Algumas mães, quando encerram o ciclo de maternidade com os seus filhos, seguem construindo suas vidas em busca de longevidade e de autonomia. Maternar termina quando os filhos crescem, criando outros tipos de relações com eles. Porém, quando os netos ou bisnetos chegam, a maternidade se mostra presente novamente. Uma avó nasce, se tornando a mãe de uma família inteira e sendo o principal elemento que une todos os familiares.

A “mãe de uma família inteira” é a mulher que, com o passar dos anos, conseguiu criar uma relação forte e consolidada com seus filhos, netos, sobrinhos e bisnetos. Um exemplo de mãe, de avó. Um exemplo de mulher, de inspiração e, principalmente, de orgulho.

O processo de envelhecimento e de amadurecimento são fatores que contribuem para a construção dessas mães que unem toda a família. Tanto o da mulher quanto o de seus filhos, que irão contar para os netos as histórias que passaram juntos.

Foi com o passar dos anos que Maria das Graças e Maria do Carmo assumiram o papel de mãe de uma família inteira. Cada uma com seu jeito e personalidade marcaram a vida de toda uma geração que carrega o seu sobrenome.

Mães, avó, bisavó. Mãe de uma família inteira

Maria das Graças, de 74 anos, tem  três filhos - sendo um já falecido, cinco netos, três bisnetos e, ainda assim, continua cheia de energia. Sua vida é independente, morando sozinha, e fazendo as coisas que gosta. Entre elas, dançar, passear, viajar e trabalhar.

Para o seu filho, Leandro, a força de vontade e a disposição da mãe são as características que ele pretende levar para a sua vida. Para ele:

“O que eu levo hoje, que minha mãe passou para gente, é a força de vontade. Meus pais se separaram não tinha 6 anos e a gente precisou reiniciar uma vida do zero. E minha mãe sempre teve muita disposição. Sempre trabalhou, sempre, de sol a sol.

A gente não foi criado diretamente pela minha mãe, porque ela saía muito cedo e chegava muito tarde. Mas ver essa disposição da minha mãe, no auge dos 74 anos, é o que eu levo e procuro passar para todo mundo. Às vezes a gente se sente tão cansado, mas ela, com 74 anos, não está nem um pouco cansada.”

Passando por momentos muito difíceis juntos, Maria das Graças e seus filhos precisaram superar a separação e, após o crescimento dos filhos, o falecimento do primogênito.

Mãe de uma família inteira, amiga e trabalhadora

Sempre muito trabalhadora, Maria das Graças é lembrada, principalmente, pela sua dedicação ao trabalho. Outro ponto importante que marcou em sua família é a amizade. Leandro conta que até hoje ela trabalha e tem a vida independente. Durante sua criação, trabalharam juntos vendendo quentinha e superaram as dificuldades da mesma forma, juntos. Para isso, união e amizade precisavam nascer e estar sempre presente.

“A gente precisou, primeiro, ser muito amigo de nós mesmos. E trabalhar todo mundo junto. Nunca tivemos ela ali presente em festa de escola, formatura. Mas a gente sempre teve uma mãe para aconselhar, para brigar, para dar os direcionamentos da vida.”

A história de superação será passada para toda a próxima geração. Leandro conta, com orgulho, que os seus sobrinhos não sabem metade do que já passaram para que hoje eles tenham o que têm.

“A gente hoje só divide esse amor, essa atenção com os nossos sobrinhos, em prol dela que é o nosso pilar. Ela é quem sustenta todo mundo até hoje. Quando o bicho aperta, o primeiro telefone que a gente liga é o dela”.

Maria das Graças com seu filho e seu neto. Imagem para ilustrar a matéria sobre mãe de uma família inteira. Maria das Graças com seu filho Leandro e um de seus netos. Crédito: Arquivo pessoal

De mãe para mãe

Uma das principais características da mãe de uma família inteira é ainda ter a sua própria mãe como referência. Afinal, no futuro, ela será a referência para todos. Para Maria das Graças não é diferente. Segundo ela:

“Minha mãe era de antigamente mesmo, mais rígida, como eu sou. Minha filha fala que sou atrasada, mas fui criada desse jeito e não aceito certas coisas. O que aprendi com a minha mãe passei para meus filhos e meus netos.”

“O que eu aprendi com a minha mãe, passei para os meus filhos e meus netos. Eu faço a mesma coisa que a minha mãe fazia.”

Maria das Graças é o orgulho de sua família e reconhece que passou por diversas situações que precisou superar. “Eu perdi um filho, mas não podia me entregar, porque tinha mais dois e tinha meus netos. Eu tinha que estar presente, eu não podia me entregar”, conta.

Para Leandro, seu filho, ela é uma inspiração. “Passaria por tudo de novo até hoje. Se fosse com ela, eu passaria de novo.”

Mãe de uma família inteira e do amor de todos

Maria do Carmo, também conhecida como Dona Carminha, no auge dos seus 92 anos, ainda é reconhecida como a matriarca da família. Após um AVC há cerca de quatro anos, sua mobilidade foi reduzida, mas não diminuiu a sua importância e representação na família.

Nascida na Paraíba, sua história é similar a de muitas famílias que tentaram melhorar de vida indo para o Rio de Janeiro. Enquanto seu marido foi para a cidade maravilhosa, ela permaneceu firme, cuidando de sua filha, até conseguir se mudar também. Já no estado do Rio de Janeiro, foram morar em um sítio, em Xerém. Segundo sua filha mais velha, Maria do Socorro, foi ela quem sustentou emocionalmente a família.

“Era o esteio da casa. Mesmo com meu pai, sempre foi guerreira e se virava nos trinta. O meu pai era calmo, tranquilo, quem se preocupava com o dia a dia era ela. Era assim mesmo no sítio e antes. Era quem tomava a frente, orientava.”

Mas ser o braço forte não necessariamente significava ser rígida. Com muita paciência, ela cuidou não apenas dos seis filhos como também dos filhos dos vizinhos. Ao tomar conta daqueles que precisavam de suporte enquanto os pais iam trabalhar, ela marcou a vida de muitos.

“Deixou marcas de carinho para todo mundo. As pessoas vêm e pedem benção pra ela, é gratidão por tudo que ela fez.”

Família que pensa em família

Com o crescimento dos filhos, muitas famílias se afastam, mesmo que de forma natural. Para Vivi Salviano, neta de Dona Carminha, o conceito de família é a maior referência que sua avó deixou.

“Minha avó consegue mobilizar a família inteira para que a gente possa deixar ela mais à vontade. Quando a gente sai com ela, é literalmente a família toda, cadeira, cama, ventilador. Já vamos pensando quem vai levar o que, quem vai organizar o espaço onde ela vai ficar. Tem essa preocupação. Não só família, mas pessoas próximas que se preocupam com ela e isso é consequência da boa pessoa que ela sempre foi.”
Dona Carminha e seu filhos. Imagem para ilustrar a matéria sobre mãe de uma família inteira.Dona Carminha e sua família, em uma comemoração. Crédito: Arquivo pessoal

Mãe de uma família inteira e de mais alguns

Mesmo depois de envelhecer, de cuidar dos filhos e ver os netos crescer, Dona Carminha ainda impacta as pessoas ao seu redor, como é o caso da cuidadora Fabiane. Trabalhando há cerca de um ano com a família, Fabiane diz que está aprendendo muito.

“É um lugar de muito amor, todas as pessoas que vêm aqui percebem isso, Você vem para trabalhar e acaba aprendendo. De todas as casas em que trabalhei, fui muito acolhida, aprendi muito aqui.”

O legado que deixa para sua família, assim como para as pessoas que passaram e ainda passam por sua vida é de amor. Sua filha mais nova, Maria José, diz que o que aprendeu passa para os seus filhos. “Amor, carinho, sabedoria, estudo. Tudo que ela me ensinou eu passaria pros meus filhos. O que ela fez pela gente eu não consigo fazer por ela. É só gratidão”, comenta.

Sempre muito protetora, Dona Carminha assumiu o papel de matriarca. Antes do AVC, ainda sentia a responsabilidade de cuidar de suas filhas, mesmo depois de adultas. “Ela morou um período comigo e achava que ela tinha que fazer arroz, feijão como se fosse antes, como se fosse a única responsável. E era uma briga. Eu falava pra ela deixar ali. Eu voltava do trabalho e ela falava pra eu ver minha novela, a janta já estava pronta. Ela sempre fez isso, tinha um senso de responsabilidade materna. Sempre foi muito protetora”, conta sua filha mais velha.

Vivi, sua neta, sente muito orgulho de toda a história de sua família e acredita que sua avó também.

“Eu acho que se minha vó conseguisse entender que ela deixou de legado, teria muito orgulho. E apesar da situação atual, pós AVC, há momentos que ela entende um pouco mais. E acredito que ela entenda que é muito amada."


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