Normalmente, o corpo metaboliza os carboidratos ingeridos em glicose, um tipo de açúcar especial responsável por alimentar as células do organismo. Mas para que as células absorvam essa glicose e a transformem em energia, é necessária a ação de um hormônio produzido pelo pâncreas: a insulina.
Quando o pâncreas não produz insulina suficiente ou o organismo desenvolve uma resistência à absorção desse hormônio, acontece uma condição de saúde conhecida como diabetes.
Existem dois tipos principais de diabetes, mas hoje vamos falar apenas do tipo 2, responsável por 95% dos casos em adultos. No entanto, há alguns anos as autoridades de saúde vêm alertando para o aumento do número de diagnósticos do tipo 2 em indivíduos mais jovens.
De acordo com a endocrinologista Maria Edna Melo, membro da Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia, essa condição ocorre quando existe uma resistência à ação da insulina e o corpo não consegue produzir a quantidade suficiente da mesma para manter a glicemia dentro da faixa de normalidade. Sua principal causa continua sendo os maus hábitos alimentares que, aliados ao sedentarismo, causam excesso de peso, o que traz dezenas de outras comorbidades, como o aumento da pressão arterial.
"A obesidade e o diabetes caminham juntas. A pessoa que tem tendência genética, se alimenta mal e não pratica hábitos saudáveis para a sua saúde vai acabar ganhando peso. Se ela tem uma pré-disposição ao diabetes, ela possivelmente desenvolverá a doença", explica a especialista.
Mas como descobrir se há uma pré-disposição? "Observar o histórico familiar é uma forma muito mais eficiente para prever os riscos de se desenvolver o diabetes tipo 2 do que muitos testes genéticos encontrados em farmácias no exterior", garante Maria Edna. Para ela, trata-se de um alerta vermelho para que a pessoa mude seus hábitos alimentares e busque atividades físicas que melhorem sua saúde, lembrando-se sempre de manter o peso mais saudável.
Veja abaixo 10 curiosidades sobre o diabetes tipo 2
1. O número de casos de diabetes tipo 2 (DM2) vem aumentando nas últimas décadas em decorrência do aumento do sedentarismo e da piora dos hábitos alimentares que caracterizam a vida urbana moderna, levando a consequentes excesso de peso e obesidade. O fato também tem gerado um aumento de casos entre jovens e adolescentes.
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"As crianças de hoje não brincam como nós brincávamos, ficam em casa, vendo TV e jogando no celular. Da mesma forma, também não se alimentam como deveriam", alerta a nutricionista Adriana Gonçalves, especialista em nutrição infantil. "A correria do dia a dia dos pais, somada a uma maior oferta de alimentos processados de rápido e fácil preparo, são grandes responsáveis por essa situação", avalia a especialista.
2. O DM2 manifesta-se apenas em pessoas geneticamente suscetíveis, de modo que ter familiares com diabetes já é um fator de risco para desenvolver a doença.
3. Para o diagnóstico de diabetes, utiliza-se valores de glicemia de jejum (maior ou igual a 126 mg/dl em duas ocasiões) ou após a ingestão de uma quantidade específica de glicose (colhendo-se a glicemia 2 horas depois com valor maior ou igual a 200 mg/dl). Em glicemia aleatória colhida em qualquer momento, o diabetes se caracteriza por um valor maior ou igual a 200 mg/dl.
4. O diabetes não tem cura. Uma vez que a quantidade de glicose no sangue do paciente ultrapasse os valores adequados, será necessário um cuidado contínuo para que a pessoa consiga estabilizar esses valores e, uma vez estabilizados, evitar que voltem a subir.
"É possível controlar e entrar em remissão, fase em que a glicemia fica dentro dos valores normais. Mas a partir do momento que o paciente abandonar os hábitos que o levaram a essa melhora, o diabetes poderá voltar. Os cuidados têm que ser para o resto da vida", explica Maria Edna. Ela acrescenta que é importante ter consciência do que está sendo consumido. "Algumas pessoas falam que o importante é ficar tranquilo e escutar o que o corpo pede. Não é bem assim! Quando o corpo funciona de forma alterada, ele pede errado", alerta.
5. O pré-diabetes é diagnosticado em pessoas com valores de glicemia de jejum entre 100 e 125 mg/dl e/ou entre 140 e 199 mg/dl. Esses valores já não são mais normais, porém não são tão elevados para diagnosticar o diabetes. De acordo com a endocrinologista da SBEM, neste momento o problema ainda pode ser evitado. "Ao adotar uma rotina mais estruturada, mais adequada, é provável que essa pessoa saia da faixa de risco", avalia.
6. O pré-diabetes ainda não provoca os sintomas clássicos do diabetes, que são aumento da sede, do volume urinário e perda não explicada de peso. No entanto, esses pacientes já possuem maiores chances de apresentar problemas graves de saúde, como infarto do miocárdio e acidente vascular cerebral (AVC).
7. Mudar o estilo de vida é o primeiro passo para a redução do peso corporal e o controle dos valores da glicemia. "Reduzir as atividades sedentárias e aumentar a atividade física programada, tais como caminhada, corrida e natação, ou espontânea, como, por exemplo, subir escadas e não utilizar o carro para percorrer pequenas distâncias, é fundamental", garante a médica.
8. A mudança na alimentação não deve ser realizada utilizando como base dietas da moda. Em geral, é necessário reduzir a ingestão calórica, o consumo de alimentos ultraprocessados, carnes gordas e embutidos, aumentar o consumo de fibras, com o aumento de grãos integrais, leguminosas hortaliças e frutas e limitar a ingestão de bebidas e comidas açucaradas.
"Cada organismo funciona de uma maneira, e o que funciona para uma pessoa pode não funcionar para a outra. Parece óbvio, mas muitas pessoas insistem em pegar a receita que está sendo seguida pelo amigo, em vez de procurar um nutricionista para ter a sua própria dieta adequada às suas especificidades", aponta Adriana.
Maria Edna acrescenta: "as pessoas têm que parar de procurar a dieta mágica, o alimento mágico. Isso não existe. O importante é buscar o equilíbrio".
9. Embora haja evidência de uma relação entre bactérias intestinais e obesidade com suas alterações metabólicas, até o momento não há nada conclusivo para se recomendar mudanças alimentares baseadas nesses achados.
"Não há nada comprovado até hoje sobre o uso de probióticos. Existem estudos, mas nada foi comprovado", enfatiza Maria Edna.
10. O DM2 é caracterizado por uma combinação de resistência à ação da insulina e deficiência na produção desse hormônio, além de alterações na resposta incretínica intestinal. Trata-se do tipo mais comum de diabetes, correspondendo a 95% dos casos no mundo.