Os desafios do aumento na expectativa de vida estão no centro das discussões sobre envelhecimento ativo. O tema ganhou destaque na fala do geriatra Wilson Jacob Filho durante o Summit Saúde e Bem-Estar, realizado pelo Estadão. Ele ressaltou que o avanço na longevidade não significa apenas viver mais, mas permitir que mais pessoas cheguem à velhice com autonomia e funcionalidade.

O médico reforçou que a expansão da população idosa é um fato global. Em cem anos, o mundo passou de 2 bilhões para 8 bilhões de habitantes. Nesse mesmo período, a expectativa média de vida subiu de menos de 50 para mais de 80 anos. Essa mudança, segundo ele, demanda uma reorganização profunda das estruturas sociais.

Jacob Filho destacou que não ampliamos todas as fases da vida. “Nós não prolongamos a gestação, não prolongamos a infância, não prolongamos a adolescência, mas prolongamos o envelhecimento.” A afirmação reforça a necessidade de repensar o ciclo da vida e suas etapas.

O geriatra classificou essa mudança como uma ruptura histórica. “Estamos diante de uma revolução silenciosa”, disse. Para ele, o envelhecimento ativo ganha força e muda a percepção social sobre a idade cronológica. O especialista lembrou como as referências culturais também se transformaram. “Na minha juventude, aos 50 anos já se falava em ‘crepúsculo da existência’. Hoje, uma mulher de 85 é capa de revista e símbolo de vitalidade”, completou.

A visão está alinhada às diretrizes da Organização Mundial da Saúde. Desde 2015, a OMS define o envelhecimento saudável como a capacidade de manter bem-estar físico, mental e social ao longo da vida. Dentro dos desafios do aumento na expectativa de vida, o foco deixa de ser apenas a ausência de doenças. “A idade cronológica é apenas um detalhe na vida das pessoas”, destacou Jacob Filho, citando Margaret Chan.

Desafios do aumento na expectativa de vida evidenciam a importância dos cuidados com a saúde

O médico também abordou a diferença entre idade cronológica e idade funcional. Um estudo do InCor durante a pandemia analisou mais de cinco mil pacientes acima de 50 anos internados com covid-19. Os dados mostraram que a funcionalidade tinha mais impacto sobre a sobrevivência do que a idade em si.

“Pacientes idosos com boa funcionalidade tiveram mortalidade semelhante à de adultos mais jovens”, explicou. Já pessoas da mesma faixa etária, mas com perda funcional, tiveram mortalidade bem maior. O especialista reforçou que o envelhecimento é um processo individual. “Quem tenta colocá-lo na mesma caixa comete um erro crasso.” Ele completou com uma observação sobre diversidade cultural. “Nós nos tornamos cada vez mais diferentes um do outro na medida em que envelhecemos.”

As condições sociais e ambientais influenciam esse percurso e aumentam os desafios do aumento na expectativa de vida. “Envelhecer na Amazônia é diferente de envelhecer em São Paulo ou em Porto Alegre ou em qualquer outro local”, afirmou. Essa diferença ajuda a compreender os múltiplos fatores que moldam a velhice.

Uma mulher idosa andando na rua e se protegendo sol com um guarda chuva. Imagem para ilustrar a matéria sobre os desafios do aumento na expectativa de vida. Crédito: Oleg Elkov/Shutterstock

Envelhecimento ativo enfrenta pressões sociais e econômicas

O envelhecimento populacional traz conquistas, mas também pressões sobre saúde, previdência e cuidados. Países desenvolvidos levaram cerca de cem anos para dobrar a população idosa. Já países como Brasil e China farão o mesmo em menos de duas décadas. A mudança rápida cria demandas inéditas e pressiona políticas públicas.

Jacob Filho destacou ainda um fator crescente. Ele alertou para o impacto das mudanças climáticas sobre pessoas idosas. “Sabemos que ondas de calor extremo afetam diretamente a saúde de pessoas idosas, especialmente nas grandes cidades, onde há menos árvores, sombra e ventilação natural”, afirma.

Estudos recentes reforçam essa preocupação. Uma pesquisa de longo prazo em Taiwan acompanhou 25 mil pessoas durante 15 anos. Os dados mostraram que as ondas de calor aceleram o envelhecimento biológico de forma comparável ao tabagismo ou ao sedentarismo.

Etarismo e sobrecarga das famílias tornam o cenário mais complexo

Os desafios do aumento na expectativa de vida envolvem mais a população do que imaginamos. As transformações demográficas, por exemplo, também mudam o perfil das famílias. “Antes, as famílias tinham um idoso, dois adultos e quatro crianças. Hoje, muitas têm quatro adultos e uma criança”, disse o médico. Esse novo arranjo altera a dinâmica do cuidado e amplia a pressão sobre as mulheres, que ainda respondem pela maior parte da atenção a idosos.

O geriatra chamou atenção para outro problema urgente: o etarismo. Ele classificou a discriminação por idade como uma violência silenciosa. “O etarismo reduz a expectativa de vida em até sete anos e meio e aumenta os gastos com saúde”, disse. Um estudo norte-americano indica que um em cada sete dólares gastos em saúde nos EUA está ligado a efeitos do preconceito etário. “Além de viverem menos, as pessoas discriminadas por idade vivem pior e gastam mais com doenças evitáveis”, afirmou. “O etarismo é um crime — e deve ser combatido como tal.”

Jacob Filho defendeu que a educação para o envelhecimento saudável deve começar cedo. “Precisamos ensinar crianças e adolescentes a entenderem que envelhecer faz parte da vida, e que viver mais é uma conquista coletiva, não um fardo individual.” Ele reforçou que a resposta deve ser multissetorial, com planejamento e solidariedade. “Precisamos de sustentabilidade social e econômica para envelhecer com dignidade”, reforçou.


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