garantir presença virtual nos casos em que a distância geográfica é um obstáculo à presença real.