Alteração no ritmo dos batimentos cardíacos pode ser um sinal de alerta

O coração é o responsável pela distribuição do sangue por todo o corpo, fornecendo oxigênio e nutrientes aos órgãos e tecidos. Para isso, o músculo cardíaco funciona como uma bomba, mantendo um ritmo de contração e relaxamento contínuo, medido por minuto, o que chamamos de frequência cardíaca. Em condições normais de saúde e sem estímulos externos, nossa frequência varia de 60 a 80 batimentos por minuto. Entre as crianças, devido às suas necessidades fisiológicas de desenvolvimento, esse número é de 120 a 140/minuto.

Quando o ritmo dos batimentos sai dessa faixa considerada ideal dizemos que o coração está com uma arritmia, termo geral para indicar a alteração da frequência cardíaca. A aceleração é chamada de taquicardia e a batida mais lenta recebe o nome de bradicardia. Provavelmente você já ouviu falar bastante sobre a taquicardia, mas você sabe o que causa a desaceleração do coração e quais os perigos de isso ocorrer?

Como funciona nossa frequência cardíaca

Para entender mais sobre o funcionamento do órgão e as consequências da mudança na frequência, vamos a alguns detalhes importantes: nosso coração tem quatro câmaras, duas superiores (átrios) e duas inferiores (ventrículos). Dentro da câmara superior direita (átrio direito) há um grupo de células chamado nó sinusal, considerado o marca-passo natural do coração. É ele que produz o sinal que inicia cada batimento cardíaco. A bradicardia ocorre quando esses sinais diminuem ou são bloqueados.

A partir daí, o músculo cardíaco passa a bater de forma mais lenta do que o esperado, ou seja, abaixo de 60 batimentos/minuto. Para muitas pessoas, a condição não causa sintomas ou é motivo de preocupação. Por exemplo, um batimento cardíaco em repouso, isto é, entre 40 e 60 batimentos por minuto é comum durante o sono, momento em que entramos em estado de compensação de energia.

Aqui é válido lembrar que as mensagens que regulam nosso sistema circulatório e a variação nos batimentos vêm do nosso cérebro - dos sistemas nervosos simpático e parassimpático. É por eles que chegam informações sobre as necessidades e adaptações do organismo para as mais diversas circunstâncias, como condições climáticas, posição corporal, necessidades fisiológicas, grau de estresse, condicionamento físico e nível de atividade.

Quem tem mais probabilidade de apresentar a bradicardia?

A bradicardia pode acontecer com indivíduos de qualquer idade e condição de saúde, e apenas para alguns representar um problema. Entretanto, é mais comum em adultos acima de 65 anos – a tendência é de o ritmo cardíaco diminuir naturalmente à medida que envelhecemos. Porém, jovens, saudáveis e em boa forma física, a exemplo de atletas, também fazem parte do grupo de maior probabilidade.

No caso de pessoas muito ativas fisicamente, que se exercitam regularmente, a bradicardia pode ocorrer porque o coração bombeia o sangue com mais eficiência e atende às necessidades do corpo mesmo batendo devagar. Portanto, uma frequência baixa nem sempre é sinal de um coração mais fraco.

Principais causas

O fato é que a bradicardia pode acontecer por uma ampla gama de razões e, como dito, apenas em alguns casos ser prejudicial. É possível que ocorra devido a certas condições cardiológicas com as quais nascemos (cardiopatias congênitas), sendo elas genéticas ou não, ou por consequências de questões que se desenvolvem ou surgem no decorrer da vida.

Podemos mencionar, por exemplo, uma disfunção no sistema de automatismo do coração, levando a uma redução acentuada dos batimentos (disfunção do nó sinusal); bloqueio na transmissão dos impulsos elétricos (bloqueios atrioventriculares) ou por consequência de inflamações no órgão: inflamação do revestimento interno do coração (endocardite), do próprio músculo cardíaco (miocardite) ou do saco pericárdico que segura e amortece o coração (pericardite). Também pode acontecer devido a certos problemas nutricionais e distúrbios alimentares (entre eles a anorexia nervosa).

Bradicardia: quando o coração bate mais devagar

Crédito: Dragana Gordic/shutterstock

Dentre as potenciais causas podemos citar ainda uma bradicardia em decorrência de: deficiências eletrolíticas (a não obtenção de eletrólitos como cálcio, magnésio e potássio), na reparação e substituição de válvulas cardíacas, por alterações nos níveis de hormônio tireoidiano (hipotireoidismo), febre reumática, doença cardíaca reumática, doença de Lyme, doença de Chagas, insuficiência cardíaca, doença das artérias coronárias, infarto do miocárdio, síndrome do Q-T longo, lúpus, artrite reumatoide, hipotermia (baixa temperatura corporal) e hipertensão intracraniana.

Além disso, alguns medicamentos podem ser responsáveis por baixar o ritmo do coração, o que em algumas situações ocorre de forma proposital e benéfica. O quadro é comum, por exemplo, em pacientes que tratam de arritmias e portadores de insuficiência cardíaca: os remédios utilizados para a insuficiência diminuem os batimentos dentro da faixa de frequência desejada (sempre acima de 50 batimentos/minuto) e favorecem o aumento da força de contração do músculo cardíaco. Assim, reduzem o trabalho do coração e por consequência também o consumo de oxigênio pelo miocárdio, melhorando o desempenho do órgão.

Sintomas e complicações

Entre os principais sinais da bradicardia estão: desmaios (síncope), incapacidade do coração em bombear sangue suficiente (insuficiência cardíaca), dor ou incômodo na região do peito (angina), falta de ar, fadiga, palpitações, problemas de memória, confusão, dificuldade de concentração, tontura e, em quadros mais graves, até uma parada cardíaca ou morte súbita.

Diagnóstico e tratamento

Portanto, a frequência nos batimentos abaixo dos valores considerados normais pode indicar problemas no funcionamento do órgão, mas, como vimos, não é uma regra. É necessário sempre investigar caso a caso. Geralmente, o diagnóstico da bradicardia é feito com base em uma combinação de testes de laboratório e exames físicos, especialmente aqueles que medem o ritmo cardíaco, como o eletrocardiograma e a monitorização dos batimentos em 24 horas, conhecido como Holter.

Aliás, um estudo da variabilidade dos batimentos pode ser valioso na descoberta e tratamento de complicações da saúde cardiovascular bem como quando usado como ferramenta complementar na prescrição de exercícios físicos para sedentários e cardiopatas. Essa mesma observação em pacientes hipertensos, diabéticos ou obesos também pode definir o grau de risco de eventos no coração.

De modo geral, a bradicardia é tratável e muitas vezes tem cura. Estão entre as principais formas de tratamento: medicamentos, estimulação temporária ou a colocação de um marca-passo permanente. Porém, pode ser um problema para toda a vida - a causa subjacente é normalmente o que decide quanto tempo ela durará. Se a bradicardia ocorrer por causa de outra condição, em grande parte dos casos, tratar a questão é o necessário para que a frequência cardíaca volte ao ritmo normal.

Por isso, o diagnóstico precoce e o início imediato do tratamento em eventos que envolvem o coração são tão importantes. Atrasos podem aumentar o risco de agravamento ou morte. Sendo assim, ao suspeitar da condição, é fundamental procurar avaliação médica para identificar e tomar todas as medidas necessárias.

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