A expectativa de vida saudável no Brasil segue distante da longevidade registrada nas estatísticas oficiais. O país vive mais, porém envelhece pior. Pesquisas indicam uma diferença média de dez anos entre viver e viver com qualidade. Isso significa uma velhice frequentemente marcada por doenças crônicas, limitações funcionais e sofrimento evitável.

O alerta é feito pelo médico Egídio Dórea, pesquisador da Universidade de São Paulo, em entrevista ao Globo. Doutor em Nefrologia e coordenador do programa USP 60+, ele acompanha de perto o envelhecimento da população brasileira. Para o especialista, o aumento da longevidade não veio acompanhado de políticas estruturantes de cuidado.

“O Brasil está envelhecendo mal”, afirma o professor. A frase resume um cenário que se repete em diferentes regiões do país. A expectativa de vida cresce, mas a saúde não acompanha o mesmo ritmo. O resultado é uma velhice mais longa e mais vulnerável.

O Brasil passa por uma rápida transição demográfica. A pirâmide etária se inverte em ritmo acelerado. Estados como o Paraná devem ter mais pessoas idosas do que jovens em poucos anos. Esse movimento pressiona o sistema de saúde e amplia desigualdades históricas.

Segundo Egídio, a mudança exige foco contínuo em cuidado. Para ele, “só vamos mudar essa realidade com promoção, prevenção e diagnóstico precoce, além de controle e reabilitação”. A afirmação reflete a experiência do ambulatório de promoção do envelhecimento saudável do Hospital das Clínicas da USP.

Um muher idosa atravessando a rua, junto com outras pessoas. Imagem para ilustrar a matéria sobre expectativa de vida saudável no Brasil. Crédito: Joa Souza/Shutterstock 

Expectativa de vida saudável no Brasil e políticas públicas insuficientes

O debate público, porém, nem sempre acompanha essa urgência. Muitas iniciativas priorizam soluções simbólicas, com pouco impacto estrutural. Para o pesquisador, falta visão integrada sobre envelhecimento e cidade.

A criação de vagas de estacionamento exclusivas para pessoas acima de 60 anos é um exemplo. “É mais fácil desmarcar uma vaga do que criar ambientes em que as pessoas mais velhas possam socializar na periferia”, disse. A crítica aponta para a ausência de espaços de convivência em regiões mais vulneráveis.

Outro ponto levantado envolve projetos habitacionais exclusivos para idosos. “Não adianta criar guetos para isolar ainda mais essas pessoas”, disse em relação as dezenas de residenciais voltados para o público. Para Egídio, o ideal são territórios intergeracionais, com acesso a trabalho, cultura, comércio e serviços.

O especialista cita modelos urbanos europeus, como os microbairros de Paris. Nesses espaços, diferentes gerações convivem no cotidiano. “Isso seria o ideal”, resume. A proposta reforça a ideia de envelhecimento integrado à vida comunitária.

Desigualdade social no Brasil

A discussão sobre a expectativa de vida saudável no Brasil também passa pela desigualdade social. O país apresenta contrastes extremos dentro das próprias cidades. Morar em um bairro ou outro define quantos anos se vive e como se vive.

Essas diferenças impactam diretamente o surgimento de doenças crônicas. Problemas cardiovasculares, diabetes e obesidade lideram as causas de mortalidade. Segundo o pesquisador, a maioria desses casos poderia ser evitada com ações anteriores ao adoecimento.

Estudos apontam que fatores sociais explicam grande parte dessas doenças. Educação, renda, alimentação e condições de trabalho moldam o envelhecimento. A saúde, nesse contexto, começa muito antes do consultório médico.

Egídio também chama atenção para o papel da educação ao longo da vida. O envelhecimento saudável não começa na velhice. Ele se constrói desde a juventude, com informação e mudança de mentalidade social.

A oferta de centros culturais nas periferias é outra prioridade destacada. “Ninguém precisa de mais uma biblioteca ou de mais uma praça nos Jardins”, aponta. O foco, segundo ele, deve estar onde o acesso ainda é limitado.

Dados de consultorias internacionais reforçam esse potencial. Estudos indicam que ações de promoção e prevenção podem adicionar anos de vida saudável. Essas medidas incluem estímulo à atividade física, alimentação adequada e acompanhamento contínuo.

A expectativa de vida saudável no Brasil depende de decisões políticas coordenadas. Saúde, educação, urbanismo e economia precisam caminhar juntos. Sem essa integração, o país seguirá vivendo mais, porém com menos qualidade nos anos finais.


Quer ter acesso a uma série de benefícios para viver com mais qualidade de vida? Faça parte do Instituto de Longevidade MAG. Tenha acesso a Tele Saúde, descontos em medicamentos, Seguro de Vida, assistência residencial e outros benefícios.

Fale com nossos consultores e saiba mais!

Leia também:

Expectativa de vida no Brasil avança e revela mudanças demográficas importantes

Hábitos que aumentam a expectativa de vida: conheça 5 costumes saudáveis

Desafios do aumento na expectativa de vida impulsionam debate sobre envelhecimento

Compartilhe com seus amigos

Receba os conteúdos do Instituto de Longevidade em seu e-mail. Inscreva-se: