A tradição trovadora está no sangue da família dos irmãos Maída Novaes, de 54 anos, e Juca Novaes, 57. Quando o avô deles conduziu o gado do Rio Grande do Sul para a cidade de Avaré, no interior de São Paulo, a cantoria nas noites na estrada, ao som do violão, era costumeira. “Os tropeiros foram os primeiros seresteiros do Brasil”, diz Maída, em entrevista especial para o primeiro ano do Instituto de Longevidade Mongeral Aegon.

Ela também percorreu um longo caminho em sua relação com a música. Na infância, por exemplo, foram dez anos de aula de piano em Avaré, onde nasceu. Na capital paulista, para onde se mudou para fazer um curso superior, dava aulas particulares de piano e violão.

Tempos, por sinal, que constituíram um hiato em sua história com as serestas. Afinal, Maída estudou jornalismo – mas também rádio e TV, formações que a levaram a ser chefe de redação na rádio Excelsior. Em 1990, porém, ela pediu demissão. “Não queria mais ser jornalista, queria mudar de vida”, conta.

Sem saber ainda que direção tomar, foi passar férias na Bahia. Quando voltou, propôs a Juca que lançassem um projeto de serenatas, como as que costumavam fazer quando mais jovens para namorados e namoradas de seus irmãos – são em oito – e amigos. Assim surgiram os Trovadores Urbanos.

As primeiras apresentações do grupo, que, na formação original, contava ainda com Valéria Caram, 54 anos, e Eduardo Santhana, 55, foram realizadas em 12 de junho de 1990, Dia dos Namorados. “Era noite de lua cheia”, lembra Maída. “Tocamos para um casal no Brooklin, depois para um delegado, que ficou chorando à janela, e para um caixa de uma pizzaria express”, recorda.

Como jornalista, Maída tinha muitos contatos. Assim, não demorou para que os Trovadores fossem entrevistados por Jô Soares em seu programa à época, “Jô Onze e Meia”, no SBT. “A partir daí, deslanchamos”, diz ela.

“Passamos por favelas e mansões, por onde se possa imaginar”

E como. O negócio – sim, negócio: os Trovadores Urbanos já nasceram como empresa, a MMP Produções e Eventos Ltda. Entre 1995 e 2008, colocou nas ruas paulistanas e de outras cidades do Brasil uma média de 400 a 500 serestas por mês, divididas entre equipes que somavam, no total, cerca de 50 músicos. Por oscilações da economia, nos últimos anos o número de serestas caiu para um patamar entre 150 e 200 mensais, e o grupo ficou reduzido a 40.

Porém, a “franquia” foi muito além das serenatas. Entre shows, CDs e DVDs, o grupo criou um projeto de serenatas infantis, os Trovadores Mirins, que começou suas atividades em 1995; e o Instituto Trovadores, em 2010, que promove aulas de expressão corporal e música para crianças carentes em três escolas públicas, duas em Cidade Ademar (zona sul de São Paulo) e uma no município de Cajamar. Os alunos – 50 de cada escola, em média – também são levados pelo instituto para assistir a espetáculos culturais.

Os quatro fundadores, hoje, dedicam-se mais aos shows e a projetos especiais, como a Seresta de Sexta, realizada toda semana na sede dos Trovadores, no bairro de Perdizes, e o Música e Meditação no Escuro, que combina cantoria e meditação no Armazém da Cidade, em Pinheiros, ambos na zona oeste paulistana.

Se hoje o “núcleo duro” fica mais nos bastidores da empreitada, ao longo desses 27 anos o quarteto colecionou histórias curiosas e divertidas. Juca Novaes, que sempre tocou em paralelo a carreira de advogado, lista algumas delas.

“Fizemos serenatas em motel, dentro da cadeia, em táxi, na inauguração de um cemitério”, enumera. “Cantamos até enquanto uma pessoa jogava as cinzas de alguém que havia morrido ao mar, no litoral norte de São Paulo. Passamos por favelas e mansões, por onde se possa imaginar.”

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