Na contramão do mundo, onde ela atinge mais homens, o diabetes em mulheres cresce no Brasil. O país é hoje o quinto em número de casos, atrás de China, Índia, Estados Unidos e Paquistão. Segundo a Federação Internacional de Diabetes, 3 em cada 4 pessoas com essa condição de saúde têm idade ativa (ou seja, entre 20 e 64 anos) e as projeções mundiais indicam que esse número de 352 milhões deve aumentar para 417 milhões em 2030 e para 486 milhões em 2045.
Por aqui, estima-se que 10,4 milhões de mulheres e 7,7 milhões de homens vivam com o diabetes, afirma a endocrinologista Tatiana Denck Gonçalves, da Clinere. “Rotina de trabalho pesado, estresse, sedentarismo e alimentação inadequada contribuem – e muito – para o surgimento do diabetes tipo 2”, pontua. “As mulheres estão ganhando peso e cada vez mais precocemente, o que faz com que elas apresentem um risco maior de desenvolver a doença”.
Afora isso, observa Ana Cristina Ravazzani de Almeida Faria, professora de endocrinologia e metabologia da Escola de Medicina da Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUCPR), “um número menor de mulheres (31,8%), em comparação aos homens (45,4%), pratica atividade física regular no seu tempo livre”, citando dados da última pesquisa da Vigilância de Fatores de Risco e Proteção para Doenças Crônicas por Inquérito Telefônico (Vigitel), do Ministério da Saúde.
A endocrinologista aponta, também, que algumas doenças que acometem especificamente as mulheres contribuem para o surgimento do diabetes tipo 2, como a Síndrome dos Ovários Policísticos (condição endocrinológica que acomete de 5% a 10% das mulheres em idade fértil e impacta negativamente na resistência à insulina) e o diabetes gestacional (na qual a grávida tem dificuldade de absorver o açúcar no sangue).
O que é diabetes?
Diabetes é um distúrbio do metabolismo da glicose causada pela falta ou má absorção de insulina, hormônio produzido pelo pâncreas e cuja função é quebrar as moléculas de glicose para transformá-las em energia, a fim de que seja aproveitada por todas as células. A ausência total ou parcial desse hormônio interfere não só na queima do açúcar como na sua transformação em outras substâncias (proteínas, músculos e gordura).
Há dois tipos:
Diabetes tipo 1 - O pâncreas produz pouca ou nenhuma insulina. A instalação dessa condição ocorre mais na infância e adolescência e a pessoa é insulinodependente, requerendo a aplicação de injeções diárias do hormônio.
Diabetes tipo 2 – As células são resistentes à ação da insulina. Em geral, acomete as pessoas depois dos 40 anos de idade, que podem não ser insulinodependentes.
“Nos casos de diabetes tipo 2, que representam mais 90% de todos os diagnósticos registrados, os principais fatores de risco – com exceção do histórico familiar – são diretamente ligados à influência dos hábitos do dia a dia, como o sedentarismo e a alimentação rica em calorias e gorduras”, afirma a endocrinologista da Clinere.
Aliadas ao fato de praticarem menos exercício, diz Tatiana, “essas condições expõem as mulheres a um maior risco de desenvolver a síndrome metabólica, uma série de condições de saúde relacionadas entre si – como pressão alta e excesso de colesterol e de gordura abdominal – e que podem levar ao desenvolvimento não apenas do diabetes, mas também de doenças cardiovasculares e depressão”.
Diabetes em mulheres: doença silenciosa
“Estima-se que cerca de 50% dos diabéticos não saibam de seu diagnóstico”, observa a professora da PUCPR.
Mas, há, sim, alguns sinais de alerta:
- Alterações visuais;
- Aumento do apetite;
- Distúrbios cardíacos e renais;
- Feridas, especialmente nos membros inferiores, que demoram a cicatrizar;
- Fraqueza, dormência e dor nas mãos ou nos pés;
- Infecções fúngicas na pele ou nas unhas;
- Impotência sexual;
- Sede excessiva.
O excesso de peso e, principalmente, o acúmulo de gordura na região abdominal são os fatores mais importantes para o desenvolvimento de resistência à ação da insulina e, consequentemente, do diabetes. “A obesidade abdominal ocorre entre aqueles com circunferência da cintura acima de 88 cm, no caso das mulheres, e de 94 cm, nos homens. Todas as mulheres nessa condição estão sob o risco eminente de ter diabetes”, adverte a endocrinologista.
Mas atenção, pontua Tatiana: “Muitas pessoas magras ou com peso normal têm diabetes e muitas pessoas com sobrepeso nunca desenvolvem a doença. O exercício tem ação anticoagulante, ajuda a dilatação dos vasos e melhora a resistência à insulina, tendo um efeito contrário ao da obesidade. Mas um obeso que se exercita pode ter menos chance de evoluir com diabetes do que um magro sedentário”.
Segundo ela, em muitos indivíduos considerados magros, o diabetes se desenvolve devido ao acúmulo de gordura em torno dos órgãos viscerais. “Essa gordura pode fazer com que substâncias inflamatórias afetem o fígado e o pâncreas, diminuindo a sensibilidade à insulina, levando a um aumento no risco de diabetes do tipo 2. Neste caso, a pessoa parece ser magra, mas, na verdade, o corpo está se comportando como se fosse um obeso.”
Diabetes em mulheres: como prevenir
A melhor forma de prevenir o diabetes e diversas outras doenças é a prática de hábitos saudáveis no combate à obesidade.
- Comer diariamente verduras, legumes e, pelo menos, três porções de frutas;
- Reduzir o consumo de sal, açúcar e gorduras (principalmente trans e saturada);
- Praticar exercícios físicos regularmente (pelo menos 30 minutos, todos os dias);
- Manter o peso controlado;
- Dormir bem (em torno de 7 a 8 horas por noite);
- Parar de fumar.
Embora seja um problema que acometa pessoas de todas as idades, o diabetes em idosos é mais comum, já que o envelhecimento reduz algumas funções do organismo, como o controle das taxas de glicose.
“Segundo a última Vigitel, quase um terço dos diabéticos têm 65 anos ou mais. O tipo 2 da doença, que é o mais prevalente, está relacionado ao envelhecimento, ao sedentarismo e à obesidade, sendo que esses dois últimos fatores, por sua vez, se intensificam com o avançar da idade”, diz a endocrinologista.
Isso torna o idoso mais sujeito não só ao surgimento do problema, mas também às suas consequências mais graves. “O risco de ter uma doença cardiovascular ou um infarto é maior, e as complicações como amputações, cegueira e insuficiência renal ficam mais evidentes nessa faixa etária. Além disso, com as dificuldades econômicas, muitas vezes causadas pela redução da renda depois da aposentaria, alguns não conseguem comprar todos os medicamentos, ocasionando um diabetes descontrolado e com maior risco de complicações.”