O começo de ano traz uma série de compromissos financeiros. Pagamento do IPTU, IPVA e material escolar são apenas alguns exemplos. Uma dúvida comum entre os consumidores é se vale mais a pena pagar as despesas de início de ano à vista ou optar pelo parcelamento.

Embora o pagamento à vista ofereça descontos atraentes, o parcelamento pode ser vantajoso em alguns momentos. Isso é válido principalmente se o contribuinte investir o dinheiro em uma aplicação financeira. Entenda as vantagens de cada opção e como a alta dos juros pode influenciar sua decisão.

Quando pagar as despesas de início de ano à vista pode ser mais vantajoso?

Em muitos estados, o pagamento do IPVA e do IPTU oferece desconto significativo para quem quita o valor à vista. Por exemplo, no IPVA 2025, São Paulo, Rio de Janeiro e Minas Gerais oferecem até 3% de desconto para quem optar por pagar o imposto de uma vez. Isso pode parecer tentador, mas, segundo o professor Eduardo Picanço, do Departamento de Administração e Empreendedorismo da UFF (Universidade Federal Fluminense), é importante avaliar a taxa de juros envolvida.

“Se a pessoa tem o dinheiro para pagar a dívida à vista, ela deve considerar a taxa de juros mensal do parcelamento. Caso consiga direcionar o dinheiro que usaria para pagar a dívida à vista em alguma aplicação no mercado que renda mais do que a taxa de juros, compensa parcelar”, afirma Picanço em entrevista à Folha.

A quitação à vista, portanto, torna-se mais vantajosa quando o rendimento do investimento for inferior à taxa de juros do parcelamento. A seguir, veja um comparativo entre o pagamento à vista e o parcelamento do IPVA 2025.

IPVA 2025

Estado
Desconto à Vista (%)
Parcelamento Disponível
São Paulo
3%
Em até cinco vezes
Rio de Janeiro
3%
Em até três vezes
Minas Gerais
3%
Em até três vezes

É possível investir o dinheiro economizado?

Se a pessoa optar pelo pagamento à vista e investir o valor economizado no desconto, pode obter um retorno significativo. Cíntia Senna, educadora financeira e sócia-executiva da Dsop, elaborou um cálculo simples para ilustrar esse cenário.

Considerando um valor hipotético de R$ 1.000 para o IPVA, com um desconto de 3%, o contribuinte poderia investir os R$ 30 de desconto em uma aplicação que paga 100% da Selic (atualmente 12,25% ao ano). Ao final de cinco meses, o retorno seria de R$ 1,48, totalizando R$ 31,48. Veja a tabela a seguir.

Retorno do Desconto do IPVA

Parcela do IPVA
Saldo Inicial (R$)
Juros (R$)*
Saldo Corrigido (R$)
1
30,00
0,29
30,29
2
30,29
0,29
30,58
3
30,58
0,30
30,88
4
30,88
0,30
31,18
5
31,18
0,30
31,48

*Considerando um rendimento de 0,98% ao mês na aplicação que paga 100% da Selic

Quando o parcelamento se torna a melhor opção?

No entanto, a opção pelo parcelamento também pode ser vantajosa em determinadas situações. Especialmente se o contribuinte optar por investir o dinheiro economizado nas parcelas. Neste caso, ele pode utilizar o valor das parcelas para investir em aplicações financeiras.

Cíntia Senna aponta que, quanto maior o prazo para o pagamento, mais vantajosa se torna a modalidade a prazo. "Quando eu tenho um prazo maior, de dez meses, o retorno é maior do que a aplicação do desconto à vista. Quanto mais tempo eu tenho para pagar algo, melhor será a vantagem de utilizar a modalidade a prazo em detrimento da à vista", explica em entrevista à Folha.

IPVA Parcelado e Aplicado

Parcela IPVA

Saldo Inicial (R$)

Prestação IPVA (R$)

Saldo Após Pagar a Prestação (R$)

Juros (R$)*

Saldo Corrigido (R$)

1
1.000,00
200,00
800,00
7,74
807,74
2
807,74
200,00
607,74
5,88
613,62
3
613,62
200,00
413,62
4,00
417,62
4
417,62
200,00
217,62
2,11
219,73
5
219,73
200,00
19,73
0,19
19,92

*Considerando um rendimento de 0,98% ao mês na aplicação que paga 100% da Selic

Ao final do parcelamento, o saldo total será de R$ 19,92. Como o prazo é curto, a quitação à vista pode ser mais vantajosa no caso do IPVA, mas o parcelamento se torna mais interessante em um cenário de maior prazo, como o do IPTU.

Mãos de uma pessoa em uma calculadora e em um computador, fazendo contas para decidir de vale a pena pagar as despesas de início de ano à vista. Crédito: fizkes/Shutterstock

E com relação ao IPTU?

Na hora de pensar se pagar as despesas de início de ano à vista vale a pena, o mesmo cálculo serve para o IPTU 2025 dos municípios que oferecerem desconto. Confira na tabela abaixo.

IPTU 2025

Estado

Desconto à Vista (%)

Parcelamento Disponível

São Paulo
3%
Em até dez vezes
Rio de Janeiro
7%
Em até dez vezes
Belo Horizonte
5%
Em até onze vezes

Considerando um IPTU de R$ 1.000 na cidade de São Paulo, o desconto à vista também é de R$ 30. Caso o contribuinte invista os R$ 30 na mesma aplicação que rende 100% da Selic, o retorno, ao fim de dez meses (prazo das parcelas), é de R$ 3,03. O saldo final, então, é de R$ 33,03.

Parcelas do IPTU

Saldo Inicial (R$)

Juros (R$)*

Saldo Corrigido (R$)

1
30,00
0,29
30,29
2
30,29
0,29
30,58
3
30,58
0,30
30,88
4
30,88
0,30
31,18
5
31,18
0,30
31,48
6
31,48
0,30
31,78
7
31,78
0,31
32,09
8
32,09
0,31
32,40
9
32,40
0,31
32,72

*Considerando um rendimento de 0,98% ao mês na aplicação que paga 100% da Selic

No parcelamento, basta seguir a mesma lógica do IPVA. Com a primeira parcela, paga já em janeiro, descontada, o restante das prestações é aplicado na Selic. Com isso, enquanto os meses passam, o contribuinte retira o valor da parcela e mantém o saldo restante na aplicação.

Parcela IPTU

Saldo Inicial R$)

Prestação IPTU (R$)

Saldo após o pagamento parcela (R$)

Juros (R$)*

Saldo Corrigido (R$)

1
1.000,00
100,00
900,00
8,71
908,71
2
908,71
100,00
808,71
7,83
816,53
3
816,53
100,00
716,53
6,93
723,47
4
723,47
100,00
623,47
6,03
629,50
5
629,50
100,00
529,50
5,12
534,62
6
534,62
100,00
434,62
4,21
438,83
7
438,83
100,00
338,83
3,28
342,11
8
342,11
100,00
242,11
2,34
244,45
9
244,45
100,00
144,45
1,40
145,85
10
145,85
100,00
45,85
0,44
46,29

*Considerando um rendimento de 0,98% ao mês na aplicação que paga 100% da Selic

Ao final do período, o dinheiro terá rendido R$ 46,29.

E pagar as despesas de início de ano à vista quando se trata de material escolar?

As mensalidades escolares devem sofrer reajustes em 2025, conforme levantamento da consultoria Grupo Rabbit, realizado com 680 escolas particulares em todas as regiões do Brasil. Minas Gerais lidera o aumento, com uma média de 10%, seguido por São Paulo, com 9,5%, e Rio de Janeiro, com 9%.

Os preços dos materiais escolares também devem subir. A Abfiae (Associação Brasileira de Fabricantes e Importadores de Artigos Escolares) estima alta entre 5% e 9%. O aumento é influenciado pela inflação, custos de produção elevados, maior valor do frete marítimo para importação e alta do dólar.

Em alguns estabelecimentos, há a possibilidade de parcelar a compra do material escolar no cartão de crédito. "O consumidor deve analisar se o pagamento à vista oferece desconto e compará-lo ao possível rendimento de uma aplicação de renda fixa, como CDBs ou Tesouro Direto", orienta o professor Eduardo Picanço.

Picanço reforça, contudo, que os juros do rotativo do cartão de crédito são muito altos. Segundo dados do Banco Central, essa taxa passou de 438,4% ao ano em setembro de 2024 para 438,9% em outubro. Já os juros do crédito parcelado caíram de 185,8% para 178,1%. Planejar o pagamento das faturas é essencial para evitar dívidas.

Pagar as despesas de início de ano à vista vale a pena?

A decisão entre pagar as despesas de início de ano à vista ou em parcelas depende de vários fatores, como a taxa de juros, a capacidade de investimento e o tempo disponível para o pagamento. Em muitos casos, a opção mais vantajosa é pagar à vista e investir o desconto. No entanto, o parcelamento também pode ser vantajoso quando os juros são mais baixos que os do parcelamento.


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