Se você tivesse saúde, gostaria de viver até os 1.000 anos? Pois essa é justamente a oportunidade que o biomédico e gerontologista inglês Aubrey de Grey, de 53 anos, formado em Ciências da Computação pela Universidade de Cambridge, afirma ter para oferecer ao mundo.

Cofundador da ONG Fundação Sens (Strategies for Engineered Negligible Senescence, algo como Engenharia para Minimizar os Efeitos do Envelhecimento, em português), baseada nos Estados Unidos, o cientista esteve em São Paulo nesta semana, onde proferiu uma palestra na “Folha de S. Paulo”.

Sua ideia central é a de que o envelhecimento é um processo reversível, apesar do descrédito de boa parte da comunidade científica. "Biólogos proeminentes acham errado corrigir o envelhecimento, alegando que seria antinatural e criaria novos problemas, como superpopulação e dificuldades com o sistema da Previdência", afirmou. Mas, para ele, a verdade é que essa discussão não é levada adiante porque "todos morrem de medo de envelhecer e, por isso, preferem nem pensar no assunto".

"Eu sou mais corajoso. Quero enfrentar o envelhecimento e me livrar dele", disse o cientista. Ele conta que, há 15 anos, teve uma grande ideia: bolou a "manutenção preventiva completa do corpo humano". Sua filosofia se baseia no princípio da reparação dos danos causados pelo funcionamento natural do organismo, o que evitaria o surgimento das doenças relacionadas à idade, como o Alzheimer.

Segundo o cientista, diferentemente dos tratamentos que já existem hoje, em que a maior parte das pessoas faria apenas "manutenções parciais", a manutenção preventiva completa pensada por ele agiria para limpar do corpo os detritos gerados pelo metabolismo humano.

“Precisamos ir reparando os danos que o corpo humano causa a si mesmo durante a vida”

"Por muitos anos, as sociedades têm gastado muito dinheiro na tentativa de criar tratamentos para as doenças relacionadas à idade. Essa abordagem não vai funcionar. Precisamos ir reparando os danos que o corpo humano causa a si mesmo durante a vida", prega. "O corpo é uma máquina, como um carro ou um avião; foi feito para tolerar um certo nível de danos, mesmo sem manutenção, mas, por volta da meia-idade, começa a precisar lidar com os danos que foram se acumulando com o tempo."

De Grey afirma que seus estudos pretendem criar, nos próximos 20 anos, medicamentos e tratamentos para reduzir ou reparar esses danos antes que seu acúmulo chegue ao ponto de causar as doenças. Além da limpeza de detritos, isso implicaria ainda a reposição de células perdidas.

Seriam os radicais livres os "vilões" nesse processo? Precisaríamos acabar com eles? A resposta de De Grey para isso é não. "Eles têm grande importância no processo de envelhecimento, mas são, na maioria, consequência da respiração. Para nos livrarmos deles, precisaríamos parar de respirar. Mas podemos corrigir os danos que eles causam", explica. Como? Por exemplo: se um radical livre torna uma proteína indigerível, precisamos criar uma tecnologia que se livre dessa proteína. "É esse tipo de pesquisa que fazemos na fundação."

Apesar de as ideias serem promissoras, segundo Aubrey de Grey, faltam recursos para avançar com as pesquisas e, por isso, a maior parte das soluções ainda está longe do nosso alcance. "Por enquanto não fazemos testes clínicos com humanos; só testamos ratos e células", diz.

Mas há soluções mais próximas da nossa realidade, como a terapia de células-tronco, que hoje já repara as células que morrem e não são substituídas pelo próprio corpo. De acordo com De Grey, já existem alguns tratamentos com células-tronco para problemas relacionados ao envelhecimento que estão próximos de serem implantados, como no caso da doença de Alzheimer.

O que De Grey prega é que mais tecnologias como essa sejam criadas. E o custo dos tratamentos para os pacientes do futuro, segundo ele, pode ser zero. "Essas terapias podem ser ofertadas de graça. O envelhecimento é caro: 90% dos recursos dos países ricos vão para os idosos atualmente. Prevenção é muito mais barato."

A resposta do cientista para quem questiona os potenciais problemas que a vida mais longa da população poderia acarretar ao planeta é que "novas tecnologias vão surgir para solucionar essas questões".

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