Na madrugada do último domingo (15), o país foi surpreendido com a notícia da morte do cantor português Roberto Leal, aos 67 anos, devido a complicações causadas por um câncer de pele. A doença, descoberta em janeiro deste ano, era do tipo melanoma, um tipo bastante agressivo de câncer de pele, porém de baixa incidência na população.
Números divulgados pelo Inca (Instituto Nacional do Câncer) mostram que, todos os anos, no Brasil, são registrados cerca de 600 mil novos casos de câncer de todos os tipos, dos quais 170 mil são de câncer de pele.
O chefe da Seção de Dermatologia do Inca, Dolival Lobão, explica que os cânceres de pele podem ser divididos em dois grupos: os melanomas e os não-melanomas. “Apenas 4% ou 5% são de melanomas, mesmo tipo de câncer de pele que causou a morte de Roberto Leal”, observa Lobão.
Ele conta que o melanoma tem uma capacidade muito alta de produzir metástase, que é quando o câncer sai da pele e se instala em outro órgão causando lesões, e é aí que se dá a gravidade do melanoma.
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Para Elimar Gomes, médico da Sociedade Brasileira de Dermatologia (SBD), os números são subestimados. “De melanomas, especificamente aqui no Brasil, a gente acredita num número de 6 mil casos por ano. Mas é um valor subestimado, o número pode ser bem maior do que isso”, destaca. “O problema é que o melanoma é descoberto muito tarde, ou seja, quando já saiu da pele e fez metástase em outros órgãos”.
No país, cerca de 1800 pessoas morrem todos os anos vítimas de câncer de pele, do tipo melanoma. “São mais de 4 mortes por dia”, ressalta Gomes. “Na prática, outras 3 pessoas, além do cantor Roberto Leal, morreram naquele mesmo dia e pelo mesmo motivo”.
Já o outro tipo de câncer de pele, conhecido como não-melanoma ou carcinoma, apresenta uma incidência bem maior entre a população, 180 mil casos todos os anos. E apesar de menos agressivo, também tem causado a morte de 1800 pacientes todos os anos. “O curioso é que ambos os tipos causam o mesmo número de mortes por ano, embora o número de casos seja muito diferente. Somando as duas estatísticas, temos aproximadamente 4 mil casos de óbitos todos os anos por câncer de pele”, lamenta o médico da SBD.
Sinal de alerta para o câncer de pele
Gomes alerta que, na maioria das vezes, o câncer de pele é negligenciado pelos brasileiros, o que não deveria acontecer. “O câncer de pele dá oportunidade para a gente descobrir que está com a doença, ele está visível para qualquer pessoa. Para suspeitar de um câncer de mama, a gente precisa fazer uma mamografia. Para suspeitar de um câncer de pulmão, também precisa fazer um exame. O câncer de pele não, basta olhar para a pele”, ressalta Gomes. Para ele, o maior desafio é fazer com que as pessoas tenham consciência de que a doença existe e que ela precisa ser reconhecida logo e tratada.
“Pessoas acham que ele [o câncer de pele] não é tão perigoso, que não pode provocar tantos danos e acaba que a doença avançada é tão grave quanto qualquer outro tipo câncer e pode provocar óbito, como o que aconteceu com o cantor Roberto Leal”, adverte.
Os sinais de alerta variam muito para cada tipo de câncer. Veja como reconhecê-los:
A) Melanomas - costumam causar pintas pelo corpo, com uma coloração diferente, muitas cores na mesma pinta e contornos irregulares. Diferentemente das pintas normais, que crescem devagar à medida que nós também vamos crescendo, os melanomas crescem de forma acelerada e vão mudando de formato ao longo do tempo.
Imagem de um melanoma. Créditos: Nasekomoe / shutterstock
B) Carcinoma – dividem-se em dois tipos, os espinocelulares (30% dos casos) e os basocelulares (70% dos casos). O carcinoma espinocelular geralmente é uma ferida na pele que não cicatriza e que tende a aumentar de tamanho. Também pode se apresentar como um caroço ou uma bolinha avermelhada. É mais comum em pessoas idosas e aparece, principalmente, nas áreas que ficam mais expostas ao sol, como rosto, lábio e dorso das mãos. Já o carcinoma basocelular geralmente se apresenta como uma bolinha brilhante, meio perolada, com pequenos vasos sanguíneos na superfície da pele e que cresce bem lentamente. Costuma sangrar com muita facilidade.
Imagem de um carcinoma. Créditos: jax10289 / shutterstock
“Na verdade, qualquer coisa que a gente perceba que está tendo um crescimento anormal, que dure por mais de uma semana e que a gente não saiba exatamente se é uma espinha, um furúnculo ou alguma lesão, vale a pena procurar um dermatologista para ter certeza de que aquilo não é um câncer de pele”, orienta Gomes.
Dolival Lobão observa que a maior incidência é em indivíduos com olhos claros e pele branca. “Essas pessoas têm menos melanina, que é uma proteção natural do corpo à radiação emitida pelo sol. O que não quer dizer que pessoas negras não possam ter o problema, ocorrendo com maior incidência nas palmas nas mãos e nas plantas dos pés”, explica Lobão.
“O mais importante é a gente pensar que o problema é grave e que levar a óbito. Mas se for diagnosticado cedo, quando a lesão ainda é inicial, a probabilidade de cura é de 90% para todos os tipos, mesmo para o melanoma”, completa Gomes.
Tipos de prevenção ao câncer de pele
Existem dois tipos de prevenção: a primária, que é reduzir os fatores de risco para não ter a doença; e a prevenção secundária, que diagnosticar a doença tão cedo que você consiga curá-la sem danos ao organismo.
Todos os tipos de câncer de pele são causados por exposição à radiação solar. Alguns, por queimaduras causadas ainda na infância, na juventude ou na idade adulta, por exposição intensiva e desprotegida ao sol (melanoma extensivo superficial). Outros, mais comum em pessoas idosas, é causado pelo solzinho de todos os dias (carcinoma espinocelular e o melanoma lentigo maligno).
Para Gomes, a melhor maneira de se prevenir é evitar a exposição excessiva ao sol. “Não significa somente usar protetor solar com fator 30 de 3 em 3 horas, mas também evitar a exposição direta e nos horários de sol forte, ficar na sombra, usar óculos e chapéu”, orienta Gomes.