O envelhecimento da população brasileira já se tornou um fenômeno acelerado capaz de colocar o país diante de grandes desafios. Segundo dados do IBGE, até 2070, quase 37,8% da população do país será composta por pessoas com 60 anos ou mais. Essa transição demográfica terá profundas implicações, principalmente nas áreas de saúde, mobilidade urbana e previdência.

A população idosa, que hoje representa 15,6%, dobrará nas próximas décadas. Além disso, o Brasil enfrenta uma queda significativa na taxa de natalidade. As primeiras Projeções de População do IBGE com dados do Censo Demográfico 2022 estimam que a população do país vai parar de crescer em 2041, quando chegará a 220.425.299 habitantes.

Esse comportamento não é algo novo. O estudo demográfico mostrou que a taxa de fecundidade caiu de 2,32 para 1,57 filho por mulher de 2000 para 2023. Esse número ainda deve recuar até 1,44 em 2040, quando atingirá seu ponto mais baixo. Por outro lado, a idade média da população brasileira atingiu 35,5 anos em 2023 e deve subir para 48,4 anos em 2070.

A partir de 2042, a população começará a diminuir, conforme o IBGE. Esse declínio será acompanhado por uma mudança ainda mais expressiva na composição etária. Com isso, haverá uma proporção cada vez maior de idosos, pressionando os sistemas de saúde e previdência.

Perspectivas para o futuro do envelhecimento da população brasileira

A previsão do IBGE é clara: até 2060, a população idosa atingirá 75,3 milhões de pessoas. José Eustáquio Diniz Alves, doutor em demografia e pesquisador aposentado do IBGE, aponta que "os sistemas de saúde enfrentam vários desafios na gestão de doenças crônicas em populações envelhecidas. À medida que a população envelhece, aumenta a prevalência de condições crônicas como diabetes, hipertensão, doenças cardiovasculares e demência."

Segundo o especialista, quando o assunto é saúde, os desafios incluem:

  • Aumento na demanda por cuidados;
  • Escassez de profissionais de saúde;
  • Complexidade dos cuidados;
  • Custos elevados;
  • Limitado a cuidados especializados;
  • Foco reativo em vez de preventivo.

Contudo, a saúde não é o único desafio para a população e para a gestão do país. Alves também aponta que “as cidades brasileiras enfrentam várias barreiras de acessibilidade que afetam diretamente a mobilidade da população idosa. Essas barreiras dificultam o acesso dos idosos aos serviços, espaços públicos e ao transporte, comprometendo sua qualidade de vida e autonomia”. Entre as principais, estão:

  • Calçadas irregulares e mal conservadas;
  • Falta de acessibilidade no transporte público;
  • Sinalização deficiente e tempo insuficiente nos semáforos;
  • Espaços públicos inadequados;
  • Falta de segurança pública;
  • Desigualdade no acesso ao transporte;
  • Falta de educação e conscientização sobre acessibilidade;
  • Ausência de políticas municipais para uma solução eficaz (como planejamento urbano inclusivo, criação de zonas amigáveis ao Idoso, investimento em tecnologia assistiva, parcerias Público-Privadas).

A previdência também traz preocupações para o futuro. Segundo o pesquisador, “a última reforma da previdência no Brasil, aprovada em 2019, trouxe mudanças importantes para melhorar a sustentabilidade fiscal do sistema, como a elevação da idade mínima para aposentadoria, a ampliação do tempo de contribuição e o cálculo de benefícios menos generosos. No entanto, muitos especialistas alertam que essas medidas podem não ser suficientes diante do acelerado envelhecimento da população e das pressões demográficas e econômicas futuras”.

Retrato de uma mulher idosa negra com lindo olhar olhando para a câmera. Imagem para ilustar a matéria sobre envelhecimento da população brasileira. Crédito: Julaix/Shutterstock

Como lidar com os problemas do envelhecimento da população brasileira?

O envelhecimento da população brasileira traz à tona questões que exigem soluções urgentes. Saúde, mobilidade urbana e previdência serão os principais setores afetados. O aumento da demanda por cuidados de longo prazo e tratamentos especializados pressiona um sistema de saúde já sobrecarregado, enquanto o número de contribuintes da previdência será insuficiente para sustentar o crescente número de beneficiários.

A saúde da população diante de seu envelhecimento

O impacto na saúde será significativo, especialmente no atendimento de doenças crônicas. O envelhecimento não só aumenta a prevalência dessas doenças, como também prolonga o tempo de recuperação. Esse é um tipo de relação que gera um custo elevado para o sistema. Uma maneira de enfrentar esse desafio, segundo José Eustáquio Alves, é através das tecnologias emergentes.

“A telemedicina permite acesso a cuidados remotos. A robótica possibilita a assistência em cuidados pessoais, cirurgias assistidas por robôs e os robôs podem ser utilizados em terapias de reabilitação física, ajudando os pacientes a recuperarem a mobilidade de forma mais eficiente. A Inteligência Artificial (IA) e Big Data permitem a gestão personalizada de cuidados além da detecção precoce de deterioração na saúde de pacientes com doenças crônicas, e dispositivos de rastreamento de atividades, permitem o monitoramento contínuo de pacientes em casa, possibilitando ajustes rápidos nos tratamentos.”

Para o pesquisador, essas tecnologias emergentes “têm o potencial de aliviar significativamente a pressão sobre os sistemas de saúde ao aumentar a eficiência". Uma maneira de reduzir custos e melhorar o acesso a cuidados especializados. Diante do envelhecimento da população brasileira, esses recursos permitem uma abordagem mais proativa e personalizada no gerenciamento de doenças crônicas.

Alves ainda menciona que, para atender à crescente demanda por cuidados de longo prazo em uma população envelhecida, os sistemas de saúde devem adotar uma abordagem abrangente, com foco em financiamento sustentável, saúde preventiva e envelhecimento ativo. Isso inclui reformas no financiamento, fortalecimento das políticas de prevenção, capacitação de profissionais e apoio à inovação tecnológica. O sucesso dependerá da implementação de políticas públicas eficazes. 

A mobilidade urbana frente ao envelhecimento da população brasileira

A mobilidade urbana será outro grande problema em um Brasil mais envelhecido. De acordo com Alves, “as barreiras de acessibilidade nas cidades são um desafio significativo para a mobilidade da população idosa. No entanto, com planejamento urbano inclusivo, reformas específicas em infraestrutura, transporte público acessível e campanhas de conscientização, as administrações municipais podem enfrentar esses problemas de forma eficaz. A adoção dessas medidas não só melhora a qualidade de vida dos idosos, mas também beneficia toda a sociedade, promovendo cidades mais acessíveis e inclusivas para todos”.

Mesmo sendo uma dificuldade futura, o pesquisador menciona que existem bons exemplos de países envelhecidos. “Muitas cidades ao redor do mundo têm implementado políticas e infra estruturas que facilitam a mobilidade de uma população envelhecida, garantindo acesso a espaços públicos, segurança e inclusão”, comenta.

Exemplos internacionais de boas práticas em mobilidade urbana

Segundo Alves, “boas práticas internacionais de mobilidade urbana para idosos podem ser adaptadas ao contexto brasileiro, com ajustes nas áreas de infraestrutura, segurança, conscientização e acessibilidade. Essas soluções não apenas melhorariam a qualidade de vida dos idosos, mas também promoveriam cidades mais inclusivas e funcionais para todas as gerações”.

Como exemplos internacionais, ele menciona:

  • Cidades Amigáveis aos Idosos 

Copenhague, Dinamarca: a cidade prioriza a acessibilidade com ciclovias seguras. Conta com calçadas adequadas e rampas, além de áreas de descanso para pessoas com mobilidade reduzida.

  • Transporte Público Inclusivo

Tóquio, Japão: Tóquio oferece assentos reservados, sinalização auditiva e visual. Além de rampas e elevadores em todas as estações para garantir acessibilidade aos idosos.

  • Ruas Completas

Nova York, EUA: as ruas são projetadas para segurança de todos. Existem travessias elevadas, semáforos com tempos mais longos e áreas de descanso, com foco especial nos idosos.

  • Cidades Compactas

Zurique, Suíça: serviços essenciais acessíveis a pé ou com curtas viagens de transporte público integrado, beneficiando os idosos com tarifas reduzidas e estações acessíveis.

  • Comunidades Intergeracionais

Barcelona, Espanha: programas urbanos promovem convivência entre gerações. Oarques e áreas de lazer são projetados para crianças e idosos, incentivando a interação social e atividade física.

Uma mulher idosa de cadeira de rodas em frente a uma escada, um obstáculo na rua. Imagem para ilustrar a matéria sobre o envelhecimento da população brasileira.Crédito: SynthEx/Shutterstock

O envelhecimento da população brasileira e seus impactos no sistema previdenciário

José Alves destaca que “o regime atual de repartição (onde os trabalhadores ativos financiam as aposentadorias dos inativos) é vulnerável ao envelhecimento da população. Com menos trabalhadores para sustentar um número crescente de aposentados, o sistema enfrentará déficits”. Com isso, o sistema previdenciário brasileiro está entre as áreas com maior fragilidade frente ao envelhecimento da população brasileira.

Segundo o pesquisador, é crucial aumentar a contribuição dos trabalhadores informais. Isso porque a alta informalidade também compromete a arrecadação. Além disso, reduzir os privilégios das aposentadorias no setor público, que ainda são mais generosas que no setor privado, é uma medida importante. Com isso, é possível diminuir os déficits do regime de servidores públicos.

Ele aponta que é necessário combater a evasão e fraudes previdenciárias, que reduzem a arrecadação e geram despesas indevidas. Diante dessas pressões fiscais, reformas como o aumento gradual da idade mínima de aposentadoria, inclusão dos informais no sistema e a promoção de regimes de previdência complementar são fundamentais. A implementação planejada dessas medidas pode equilibrar as finanças públicas, garantir um sistema mais justo e proteger os direitos dos futuros aposentados.

Educação financeira é um caminho?

Alves reforça que incentivar a adoção de poupança voluntária e previdência complementar entre a população de baixa renda no Brasil é desafiador. Isso acontece devido à desigualdade econômica, alta informalidade e falta de planejamento financeiro. No entanto, não é uma tarefa impossível. Entre as estratégias que o especialista propõe estão:

  • Criação de produtos financeiros simples e acessíveis;
  • Incentivos fiscais para contribuições de baixa renda;
  • Educação financeira ampla e acessível;
  • Integração com programas sociais existentes;
  • Incentivos às empresas para oferecer planos de previdência;
  • Promoção do micro investimento automatizado;
  • Regulamentação de previdência complementar simples e universal;
  • Uso de tecnologias digitais e bancos digitais;
  • Criação de fundos coletivos de previdência para informais;
  • Combate à desigualdade econômica para fortalecer a poupança.

“A criação de um sistema de poupança voluntária e previdência complementar para a população de baixa renda no Brasil requer um esforço conjunto do governo, setor privado e sociedade civil. Produtos simples, incentivos fiscais, integração com programas sociais e o uso de tecnologia são essenciais para viabilizar a adesão dessas pessoas a um sistema previdenciário complementar. Essas ações não só garantiriam mais segurança financeira na aposentadoria, como também ajudariam a reduzir as desigualdades sociais a longo prazo, criando uma cultura de poupança e planejamento financeiro no país.”

O envelhecimento da população brasileira exige ação imediata. Sem reformas estruturais e políticas públicas que antecipem as demandas de saúde, mobilidade e previdência, o Brasil corre o risco de entrar em uma crise profunda.


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