Pense em novas tecnologias que foram incorporadas ao seu dia a dia nos últimos tempos: aplicativos, eletrônicos, peças e equipamentos impressos em 3D. Se essa revolução caminha em todas as esferas da vida, como relações pessoais e trabalho, também se aplica a produtos e serviços elaborados para pessoas com diabetes.
“Já existem estudos avançados com análogos do GLP-1 – as injeções que emagrecem – na forma de comprimidos. O desenvolvimento de insulina em cápsulas também é pesquisado. Tudo isso na esperança de poupar a pessoa do inconveniente das picadas”, adianta a endocrinologista Anelize Cardoso Terra, do Hospital HSANP.
“Além das novas terapias em estudo, há bombas de insulina, atualizações em monitoramento, terapia celular e novidades em sensores de glicose e hipoglicemia”, lista a gerente médica da BenCorp e ClubSaúde, Eugenia Maria Amoêdo Amaral. Ela explica que as novas tecnologias passam também pelo uso de telemedicina e de aplicativos e softwares.
Novas tecnologias em aplicação de insulina
Algumas pessoas com diabetes tipo 2 podem requerer, no tratamento, injeções. “Nesse caso, temos algumas tecnologias que tornam o tratamento mais eficaz e prático, como as canetas inteligentes de aplicação de insulina, com contagem de CHO [carboidratos] e aplicação de meia unidade”, adianta Juliana Souza, educadora em diabetes e palestrante, explicando que ainda não são comercializadas no Brasil.
As bombas de insulina também evoluíram bastante nos últimos anos, segundo a educadora. No Brasil, a Performa Combo, da Roche, tem um controle remoto que calcula a dose de hormônio de acordo com a contagem de carboidratos e o fator de sensibilidade à insulina de cada paciente.
Da Medtronic, há o MiniMed 640G, um dispositivo que colabora no controle glicêmico. Tem conexão sem fio ao sensor e gráfico de glicemia contínuo mostrado na própria bomba. Caso o paciente se aproxime da hipoglicemia (queda de açúcar no sangue), o sistema provoca a suspensão automática de insulina basal. O retorno da administração é feito assim que a taxa volta aos valores normais e é segura ao paciente.
No exterior, mas ainda indisponível para venda no país, é possível encontrar também o MiniMed 670G. “Além de suspensão de infusão de insulina, ele calcula e altera o perfil basal de acordo com as glicemias medidas e transmitidas pelo sensor”, explica Souza.
A empresa lançou no Brasil, no ano passado, o i-Port Advance®, que faz a administração direta de fármacos, dispensando injeções e reduzindo o número de perfurações cutâneas de várias vezes por dia a uma vez a cada três dias. Do tamanho de uma moeda, o dispositivo fixa uma cânula sob a pele com um adesivo.
Um dos equipamentos que também não desembarcou em terras brasileira é o Control-IQ, liberado nos EUA, que tem sido chamado de pâncreas artificial. “É um aparelho que aplica insulina continuamente e se comunica com um sensor de monitoramento contínuo da glicose. A vantagem é que ele varia a dose aplicada de modo automático, de acordo com a glicemia do paciente naquele momento”, informa a endocrinologista.
Novas tecnologias em verificação de glicemia
A verificação da glicemia é necessária para o bom controle de qualquer tipo de diabetes. “A tecnologia inovou e facilitou muito, já que são necessários 4 e até 10 ou mais testes diários”, diz Souza.
O sensor contínuo de glicemia FreeStyleLibre verifica a glicose 24h por dia, por duas semanas. Basta colocar o sensor – um dispositivo do tamanho de uma moeda – na pele, por meio de um aplicador. “E o melhor: é resistente à água e pode ser lido por um aplicativo do smartphone. Com ele, a pessoa percebe o impacto que cada alimento tem na sua glicemia, quais pioram e quais são bons para o controle do diabetes”, avalia Terra.
Quem usa o sistema pode ter acesso a uma ferramenta digital gratuita, a LibreLinkUp, que permite que pais, familiares, amigos e cuidadores recebam remotamente as leituras de glicose. Basta instalar o app e fazer o convite. Cada medição é enviada para até 20 conexões da pessoa com diabetes.
Vale lembrar que os próprios sensores das bombas de insulina mostram o valor da glicemia no visor. Além disso, acrescenta Souza, “muitas inovações estão em estudo no exterior e também em startups no Brasil, como adesivos que verificam a glicemia, pequenos, finos e indolores, que podem ser lidos com um aplicativo no celular”.
Novas tecnologias em medicamentos
“Muito promissoras, as glifozinas são comprimidos popularmente conhecidos por eliminarem glicose na urina. Além de controlarem a glicemia, protegem os rins e diminuem a morte por doença cardíaca em 30%”, afirma a médica. Vale lembrar que o tratamento é determinado por um especialista, que analisa individualmente a necessidade da pessoa.
Terra acrescenta que, para quem tem obesidade e diabetes, há medicamentos injetáveis. “Chamados análogos do GLP1, podem ser aplicados no subcutâneo, pelo próprio paciente. As aplicações podem ser diárias e alguns necessitam de apenas uma dose na semana”, explica. A grande vantagem, segundo a especialista, é que “ajudam muito na perda de peso, um problema comum para a maioria das pessoas com diabetes tipo 2”.
No ano passado, a Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) aprovou a comercialização da insulina inalável. Vendida em pó, pode ser usada meio de um inalador. A substância vai ao pulmão e é absorvida pela corrente sanguínea, para reduzir os níveis de glicemia.
Também foi liberada para comercialização, em 2019, a insulina ultrarrápida. Ela permite que a pessoa “faça a aplicação na hora exata da refeição ou até 20 minutos após seu início, garantido melhores glicemias no período pós-prandial [após as refeições], e melhorando o controle”, segundo Souza.
Novas tecnologias em aplicativos
Os apps de monitoramento de hábitos e comportamentos “funcionam e ajudam muito”, avalia Terra. Eles vão desde os que contam passos diários, indicando aumento ou diminuição de atividade física, até os que controlam o tempo gasto no celular, “que ajudam a monitorar o tempo perdido em redes sociais”. Há também os que contam as calorias dos alimentos, permitindo fazer melhores escolhas alimentares.
Para o controle do diabetes, ele cita o APP Contagem de Carboidrato, da SBD (Sociedade Brasileira de Diabetes). Desenvolvido pelo departamento de nutrição da entidade, “ajuda a entender melhor os alimentos e o impacto que podem gerar na glicemia”.
Além dele, a médica cita o app Glic, “principalmente para diabetes tipo 1, que ajuda na visualização das glicemias ao longo dos dias, por meio de gráficos. Também permite um cálculo da dose de insulina de cada refeição, baseada na prescrição médica de cada pessoa”.
“O importante é as pessoas se manterem dentro dos limites padronizados pelos seus médicos, a fim de evitar complicações e poder usufruir de toda tecnologia que virá no futuro, com saúde e qualidade de vida”, orienta Souza.
A palestrante sabe do que fala: tem diabetes há 26 anos. “Usei insulina suína, aplicada com seringa no início do diagnóstico, fazendo testes com tiras de urina, e hoje utilizo bomba com sensor, com suspensão automática no caso de hipoglicemia”. E finaliza: “Que venham as tecnologias, mas a educação em diabetes é a base de todo o tratamento”.