A TeleHelp presta assistência a distância a pessoas mais velhas, avisando parentes ou amigos em caso de queda ou outro tipo de acidente doméstico, por exemplo. A emergência é sinalizada para uma central 24 horas pelo acionamento de um botão. É feita também uma ronda telefônica semanal de acompanhamento dos idosos.
Há cerca de um ano, José Carlos Vasconcellos, 49, sócio da empresa, começou a perceber que atendentes com mais experiência de vida, em geral, têm mais paciência para lidar com o público de idade mais avançada e ouvir o que ele tem a dizer.
“Nossos clientes gostam de falar, muitas vezes são pessoas muito sozinhas”, afirma Vasconcellos. “Operadores mais velhos costumam ter mais sensibilidade, calma e bom senso para lidar com elas.”
Assim, nos últimos dez meses, o sócio aproveitou a rotatividade natural no setor de teleatendimento para contratar mais funcionários na faixa dos 45 aos 60 anos. “Trocamos cerca de 20 empregados de um total de 70”, dimensiona. Os processos de substituição são conduzidos pela gerente de recursos humanos, Karine Meneguim.
Vasconcellos admite que, antes dessas trocas, ele mesmo tinha ressalvas em relação a profissionais mais maduros. “Às vezes entrevistava um candidato de 38 anos e achava que precisava de alguém mais jovem”, lembra.
“Eu temia perder produtividade no uso do nosso software, mas o que aconteceu, na verdade, é que ganhei na qualidade do tratamento com o cliente ao empregar funcionários mais velhos.”
“A agilidade das mais jovens com o sistema da empresa é diferente da minha, mas compenso isso com qualidade no atendimento”
Susi Donio Brandes, de 54 anos, faz parte dessa nova leva de sêniores que adentraram a TeleHelp – chegou à empresa faz três meses. Formada em marketing, esteve fora do mercado de trabalho por conta da casa e dos filhos – “um menino que está com 30 anos e uma menina de 28”, em suas palavras –, mas decidiu voltar por conta da crise financeira, uma vez que seu marido, que era funcionário da Sabesp, se aposentou.
“Trabalhei durante cinco anos no atendimento da CPFL [Companhia Paulista de Força e Luz], então aprendi a lidar com pessoas em situação de emergência sem entrar em pânico”, conta. Em sua opinião, vivências como essa são o seu diferencial na realização das atuais tarefas cotidianas.
“A minha voz é diferente, os clientes sentem uma firmeza maior, uma postura mais confortável”, afirma. “A agilidade das mais jovens com o sistema da empresa é diferente da minha, mas compenso isso com qualidade no atendimento.”
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Na vida pessoal, ela ganhou cancha como cuidadora dos pais, que ficaram doentes e acabaram morrendo na mesma época, há sete anos. Na TeleHelp, Susi integra uma equipe com mais quatro mulheres, todas mais jovens que ela – duas na faixa dos 20 anos. “Eu me sinto meio mãezona”, diz. “Quando uma das meninas vai viajar, peço pra ter juízo”, exemplifica. “Também dou conselhos sobre casamento. Só me sinto meio por fora quando elas começam a falar de grupos de música que não conheço.”
O convívio com as mais novas também é fonte de aprendizado para Susi. “Vejo vidas muito diferentes da minha e passo a valorizar mais os esforços dessas meninas, que muitas vezes moram longe do trabalho e ainda estudam”, afirma.
O emprego tem sido ainda uma espécie de fonte de juventude para outros eventuais recomeços. “Eu achava que, com a minha idade, não tinha tempo para mais nada”, diz. “Meu momento agora é de arregaçar as mangas e partir para a vida. Penso inclusive em voltar a estudar e fazer uma faculdade de eventos.”
Uma das “filhas” da “mãezona” na TeleHelp é Thaiane Ferreira da Silva, de 20 anos, que estuda para ser auxiliar de enfermagem e está na empresa há três meses. “Aprendo com a maturidade da Susi, sobretudo quando ela me dá conselhos para a vida pessoal, especialmente em relação ao casamento que planejo para daqui a dois ou três anos”, conta. “Em contrapartida, passo para ela orientações no que diz respeito ao uso do computador.”
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