Para os especialistas, é difícil afirmar com toda a certeza se uma pessoa com diabetes vive mais e melhor do que alguém sem a condição. Tudo depende dos cuidados que essa pessoa tem com a sua saúde, como ela monitora a doença e se ela tem algum tipo de complicação proveniente da mesma.
De acordo com Lenita Zajdenverg, chefe do serviço de Nutrologia e Diabetes do Hospital Universitário Clementino Fraga Filho da UFRJ e vice-presidente da Sociedade Brasileira de Diabetes, não existe uma resposta única, pois é uma questão muito heterogênea. “A longevidade de uma pessoa com diabetes vai depender do seu cuidado, do controle glicêmico adequado e da presença (ou não) de complicações da doença”, afirma.
Outros fatores, como o controle da pressão arterial e do perfil lipídico, a manutenção do colesterol em níveis adequados e a prevenção contra o triglicerídeo excessivo e contra a obesidade, podem contribuir para a qualidade de vida de quem tem diabetes. Assim, tomando essas precauções, as chances de que não tenha complicações são maiores.
Pessoas com diabetes se cuidam mais?
Para Lenita, o diagnóstico positivo é uma chance para começar a seguir uma dieta mais adequada, com restrição do consumo excessivo de gordura e de sal, além do incentivo à prática de atividade física. “Então essas pessoas têm, após o diagnóstico da doença, uma oportunidade de manter uma vida mais saudável”.
Ela também explica que, em oposição, pessoas que não possuem a condição acabam relaxando e deixando a saúde de lado, seja em relação à alimentação, seja em relação ao sedentarismo. Por isso, existe a possibilidade de que os indivíduos que estão atentos à sua diabetes estão com a saúde mais adequada do que aqueles sem a patologia e que não se cuidam.
O aumento da expectativa de vida
De acordo com Lenita, estudos recentes mostram que a expectativa de vida das pessoas que possuem a condição aumentou em comparação às últimas décadas. Isso vale tanto para pessoas com diabetes tipo 1, quanto para pessoas com diabetes tipo 2. “Isso se dá pelo maior acesso ao medicamento, ao tratamento, à melhoria do aporte de saúde em geral e ao reconhecimento da importância de medidas não medicamentosas, como a mudança de hábitos de vida”, explica a médica.
Por exemplo, em comparação ao século passado, as pessoas têm muito mais conhecimento sobre os danos do cigarro, do sedentarismo e de uma alimentação rica em gordura. Dessa forma, elas se previnem e se cuidam mais, aumentando suas chances de sobrevivência e longevidade.
Em relação especificamente ao diabetes, Lenita recomenda firmemente às pessoas diagnosticadas que sigam o tratamento e façam uso regular da medicação. “É importante que todo indivíduo com diabetes entenda que é uma doença crônica e que o uso das medicações deve ser feito ao longo de todo a sua vida. Sob orientação médica, é claro”, afirma.
Antes de prosseguirmos, vale a pena relembrarmos quais são os dois tipos de diabetes mais comuns. O tipo 1, que afeta entre 5 e 10% das pessoas nessa condição e aparece geralmente na infância. Nesse caso, o sistema imunológico ataca equivocadamente as células beta, responsável por produzir insulina. Logo, pouca ou nenhuma insulina é liberada para o corpo. Dessa forma, a glicose fica no sangue, em vez de se transformar em energia. O diabetes tipo 2 aparece quando o organismo não produz insulina suficiente ou não consegue usar adequadamente o hormônio produzido. Cerca de 90% das pessoas com diabetes têm o Tipo 2, que se manifesta mais frequentemente em adultos.
Os riscos de quem tem diabetes
Por outro lado, o endocrinologista Wilson Cunha Jr. afirma que pessoas com diabetes tendem a viver menos devido a algumas complicações crônicas, como no cérebro, no coração, nos rins e na circulação. Também existe uma maior ocorrência de acidente vascular cerebral (AVC), infarto agudo do miocárdio (IAM), insuficiência renal com necessidade de hemodiálise e amputação de membros.
As chances de desenvolver complicações infecciosas também são grandes, além de câncer intestinal, câncer endométrio, câncer uterino, câncer de mama e câncer de bexiga em quem tem diabetes tipo 2 e obesidade. Assim, são consideradas pessoas com alto risco de mortalidade precoce.
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Por causa disso, Cunha reforça que quem tem a condição precisa seguir uma dieta equilibrada, fazer atividades físicas regularmente, marcar consultas periódicas com algum clínico geral ou médico especialista e aderir ao tratamento medicamentoso.
“Nem todas as pessoas se cuidam, principalmente por causa da falta de informação”, comenta. Por isso, nem sempre uma pessoa com diabetes será tão longeva quanto uma pessoa que não tem a patologia.
De acordo com o endocrinologista, estudos realizados no Reino Unido em 2020 revelaram uma redução da expectativa de vida de 10 anos para quem tem diabetes tipo 2 e de 20 anos para quem tem diabetes tipo 1 em comparação com alguém sem a condição. “O tratamento pode melhorar a qualidade e a expectativa de vida, mas não mais do que a das pessoas que não possuem diabetes”, conclui.