Atualmente, dois conceitos vêm sendo muito abordados sobre a pessoa com Deficiência Intelectual na fase do envelhecimento, com relação às Atividades de Vida Diárias (AVDs): a independência e a autonomia.
Essas palavras, muitas vezes consideradas como sinônimos, na verdade têm diferentes significados e formas de intervenção. E é extremamente importante destacarmos esse assunto, pois grande parte dos profissionais, familiares, cuidadores e a sociedade confundem esses conceitos.
A independência refere-se à capacidade funcional da pessoa fazer suas atividades sem auxílio e está intimamente relacionada às estruturas do corpo, como por exemplo: capacidade de vestir-se, músculos e articulações do corpo, preensão, visão, coordenação motora entre outros. Havendo restrição em alguma estrutura do corpo poderá haver interferência na independência.
Quando falamos em autonomia nos referimos à capacidade de decisão e consciência sobre as consequências das escolhas. Um exemplo, que permite maior entendimento do que estamos falando, é o físico e cientista britânico Stephen William Hawking, 75 anos, diagnosticado com uma doença degenerativa e que não consegue movimentar seus músculos, porém consegue fazer escolhas e comandar sua vida, assim é dependente para realizar as atividades, mas autônomo para decidir o que deseja em sua vida.
Correlacionando esses conceitos à população idosa com Deficiência Intelectual, devemos compreender o indivíduo como um todo, suas capacidades, limitações e principalmente o contexto histórico e familiar ao qual está inserido, o isolamento social e a superproteção refletem na autonomia e independência significativamente.
Durante muito tempo a abordagem da pessoa idosa com Deficiência Intelectual foi realizada de forma infantilizada e com objetivo unicamente educativo, a prerrogativa de incapacidade era uma marca imposta, tanto pela sociedade, quanto pelo núcleo familiar, a realização de atividades diversas, escolhas pessoais de vida e necessidades individuais eram negligenciadas.
A falta de incentivo à autonomia é um empecilho para o desenvolvimento da pessoa idosa com Deficiência Intelectual, os déficits de autonomia e independência são encontrados nessa população em especial e a fase avançada de vida dos seus genitores dificulta a prestação de cuidados na realização de atividades de vida diária, visto que foram assistidos durante toda a vida.
A perpetuação da condição de incapacidade dificulta a exploração de potencialidade e leva à ausência de ganhos de habilidades e aprimoramento de competências.
Segundo Moraes (2012) “define-se saúde como uma medida da capacidade de realização de aspirações e da satisfação das necessidades e não simplesmente como a ausência de doenças”, a Política Nacional de Saúde da Pessoa Idosa considera que “o conceito de saúde para o indivíduo idoso se traduz mais pela sua condição de autonomia e independência que pela presença ou ausência de doença orgânica.”
No Estatuto da Pessoa com Deficiência, o artigo 38, refere que é direito fundamental ao acesso à habilitação e reabilitação e deve possibilitar que a pessoa conquiste e conserve o máximo de autonomia com plena inclusão e participação em todos os aspectos da vida.
Diante disto faz-se necessário um trabalho de orientação para as famílias e cuidadores sobre a estimulação constante da independência e autonomia para que a pessoa com Deficiência Intelectual tenha saúde, como definido acima, e torne-se indivíduo empoderado de sua própria vida, conseguindo sua autogestão e iniciando atividades, como: comer de garfo e faca, amarrar o cadarço, utilizar o transporte público, escolher o que gosta de comer, comprar a roupa que deseja, ser ouvido na conversa de um grupo, ter o direito de portar seu próprio documento de identidade entre outros. Essas atividades parecem simples e muito distantes da realidade de uma pessoa idosa, mas considerando que as pessoas com Deficiência Intelectual sempre foram tratadas como “eternas crianças” é muito comum que estas condições simples da vida cotidiana sejam tolhidas destas pessoas.