O novo coronavírus não está afetando somente a saúde da população mundial, mas também o seu bolso. Apesar do vírus ter entrado recentemente no Brasil, a economia brasileira já começa a dar sinais de que está enfraquecendo e, de acordo com especialistas, a situação pode piorar.
Para o economista e analista de dados Yuri Sampaio, já podemos ver os primeiros efeitos financeiros provocados pelo vírus. “De um modo geral, ao seguir as recomendações de especialistas e autoridades da saúde, as pessoas tendem a evitar o contato físico. Isso implica em ir menos às compras, ou mesmo não trabalhar”, afirma.
O que significa que as transações em diversos setores, principalmente varejo e serviços, vão diminuir, pois haverá menos dinheiro circulando. “Vários lugares no mundo já estão parando”, explica Sampaio. Inclusive grandes empresas, como a fábrica da Hyunday na Coréia do Sul, que deu férias coletivas aos funcionários.
Impactos do coronavírus na economia brasileira
De acordo com o analista, a economia brasileira poderá ser afetada principalmente de duas formas: do ponto de vista local e em um cenário mais macro, envolvendo outros países.
Localmente falando, poderemos ver o número de vendas caindo de maneira acentuada em um curto prazo por causa das medidas de segurança adotadas em função do coronavírus. “Num cenário em que isso se estenda por um mês ou mais, veremos empresas tendo dificuldades com seu fluxo de caixa e para honrar empréstimos e financiamentos”, afirma Sampaio.
Isso significa que, por ter menos dinheiro entrando, as empresas terão mais dificuldade para pagar contas e quitar dívidas. Dessa forma, o índice de inadimplência vai aumentar. Com o aumento do risco de inadimplência, os bancos precisarão se proteger, então poderão cobrar taxas de juros mais altas dos devedores. E isso poderá afetar tanto pessoas físicas, quanto jurídicas.
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“Num plano mais macro, vemos o Banco Central tendo muitas dificuldades em estabilizar o câmbio. Nossas exportações tendem a cair, tanto pelo risco de contágio, quanto pela queda de atividades em países parceiros”, aponta.
Muitos países que são parceiros comerciais do Brasil, como China e Estados Unidos, já estão com as fronteiras fechadas por causa do risco de infecção. Com isso, as exportações de produtos brasileiros sofrerão uma queda drástica, pois terão menos compradores fora do país.
As importações também serão impactadas e, por conseguinte, a produção local. De acordo com o analista, muitos equipamentos usados aqui são adquiridos de outros países e isso se tornará inviável com o fechamento das fronteiras. “Um determinado maquinário pode melhorar nossa produção aqui no Brasil. Sem ele, nossa produtividade, que já é comprometida, diminui também”, explica.
Serviços que serão mais impactados
“Num primeiro momento, sem dúvida, a indústria do turismo vai sofrer um baque inicial maior”, afirma Sampaio. Muitas companhias aéreas e serviços de hospedagem já estão precisando lidar com o cancelamento de voos e estadias. Algumas dessas empresas também estão oferecendo descontos agressivos aos clientes, na tentativa de alavancar as vendas.
“Mas esse impacto não vai ficar só nesses setores”, adverte o analista. “Vamos potencialmente ver uma diminuição drástica em todos os setores à medida em que o medo do contágio se espalha”.
Um exemplo é o atendimento direto ao público, que sofrerá uma redução do fluxo presencial de clientes. Outra setor que poderá sofrer impacto é o de consultas médicas menos emergenciais, como uma visita de rotina ao oftalmologista.
Crédito: Andrew Angelov / Shutterstock
No entanto, em situação oposta, é possível que os setores de alimentação e medicamentos tenham um excesso de demanda, já que são produtos de uso básico. “Podem até sofrer uma dificuldade no abastecimento, mas, se não houver medidas drásticas, podem se normalizar”.
Um setor que pode ajudar a minimizar os impactos da pandemia em pequenas e médias empresas é o de aplicativos de delivery (entregas em casa). Com eles, muitas pessoas poderão pedir seus produtos e pagar online, diminuindo o número de pessoas nas ruas e mantendo a circulação de dinheiro.
O coronavírus pode levar a uma recessão global?
Apesar de todas as implicações do coronavírus na economia brasileira, Sampaio afirma que a crise financeira em que nos encontramos não é de agora. “A economia global já enfrentava uma fragilidade há alguns anos, desde 2008”, explica. “É como se o coronavírus fosse um alfinete estourando uma bolha que já existe, expondo a fragilidade da nossa economia”.
A crise mundial que estourou em 2008 levou vários bancos à falência. Por isso, os bancos centrais de todo o mundo precisaram imprimir dinheiro para estimular o reaquecimento das atividades econômicas. Mesmo assim, os países não conseguiram se reerguer completamente. “Vimos que a maior parte do mundo ‘andou de lado’, ou seja, não cresceu de forma significativa”.
Desde então, o grau de incerteza é significativo. “O impacto em escala global é muito grande, por isso talvez entremos em um período de recessão similar ao de 2009”, afirma.
No entanto, o Brasil ainda é um país periférico em relação ao mundo. Por ser ainda ser mais fechado, o analista acredita que, mesmo que enfrentemos uma crise, será menos severa do que nos Estados Unidos, na Europa ou na Ásia.
Mesmo assim, é preciso ficar atento, recomenda o especialista. Independentemente do coronavírus, a economia brasileira ainda enfrenta graves problemas estruturais, ou seja, aqueles de longo prazo. A doença, como um problema conjuntural, pode ajudar a potencializar aqueles que já existiam.
Como diminuir os impactos econômicos do coronavírus em sua vida
“É sempre importante, principalmente em tempos de crise, ter liquidez. Ou seja, ter um dinheiro em caixa para emergências”, sugere o analista. Assim, se possível, é importante separar um determinado valor para as despesas cotidianas, mas também ter algo reservado em caso de necessidade para garantir sua longevidade financeira.
“É muito difícil prever os próximos acontecimentos em cenários extremos, como este, mas para aqueles que estão investindo a longo prazo, pode ser um ótimo momento para se planejar e estudar ativos com fundamentos mais sólidos”, comenta. Nunca se esqueça, no entanto de pensar bem se esse dinheiro fará falta no futuro.
E para quem pensa em investimentos a curto prazo, Sampaio recomenda evitar operações elaboradas e promessas de retornos extraordinários. “Tenha ativos líquidos e com capacidade de manter seu valor estável no tempo”.
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