A violência contra a população idosa é uma realidade preocupante no Brasil. Um em cada dez idosos afirma já ter sofrido algum tipo de abuso. Os dados são do estudo “Fatores associados ao autorrelato de violência contra a pessoa idosa”, de Fabiana Martins Dias de Andrade, realizado com base na Pesquisa Nacional de Saúde (PNS) de 2019.
A análise mostra que a violência psicológica é a mais recorrente, com 9,63% dos entrevistados relatando já ter sido vítima. Em seguida, aparece a violência física, com 1,56% dos casos. A violência sexual é a menos relatada, com 0,20%, mas atinge principalmente mulheres. Entre elas, 0,27% afirmaram ter sofrido esse tipo de agressão, frente a 0,07% dos homens.
Mulheres lideram os casos de violência contra a população idosa
A prevalência da violência contra a população idosa é maior entre mulheres. O estudo mostra que 11,09% das idosas já sofreram algum tipo de abuso, índice superior ao registrado entre os homens. O risco é maior entre aquelas que não têm parceiro íntimo e vivem em áreas urbanas.
Nessas regiões, 11,55% das mulheres relataram violência, frente a 7,63% na zona rural. Já entre os homens, a diferença é menor: 9,07% nas cidades e 7% no campo. O grupo mais vulnerável está na faixa etária de 60 a 69 anos, especialmente aqueles que apresentam sintomas de depressão ou convivem com múltiplas doenças.
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Estudo mostra limites na coleta de dados e aponta subnotificações
A pesquisadora destaca que, mesmo com o avanço da coleta por meio da PNS, os números ainda podem estar subestimados. A pesquisa, respondida por 22.728 pessoas idosas, não inclui dados de instituições de longa permanência, onde vive uma parcela especialmente vulnerável da população.
Segundo Fabiana, em entrevista à Faculdade de Medicina de Minas Gerais, “a PNS dá um passo muito importante em proporcionar dados que se referem à pessoa idosa, mas os números já coletados podem ser ainda mais alarmantes. Ainda não foi possível coletar dados a respeito de pessoas em instituições de longa permanência, onde vive uma população idosa ainda mais vulnerável”.
O Brasil tem mais de 161 mil idosos institucionalizados, número que cresceu 56% desde 2010, segundo o IBGE. A maioria são mulheres. A falta de dados sobre esse grupo preocupa, principalmente diante de casos recentes de negligência, como o fechamento de um lar após a morte de duas idosas em condições sanitárias precárias.
Especialista cobra atualização nas políticas públicas no combate à violência contra a população idosa
Fabiana Martins defende que é urgente atualizar a Política Nacional do Idoso, criada em 1994. Para ela, é preciso colocar as pessoas idosas no centro das decisões, criar mecanismos de proteção e enfrentar as desigualdades de gênero. “É fundamental promover ações e estratégias para o enfrentamento e prevenção da violência”, conclui.
Ela também destaca a importância do cumprimento do Estatuto da Pessoa Idosa. Segundo Fabiana, o envelhecimento da população torna ainda mais necessária a criação de estratégias eficazes que incentivem o envelhecimento ativo e saudável.
O estudo reafirma o que dados do Sistema de Informações de Agravos de Notificação (SINAN) já indicam: a violência contra a população idosa é crescente. Sem mudanças estruturais nas políticas públicas, essa tendência tende a piorar com o envelhecimento da população brasileira.
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