Não é de hoje que planos alimentares que prometem perda de peso rápida e fácil ficam famosos e ganham espaço na internet e nas redes sociais. Entretanto, antes de adotar qualquer mudança na alimentação é crucial avaliar os riscos e benefícios dessas abordagens, especialmente no que diz respeito à saúde do coração.

Isso porque dietas restritivas podem trazer impactos significativos, por exemplo, no colesterol, na pressão arterial e no equilíbrio nutricional, exigindo atenção e orientação de um especialista. Entender essas tendências e os cuidados necessários é essencial para evitar consequências indesejadas e preservar o bem-estar cardiovascular.

Você já ouviu falar sobre a “dieta carnívora”?

Dentro desse cenário, uma nova tendência tem se tornado cada vez mais popular: a chamada “dieta carnívora”. Trata-se de uma estratégia alimentar baseada na ingestão praticamente exclusiva de pratos compostos por produtos de origem animal, sobretudo proteínas, como carnes (bovina, suína, cordeiro, aves e peixes) e ovos e, em alguns casos, laticínios em quantidades baixas.

A proposta é excluir ou limitar em quase 100% a ingestão de alimentos de origem vegetal, ou seja, frutas, legumes, grãos, cereais e oleaginosas. Entre os principais benefícios apontados, que inclusive fizeram o regime ganhar visibilidade e conquistar um número crescente de adeptos, estão a perda de peso, regulação do açúcar, aumento da massa muscular, melhora na energia e menores níveis de inflamação no organismo.

Contudo, por ser extremamente limitante, esse tipo de plano alimentar pode se tornar prejudicial - e até insalubre para alguns indivíduos - em médio e longo prazo.

Realmente emagrece?

Segundo aqueles que defendem sua adoção, a “dieta carnívora” favorece o emagrecimento mais veloz, além de melhorar o controle glicêmico, uma vez que elimina do cardápio os carboidratos, ultraprocessados e açúcares refinados. O corpo passa assim a utilizar proteínas e gorduras como principais fontes de energia.

O organismo entra no que chamamos de estado de cetose, condição metabólica que ocorre quando a ingestão de carboidratos é reduzida, forçando o organismo a buscar energia em suas reservas. Em resumo: a exclusão dos carboidratos do cardápio diminui os níveis de insulina, hormônio que propicia o armazenamento de gordura.

Além disso, o alto consumo de proteínas promove maior saciedade, o que pode levar a uma menor ingestão calórica diária. Portanto, a “dieta carnívora” contribui para o emagrecimento, particularmente no curto prazo. A quantidade de peso, entretanto, varia muito de pessoa para pessoa - dependendo de fatores como idade, condição clínica, metabolismo e nível de atividade física.

Emagrecer não é sinônimo de saúde!

No entanto, exatamente por ser muito restritiva, essa dieta levanta uma série de preocupações. A abordagem é considerada extrema e por vezes controversa, contrariando as recomendações de saúde baseadas em planos alimentares balanceados e equilibrados, que incluem alimentos vegetais ricos em fibras e nutrientes.

Assim, é importante ressaltar que esse emagrecimento promovido não significa necessariamente uma perda de peso saudável. A restrição proposta pode causar deficiências nutricionais relevantes e problemas metabólicos, além de aumentar o risco de efeitos adversos ao longo do tempo, como danos à saúde do coração. Por isso, embora possa ser eficaz em alguns aspectos, a “dieta carnívora” deve ser seguida com cautela e somente com acompanhamento profissional.

Crédito: New Africa/Shutterstock

Problemas do excesso de consumo e da falta de nutrientes

Do ponto de vista nutricional, ao excluir alimentos vegetais, a “dieta carnívora” reduz a ingestão de fibras, antioxidantes e outros nutrientes essenciais que ajudam a proteger o coração, como minerais e vitaminas. Já a falta de carboidratos pode levar ao desequilíbrio metabólico e ao aumento de marcadores imunológicos, que são importantes para o sistema cardiovascular e para o organismo como um todo.

Por outro lado, o consumo exagerado de carne, particularmente vermelhas, está associado a alterações gastrointestinais, maior ingestão de gorduras saturadas e trans, altas dos níveis de LDL (o colesterol "ruim") e do risco de aterosclerose (acúmulo de placas nas artérias), favorecendo o surgimento ou agravamento de doenças cardiovasculares.

Ainda falando em excessos, além dos riscos já apontados acima, a proteína em geral consumida de maneira descomedida pode sobrecarregar os rins, e mais do que isso, impactar na capacidade desses órgãos em regular a pressão arterial.

Quando os rins ficam sobrecarregados, é possível que o equilíbrio de eletrólitos (entre eles sódio e potássio) seja alterado, contribuindo para o aumento da pressão. Vale destacar também que qualquer regime levado ao extremo aumenta as chances de transtornos alimentares, como ortorexia (preocupação excessiva e exagerada com a alimentação saudável) e fobias a certas comidas.

Efeito sanfona

Comum em dietas muito limitantes, como a carnívora, outra preocupação é o efeito sanfona, especialmente se não houver um planejamento sustentável para manutenção do peso após o emagrecimento inicial. O efeito sanfona ocorre quando há uma rápida perda de peso seguida de uma recuperação igualmente veloz desses quilos.

No início a perda de peso pode ser realmente significativa, no entanto, depois de um tempo esse ritmo vai diminuindo. Assim, quando a redução é feita a partir de uma dieta estrema e difícil de ser mantida em longo prazo, os resultados tendem a surgir de forma rápida, mas em boa parte dos casos não duradoura.

Você pode estar se perguntando então por que isso acontece. Resumidamente, o corpo, percebendo essa mudança radical na alimentação e a menor ingestão calórica, começa a agir de modo a proteger e reservar a energia necessária para manter o seu funcionamento.

Como reação, passa a lutar para voltar ao peso original. Com esse fim, tende a baixar a produção de hormônios que tiram o apetite e elevar a liberação daqueles que aumentam a fome. Além disso, reduz a atividade metabólica, o que por consequência torna a queima de gordura mais lenta.

Quando o indivíduo retorna a um padrão alimentar mais variado ou consome carboidratos novamente, o ganho de peso poderá ser maior e mais rápido, causando o efeito sanfona. Esse ciclo de perda e reganho não só frustra os resultados, mas também pode prejudicar o metabolismo, reduzir a massa muscular e elevar o risco de complicações cardiovasculares.

O lado bom das proteínas...

Importante reforçar que comer carne ou proteínas animais, de modo geral, não faz mal. A carne é um alimento que possui muitos nutrientes significativos para à saúde. O problema, conforme explicado, é o excesso proposto, especialmente da carne vermelha.

As proteínas são fundamentais para uma série de funções vitais, entre elas a construção, preservação e reparo dos tecidos e a produção de enzimas que catalisam reações químicas no corpo e hormônios que regulam processos biológicos. Atuam nos sistemas nervoso e imunológico, no transporte de nutrientes, além de serem recomendadas para quem pratica exercícios (são especialmente úteis para o ganho e manutenção de massa muscular).

O que nem todo mundo sabe é que um dos alimentos mais completos em termos proteicos são os ovos, que reúnem todos os aminoácidos essenciais em proporções ideais para a saúde. Carnes vermelhas (bovina e suína) e aves (frango e peru) são outros exemplos de produtos ricos em proteínas completas.

Além de proteínas, peixes como salmão, atum e sardinha ainda contam com os ácidos graxos ômega-3, que são benéficos para o coração. Leite, queijos e iogurtes são mais algumas opções de fontes que fornecem proteínas de alta qualidade (além de cálcio e outros nutrientes).

Aposta na reeducação alimentar

Portanto, o recomendado, especialmente quando pensamos em saúde, é evitar dietas que prometem resultados rápidos e milagrosos. A melhor decisão, quando necessário, é fazer alterações graduais no estilo de vida e se adequar a uma reeducação alimentar.

Além disso, o ideal é buscar orientação profissional, como um nutricionista ou médico, antes de fazer qualquer mudança na rotina das refeições. Um especialista pode ajudar a escolher as fontes mais adequadas, seguras e eficazes para cada caso, levando em conta características físicas, estilo de vida, preferências, a saúde do coração e a saúde como um todo.

Por fim, importante reforçar: nenhuma estratégia alimentar é para todos. Os organismos reagem de modos diferentes a certas adaptações metabólicas. A “dieta carnívora”, por exemplo, de modo geral, não é indicada para indivíduos com doenças renais, diabetes, colesterol elevado, pressão alta ou doenças cardiovasculares.


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