“Foi assustador, eu parecia uma adolescente e nem a maquiagem conseguia esconder as espinhas”, lembra a advogada Ana Paula Souza, 40 anos, mãe de trigêmeas e diagnosticada com síndrome do ovário policístico. “Fiquei com a autoestima no chão, fiz home office para evitar as pessoas e fui deprimindo. Só agora, meses depois, voltei a sair.”
A acne em adultos é comum, especialmente entre mulheres entre 25 e 40 anos. Estima-se que mais de 16 milhões de brasileiras sofram com o problema, sendo que a proporção é de 4 pacientes do sexo feminino para 1 do masculino, segundo o dermatologista Marco Rocha, da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp).
Mas esse número pode ser ainda maior, sinaliza o especialista do ambulatório de cosmiatria (tratamento e prevenção de problemas estéticos na pele). “Há um grande número de novas publicações nas quais autores de diversos países concluem que existe um grande aumento da procura por cuidados e tratamento nessa faixa etária”, sinaliza.
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"Além de afetar negativamente a autoestima das mulheres, impactando até mesmo na rotina de trabalho, a prevalência da acne da mulher adulta vem aumentando", corrobora a também dermatologista Ediléia Bagatin, professora da Unifesp.
Ao contrário da acne em adultos do sexo masculino, até hoje menos estudada por sua baixa prevalência, vários trabalhos tentam explicar as causas da acne na mulher adulta. “Destacam-se aqueles que o correlacionam a mudanças ocorridas na vida atual da mulher, como a entrada no mercado de trabalho e a jornada multitarefas, com prejuízo de sua qualidade de sono”, pontua Rocha.
Características da acne em adultos
Um estudo conduzido recentemente por ele ajudou a esclarecer um dos aspectos da AMA (Acne da Mulher Adulta). Após acompanhar um grupo de mulheres entre 26 anos e 44 anos, o dermatologista chegou à conclusão de que a acne, nesse perfil de pacientes, está associada a uma alteração genética que mantém a reação inflamatória da pele.
"As glândulas sebáceas presentes na pele possuem receptores que podem se ligar a determinados micro-organismos. Em mulheres adultas com acne, há maior expressividade desses receptores que, ao se ligarem à bactéria Cutibacterium acnes, comum na pele de toda a população, resultam em um tipo de acne com características mais inflamatórias, com pápulas avermelhadas e dolorosas", concluiu.
O mesmo estudo também apontou como a acne afeta o estado emocional dessas mulheres, levando a depressão e transtornos de ansiedade, independentemente da gravidade do quadro. "Não se trata somente de uma doença de pele, mas de uma paciente que tem a sua vida totalmente afetada pela condição", afirma Rocha.
Outro ponto que diferencia da acne da adolescência, que se manifesta na "zona T" do rosto (testa, região superior das bochechas e nariz), é que as lesões na mulher adulta estão distribuídas mais frequentemente na "zona U", composta pela mandíbula, queixo e pescoço. Já a dos homens tem como característica lesões inflamatórias na face e no dorso, além de uma pele com seborreia intensa.
Tratamentos para acne em adultos
Alguns hábitos de vida, como consumo excessivo de alimentos com alta carga glicêmica e certos laticínios, a obesidade, o estresse, o tabagismo e a exposição excessiva ao sol estão entre as causas e os fatores agravantes para a acne na mulher adulta, segundo os especialistas.
Além disso, lembra a dermatologista, "é preciso investigar ainda se o quadro está relacionado com alterações hormonais ou doenças endócrinas”, como foi o caso da advogada Ana Paula.
A boa notícia é que é possível tratar a doença, e o caminho pode estar na combinação de terapias. O guia de conduta clínica da AMA, publicado neste ano e coordenado pela professora Ediléia, sugere a utilização de um produto tópico, como o ácido azelaico, e um anti-andrógeno sistêmico, como a pílula anticoncepcional, como ferramentas terapêuticas eficazes no tratamento.
No caso dos homens, segundo Rocha, são utilizados medicamentos tópicos, como ácido azelaico, ácido retinoico, peróxido de benzoíla, além de antibióticos orais e isotretinoína.
