“Qualificação, qualificação e qualificação.” Nas palavras de Ana Amélia Camarano, pesquisadora do Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada) e coordenadora de Estudos e Pesquisas de Igualdade de Gênero, Raça e Gerações da Diretoria de Estudos e Políticas Sociais (Disoc), essa é a única saída para combater a redução da empregabilidade dos 50+ no Brasil.

Em 2019, em parceria com a também pesquisadora Daniele Fernandes e a doutora em saúde pública Solange Kanso, publicou o artigo “Saída precoce do mercado de trabalho: aposentadoria ou discriminação?”.

No texto, as especialistas discorrem sobre as razões que levam ao aumento do desemprego entre os homens de idades que variam dos 50 aos 64 anos no país. O percentual desses desempregados passou de 4,3% em 1992 para 6,7% em 2017, isso a despeito de um aumento da expectativa de vida do público masculino em 5,4 anos nesse mesmo ano de 2017.

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O recorte do artigo em termos de sexo e faixa etária se justifica por ser essa parcela da população a afetada em primeiro lugar pela Reforma da Previdência.

Os nem-nem: preconceito afeta a empregabilidade sênior 

Um dos temas levantados pelas autoras na publicação se refere ao preconceito que a mão de obra brasileira mais velha encontra no mercado de trabalho. É a realidade que os números sugerem.

Entre 1984 e 2015, por exemplo, o percentual de homens de 50 a 64 anos que não trabalhavam tampouco eram aposentados, o chamado grupo dos nem-nem (nem uma coisa nem outra), saltou de 3,5% para 8,2%.

As pesquisadoras dizem acreditar que esse crescimento indica a discriminação em relação ao trabalhador mais velho, além da falta de políticas públicas que reforcem sua capacidade para conseguir um novo trabalho.

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Por sua vez, o percentual de aposentados que não trabalham entre os homens de 50 e 64 anos foi de 15,8% em 2017. Essa parcela diminuiu entre os homens de 50 a 59 anos e apresentou ligeiro aumento entre os de 60 a 64. Esses números, segundo as autoras, sugerem um adiamento da saída do mercado de trabalho ou maiores dificuldades em se aposentar.

Os dados apresentados mostram também que a discriminação se acentua de acordo com determinadas características dos indivíduos. E, aqui, percebe-se que, em 25 anos, negros e pardos perderam espaço no mercado.

Em 1992, a maioria dos nem-nem era constituída por brancos (57,6%). Em 2017, passou a ser representada por pardos e negros (64,1%), lembrando que essa mudança pode ser parcialmente explicada por um aumento da precisão na declaração de cor durante o período analisado.

Saúde também mexe com a empregabilidade dos 50+

Outra variável estudada para entender a redução da empregabilidade dos 50+ no Brasil é a da saúde. O artigo das pesquisadoras aponta para uma elevação do percentual dos nem-nem entre 50 e 59 anos que relataram alguma dificuldade para exercer atividades básicas da vida diária.

Elas assumem que as condições de saúde têm de fato um impacto importante na permanência dos indivíduos de idade mais avançada em atividades econômicas produtivas.

De maneira geral, segundo elas, os principais problemas que atingem os trabalhadores são relacionados a patologias em músculos e ossos e aos transtornos mentais, em especial a depressão.

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Chegamos, então, a um ponto fundamental dessa análise: o da escolaridade. Conforme ela aumenta, menores são as chances de o homem se tornar alguém que nem trabalha nem se aposentou. Aqueles que possuem nível superior completo, por exemplo, têm 53% menos chances de ser um nem-nem. Por outro lado, ter o fundamental completo ou médio incompleto reduz essa chance em um percentual bem inferior: 2%.

Como combater o problema da empregabilidade?

Diante do cenário apresentado, o portal do Instituto de Longevidade MAG conversou com a pesquisadora Ana Amélia Camarano sobre possíveis soluções para aumentar a empregabilidade dos 50+ no Brasil. Confira:

Os números indicam que os homens estão saindo um pouco mais tarde do mercado de trabalho. A que isso se deve?

Há muitos casos em que eles precisam continuar trabalhando, mesmo aposentados, para a complementação da renda da aposentadoria.

Mas existem também os altamente qualificados que não querem sair do mercado pelo custo da oportunidade. Considere, por exemplo, um médico ou advogado que atinge o ápice da carreira na maturidade. Nesses campos de atuação, muitas vezes a idade conta a favor do profissional, que inclusive ganha muito bem quando está mais velho.

Mas sabemos que essa não é a realidade da maioria, certo?

Sim. Entre os homens brasileiros, 75% não têm nem o ensino fundamental completo. Quando esses indivíduos perdem o emprego em idade mais avançada, fica muito mais difícil conseguirem outra colocação.

“O Estado deveria oferecer algum incentivo para as empresas darem oportunidades para os trabalhadores mais velhos”

E os negros e pobres acabam sendo mais numerosos entre os menos qualificados, o que é um retrato da condição social brasileira, que impõe a esses indivíduos uma situação de marginalização.

Qual seria o caminho para aumentar a empregabilidade dos 50+ no Brasil?

Só há uma saída: qualificação, qualificação e qualificação. E, nesses termos, a responsabilidade é tanto do poder público quanto do setor privado.

É possível, por exemplo, fazer acordos com o sistema S [Senai, Sesi, Sebrae, Sesc, entre outros] para o treinamento desse pessoal. Pode-se também fomentar o empreendedorismo entre esse contingente.

O Estado deveria oferecer algum incentivo para as empresas darem oportunidades para os trabalhadores mais velhos e financiar cursos de qualificação para eles.

Podem ainda ser empregados com cargas horárias mais flexíveis. E precisam ser capacitados para acompanhar as mudanças tecnológicas e, com isso, ter mais condições de permanecer no mercado de trabalho.


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