Queridos leitores,
Toda semana, mergulhamos em temas que nos fazem repensar o que sabemos sobre nós mesmos. Hoje, inspirado em uma análise científica publicada no Estadão e originalmente no The Conversation, pelo psicólogo Gilles E. Gignac, da Universidade da Austrália Ocidental, vamos desmontar um mito persistente: o envelhecimento como sinônimo de declínio inevitável. Pelo contrário, a pesquisa sugere que, entre 55 e 60 anos, muitos de nós atingimos o auge do funcionamento psicológico geral. Sim, você leu certo – não é só sobreviver à meia-idade, mas brilhar nela.
O Pico Físico é Cedo, Mas o Mental Chega Tarde
Sabemos que o corpo humano atinge o auge físico nos 20 ou 30 anos. Atletas olímpicos, matemáticos geniais e campeões de xadrez raramente passam dos 40 no topo. A inteligência “bruta” – velocidade de processamento, memória rápida e raciocínio lógico puro – começa a cair a partir dos 20 e poucos. É fato: o cérebro jovem é uma máquina veloz.
Mas Gignac e sua equipe olharam além disso. Eles compilaram dados de estudos em larga escala sobre 16 dimensões psicológicas, incluindo habilidades cognitivas (como raciocínio e inteligência emocional) e os “cinco grandes” traços de personalidade: extroversão, estabilidade emocional, conscienciosidade, abertura à experiência e agradabilidade.
O resultado? Um índice ponderado mostrou que o funcionamento mental geral atinge o pico entre 55 e 60 anos. Depois, há um declínio gradual a partir dos 65, acelerando após os 75. Traços como conscienciosidade (pico aos 65) e estabilidade emocional (aos 75) continuam subindo. Até o raciocínio moral e a resistência a vieses cognitivos – aqueles atalhos mentais que nos levam a erros – melhoram até os 70 ou 80 anos.
Por Que Isso Acontece? Equilíbrio, Não Velocidade
Pense no cérebro como um vinho fino: perde a efervescência da juventude, mas ganha complexidade. Habilidades que diminuem (como velocidade) são compensadas por ganhos em julgamento, liderança e tomada de decisão ponderada. Não é à toa que CEOs, políticos e líderes globais often estão na faixa dos 50-60. Eles resolvem problemas complexos e guiam equipes com maestria, graças a essa mistura de experiência e traços maduros.
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Exemplos que Inspiram
A história confirma: Charles Darwin publicou A Origem das Espécies aos 50. Beethoven estreou sua Nona Sinfonia aos 53, surdo. Hoje, Lisa Su, aos 55, transformou a AMD em gigante da tecnologia. Meia-idade não é contagem regressiva – é pico.
Os Desafios Reais e a Chamada à Ação
Apesar das evidências, trabalhadores acima dos 50 enfrentam barreiras: demissões difíceis, aposentadorias forçadas (pilotos aos 65, controladores de tráfego aéreo aos 56-60). Mas variações individuais importam – alguns mantêm memória afiada por décadas. Avaliações devem focar em habilidades reais, não em idade cronológica.
Empresas e sociedades precisam de práticas inclusivas: retenção de talentos maduros impulsiona inovação. Pare de subestimar os “velhos” – eles podem ser o motor da sua equipe.
Reflexão Final
Na próxima vez que olhar no espelho e temer as rugas, lembre: aos 60, você pode estar no seu melhor para liderar, decidir e viver plenamente. O envelhecimento não é fim – é evolução. Cuide do corpo, nutra a mente e abrace o pico que a ciência revela.
Até a próxima semana! Compartilhe suas experiências nos comentários.
Coluna baseada em pesquisa de Gilles E. Gignac, publicada em Intelligence e adaptada do Estadão (17/10/2025).
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