Quando perguntado sobre a definição de sexo tântrico, o terapeuta corporal Evandro Palma responde que primeiro é preciso dividir a pergunta em duas partes: o que é sexo e o que é tantra.

Além da determinação de nosso papel biológico na procriação, sexo – ou relação sexual –, nas palavras do terapeuta, é “a união de dois ou mais corpos pressupondo a geração de prazer e excitação sexual alcançada de várias formas, mas comumente com foco na fricção entre os genitais, com presença ou não de orgasmo, para a satisfação afetivo-emocional dos parceiros, tendo ou não a intenção de procriação”.


Respondida a primeira parte, Evandro apresenta a definição de Tantra: “trama, teia ou código, como poderia ser traduzida essa palavra em Sânscrito, entende-se ser um conjunto de práticas comportamentais com finalidade desrepressora, de expansão sensorial para o desenvolvimento da espiritualidade, baseada numa sociedade com valores matriarcais”.

Unindo os dois conceitos, sexo tântrico é aquele realizado sem o sentido de urgência do prazer do sexo convencional com foco fortemente genital, que é movido pelo desejo e pela fantasia. Ao contrário, trata-se de um conjunto de práticas que priorizam o acesso aos sentidos, à conexão entre dois seres e à aceitação para que toda a experiência seja sublime, transformadora e reveladora de todo o potencial criativo, de alegria e de celebração.

Não é de se estranhar que muito se especule sobre o assunto, o que pode gerar muitas interpretações imprecisas ou mesmo fantasiosas sobre a prática. Mas Evandro explica que um dos maiores equívocos cometidos com relação ao sexo tântrico, ao contrário do que se pensa, não diz respeito ao seu conceito, e sim ao fato de ser considerado como algo inacessível ou associado a grandes performances, sem compreenderem a noção do tempo de prática.

"Pensar em duas, três ou quatro horas de prática é algo que não entra na cabeça das pessoas"

“O referencial que se tem de prática sexual é de 15 minutos. Sim, isso, 15 minutos são até generosos e com tudo o que se possa fazer no sexo. Pensar em duas, três ou quatro horas de prática é algo que não entra na cabeça das pessoas”, destaca. Para Evandro, isso acontece porque os referenciais são outros e, por conseguinte, também é outra a noção de tempo. “É comum casais realizarem uma prática de três horas e terem a sensação que passou somente 30 minutos”, exemplifica.

Nascido na Índia Medieval e praticado a partir do século IV, o Tantrismo remonta a filosofias tão antigas como o Budismo, com ensinamentos passados de geração em geração, por via oral, do mestre para o seu discípulo. Os benefícios? “Todos que você puder imaginar”, responde Evandro, que segue a enumerá-los: “maior proximidade, amorosidade, cumplicidade, entendimento mútuo, sentimento de pertencimento, de aceitação, de satisfação e de completude”.

De acordo com o terapeuta, o foco da prática é o fortalecimento da relação entre o casal e em seu entorno, com a família e filhos. “Longevidade da relação e da interação afetivo-sexual do casal. Ausência de pressão, de ansiedade por desempenho. Desenvolvimento sensorial, aumento de percepção, melhor equilíbrio hormonal. Diminui-se as identificações do dia a dia, motivos de brigas. Maior presença em tudo o que se faz. Aqui não estou falando somente do sexo tântrico, mas de todas as práticas meditativas que o Tantra envolve”, destaca Evandro.

Após os 50 anos

Com a chegada dos 50 anos e a diminuição da produção de hormônios pelo organismo, é comum que homens e mulheres passem a enfrentar alguns problemas um tanto quanto desagradáveis. Para eles, a má qualidade da ereção. Para elas, a perda da libido.

Em entrevista ao portal de notícias do Instituto de Longevidade, em julho do ano passado, a fundadora e coordenadora do Programa de Estudos em Sexualidade (ProSex) do Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas da FMUSP, Carmita Abdo, explica que a vida sexual dos casais que estão juntos há muitas décadas depende de cuidados, como tudo na vida.

“Não pode ser algo muito rotineiro, sem novidades ou desafios. É preciso escolher os momentos mais propícios para o sexo, e não tentar fazê-lo depois de um dia cansativo ou de muita preocupação”, aconselha Carmita, que também é psiquiatra. Na opinião dela, aceitar como natural a queda na frequência das relações sexuais depois dos 50 anos faz parte das mudanças próprias do envelhecimento.

Estudos realizados pelo ProSex mostram que, aos 60 e aos 70 anos, no Brasil, as pessoas mantêm em média três ou no máximo quatro relações mensais, número totalmente compatível com o de outros países.

Evandro explica que as abordagens das práticas tântricas podem ajudar, e muito, a manter a intimidade do casal e o acesso ao prazer de ambos. Para ele, cada prática por si só pode ser realizada separadamente.

“Um dia uma, outro outra e assim por diante e, em alguns momentos, uma prática mais longa. Um corpo não estimulado entra em um estado de inércia. Assim as relações vão rareando cada vez mais até alguns casais param de se relacionar sexualmente”, alerta.

Na visão da terapia tantra, a ereção só é necessária para o coito, e sua existência para o prazer não é primordial, por mais estranho que isso soe aos ouvidos ocidentais.

"Quando falamos em desenvolvimento sensorial, utilização dos sentidos, ter um corpo todo orgástico, capaz de produzir e conduzir prazer, a ereção é mais um item, não o principal"

“Quando falamos em desenvolvimento sensorial, utilização dos sentidos, ter um corpo todo orgástico, capaz de produzir e conduzir prazer, a ereção é mais um item, não o principal”, afirma Evandro.

Mas se ainda assim, a busca por uma ereção perfeita persistir, ele acrescenta que a diminuição da pressão por desempenho (sem estresse, sem ansiedade e menos cortisol) e o desenvolvimento da consciência corporal são os caminhos para se ter êxito.

“Ficamos melhores em tudo o que praticamos, é básico. Sobre a libido, entendo que ela está sendo colocada aqui como sinônimo de desejo sexual. Sim, as práticas levam o corpo a querer repetir experiências boas. Isso nos dará muito mais vitalidade, nos deixará com mais disposição, energia. Esse é o conceito de libido”, conclui.

Como praticar o sexo tântrico?

Evandro diz que a melhor dica para as pessoas que desejam aprender um pouco mais sobre o assunto e introduzir a prática ao seu dia a dia é procurar um profissional conhecedor do assunto ou uma instituição que possa auxiliar nesse desenvolvimento. E faz questão de frisar que o sexo é apenas uma parcela menor do Tantra.

“Muitos benefícios as pessoas terão ao entrarem nessa viagem sem volta. Uma vez consciente, sempre consciente”, garante.

Algumas dicas para pensar em casa, de acordo com o terapeuta, são:

  1. Não há pressa;
  2. Diminua todos os movimentos, lentidão é melhor;
  3. Concentração e foco, o máximo de “olho no olho” ou, se puder, o tempo todo;
  4. O corpo é um templo, uma usina;
  5. Olhe, cheire, deposite saliva;
  6. Abrace, respire;
  7. Sorria, celebre, dance;
  8. Aceite, receba, mereça;
  9. Ponta dos dedos;
  10. Vulva é um todo composto de algumas estruturas: olhe, estimule;
  11. O pênis é a sustentação. Há outros movimentos a fazer com ele. Sejam criativos!

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