Com o objetivo de ensinar e facilitar a abordagem de dores em pacientes com mais de 60 anos por profissionais de saúde no dia a dia dos seus consultórios, a Sociedade Brasileira de Geriatria e Gerontologia (SBGG), por meio de sua Comissão de Dor, acaba de lançar o guia “Dor: o quinto sinal vital – Abordagem prática no idoso”.
Produzido com base em uma vasta bibliografia relacionada ao tema, o guia traz ferramentas para facilitar a mensuração da intensidade de dores nos pacientes, algumas em escalas simples, como a numérica e a de faces de dor, e outras mais complexas, que abordam outros aspectos dimensionais. Segundo o presidente da Comissão de Dor da SBGG, Diogo Kallas Barcellos, são aspectos que especificam como as dores interferem no dia a dia do paciente, se causam algum sofrimento psíquico ou dispensas no trabalho, e até mesmo se existem problemas familiares devido a essas dores.
Um dos responsáveis pela produção do guia, Barcellos garante que é possível mensurar a dor de uma pessoa. “Temos inúmeros instrumentos que podem nos auxiliar nessa mensuração, principalmente para aquelas pessoas que têm dificuldade de comunicação”, explica o médico. Ele conta que pacientes com déficits sensoriais ou traços demenciais que dificultam o entendimento por parte dos profissionais são muito comuns em clínicas e consultórios. Um dos recursos utilizados para esses casos é a escala de faces de dor, na qual se avalia a expressão facial do paciente para mensurar a intensidade da dor que ele está sentindo.
Outros recursos como emissão de ruídos, gemência, agitação psicomotora, taquicardia e sudorese também são bastante utilizados há pelo menos 10 anos.
Dor: uma experiência individual e subjetiva
Até que se prove o contrário, o paciente está sempre falando a verdade. Para o presidente da Comissão de Dor, não se pode subestimar o que o paciente traz de queixa.
“Que existem ganhos secundários, seja na família ou no trabalho, ou porque o paciente tem alguma doença psiquiátrica que cause algum ganho, isso existe, mas não faz com que deixemos de acreditar e de tratar as dores do paciente”. Barcellos afirma que, em muitos casos, o paciente só precisa de um suporte psiquiátrico para melhorar sua queixa, e que, por vezes, uma insatisfação no trabalho pode gerar queixas dolorosas que causarão seu afastamento temporário.
“Existem várias formas de tratamento que não sejam somente dar remédios para dor. Contudo, é muito importante que esse trabalho que nós estamos fazendo seja exatamente para educar os profissionais de saúde”, destaca o especialista. Ele também critica o peso que o assunto tem nas grades curriculares em faculdades de saúde no Brasil: menos de uma hora e meia de carga horária durante o curso de medicina é destinado ao conhecimento e aprendizado da dor. Para Barcellos, a quantidade é insuficiente. “Nossa ideia foi exatamente começar a desmistificar, principalmente diante dos profissionais de saúde, que o paciente precisa ser melhor abordado, melhor reconhecido e melhor tratado de suas dores”, comenta.
“Muitas vezes o paciente deixa de levar essa queixa para a família para evitar constrangimentos”
Um fato importante que merece destaque é que a incidência da dor em pessoas com idade superior a 60 anos é mais comum. De acordo com o guia, 30% a 50% dessas pessoas que vivem em comunidades têm alguma síndrome dolorosa crônica, o que provoca dores em períodos mais prolongados. A presença de doenças crônicas degenerativas, como artrose, osteoporose ou doenças vasculares também apresentam maior incidência nessa faixa etária e são grandes produtoras de sintomas dolorosos.
Ainda de acordo com o guia, pessoas com idade elevada costumam ter mais de uma queixa de dor e, para evitar constrangimento, tendem a guardar para si as reclamações por achar que isso pode ser um fardo para a família. “Muitas vezes o paciente deixa de levar essa queixa para a família para evitar constrangimentos”, aponta.
Barcellos pontua que o uso de medicamentos em pacientes com idade a partir de 60 anos também exige uma maior atenção por parte dos profissionais de saúde. “A própria terapia medicamentosa tem que ser bem dosada nesses casos. É uma série de peculiaridades na avaliação e no tratamento de pessoas com mais idade que a gente tem que ser atento a isso”, destaca.
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