De uns tempos para cá, a prática de yoga em sala aquecida, mais popularmente conhecida como hot yoga, vem ganhando cada vez mais adeptos de todas as idades. A modalidade combina a tradicional filosofia indiana, que trabalha o corpo e a mente, com temperaturas elevadas em ambiente climatizado, em geral com cerca de 40ºC e 40% de umidade (podendo variar dependendo do local).

Entre os benefícios atribuídos à atividade, estão na lista: diminuição na rigidez arterial, ganho de flexibilidade, força e tônus muscular, redução do estresse, aceleração do metabolismo, desintoxicação por meio da transpiração, melhora da circulação sanguínea e do condicionamento físico geral, posterior sensação de bem-estar e até a oportunidade de se autoconhecer fora da zona de conforto.

Porém, antes de pegar seu tapetinho e sair em busca de um local para praticar, é preciso fazer algumas ressalvas e alertas importantes, especialmente em relação à saúde do coração. Primeiro, não devemos esquecer que se trata de uma prática física, em alguns casos de exercício intenso, o que já exige um trabalho extra do órgão. Somado a isso, temos a combinação do esforço em altas temperaturas, exigindo ainda mais do sistema cardiovascular.

Como o corpo reage às altas temperaturas

De modo geral, nosso organismo está preparado para lidar com as alterações de temperatura. Toda vez que precisa se adaptar, aciona um sistema chamado homeostase e diferentes órgãos agem em conjunto para manter tudo em boas condições de funcionamento. No entanto, apesar de termos esses mecanismos, os riscos existem.

Em um ambiente quente e úmido, como o do hot yoga, ocorre, por exemplo, a vasodilatação, processo no qual os vasos sanguíneos se dilatam, aumentando seu diâmetro e permitindo um maior fluxo de sangue. Nesse cenário, a pressão arterial tende a cair, deixando o sangue mais viscoso.

O coração passa a bater com mais velocidade, acelerando a circulação do sangue para irrigar os órgãos que precisam de oxigenação e para ajudar a manter a temperatura corporal em níveis normais, o que acaba gerando um quadro de estresse cardíaco.

Desidratação e desequilíbrio eletrolítico

Durante uma aula de hot yoga, o corpo perde uma quantidade significativa de líquidos através da transpiração. O suor é um caminho do organismo para regular a temperatura. Porém, uma produção maior pode levar à desidratação.

Para entendermos melhor a questão, é preciso ir um pouco além: o suor contém eletrólitos, minerais essenciais, a exemplo do potássio e do sódio, que são necessários para o funcionamento saudável do coração. A transpiração excessiva, sem a devida reposição, chega a desequilibrar os níveis de eletrólitos, o que pode adicionar uma nova carga de estresse em um coração que já está trabalhando arduamente para nos manter frescos e em movimento.

Além disso, conforme o corpo perde líquido, os vasos sanguíneos vão se fechando para manter a pressão dentro do ideal. O sangue fica então mais grosso e a frequência cardíaca aumenta. Portanto, os cuidados para evitar uma desidratação precisam ser levados a sério: mesmo uma desidratação leve, ou seja, uma perda de apenas 1% do peso corporal, chega a levar à hipotensão (queda da pressão) e causa sintomas como tontura, fraqueza, fadiga, desmaio e arritmias cardíacas.

Pessoas suando praticando hot yoga. Foco nos pés elevados. Crédito: zjuzjaka/Shutterstock

Pressão alta: outro ponto de atenção

Os hipertensos precisam ter cuidado ao praticar hot yoga. Além dos pontos já mencionados, medicamentos para controlar a pressão, como diuréticos (aumentam a perda de líquidos), vasodilatadores (relaxam e dilatam os vasos, aumentando o fluxo de sangue) e betabloqueadores (diminuem a capacidade do coração de aumentar a frequência cardíaca em resposta ao esforço) também são capazes de influenciar na resposta do corpo a esse tipo de yoga, intensificando os riscos.

Assim, é essencial que indivíduos que têm pressão alta consultem e tenham a liberação de seu médico antes de iniciar a prática, monitorem regularmente a pressão, mantenham-se sempre bem hidratados e fiquem atentos a qualquer sintoma incomum durante a atividade.

Todo mundo vai passar mal e ter problemas?

Não! O hot yoga pode ser seguro para pessoas saudáveis e quando feito de forma consciente e com a hidratação adequada. Mas é preciso, como alertado, ter cautela. A combinação do exercício intenso com o calor extremo se torna particularmente perigosa para indivíduos não acostumados a essas condições ou que tenham predisposição ou questões cardiovasculares já diagnosticadas.

Vale reforçar que o quadro de estresse térmico resulta em respostas fisiológicas que levam ao aumento da sudorese, das frequências cardíacas e respiratórias, da espessura do sangue e a vasodilatação. Essas alterações tem potencial para gerar desequilíbrios no funcionamento do coração, na pressão arterial, provocar uma inflamação sistêmica e prejudicar o processo de coagulação.

O cenário, especialmente quando somado a fatores de risco (como a hipertensão), cardiopatias ou complicações cardiovasculares, é capaz de desencadear a ruptura de ateroma ou placa aterosclerótica e, consequentemente, um infarto do miocárdio ou acidente vascular cerebral (AVC). Em condições como a insuficiência cardíaca, onde o coração já tem dificuldade em bombear sangue adequadamente, o esforço extra também pode ser muito perigoso.

Outros cuidados

Não devemos esquecer mais uma precaução importante: ao fazer exercícios em ambientes de temperaturas altas, é recomendado diminuir a intensidade da atividade para evitar lesões. O calor muitas vezes provoca a sensação de soltura e analgesia, e passamos a ficar com a musculatura mais relaxada. Assim, a capacidade de alongamento parece maior, sendo mais fácil exagerar. Vale ressaltar por fim o cuidado com o contraste de temperatura, ou seja, a exposição ao frio logo após o calor.

A importância do check-up regular

O coração muitas vezes não dá sinais prévios de problemas até que eles realmente se manifestem, em muitos casos já de forma grave. Por isso, antes de iniciar qualquer atividade, mesmo acreditando estar saudável, é essencial fazer uma avaliação médica e um check-up geral - incluindo o cardiológico - para verificar se a saúde está em dia.


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