Por Roberto Dranger
Não é de hoje que o mercado busca agilidade. Mas o que se observa agora vai além da velocidade: trata-se de precisão. As empresas estão entendendo que, em certos momentos, não é a juventude, a inovação ou a tecnologia que faltam — é maturidade. E é exatamente por isso que começa a ganhar força, ainda que de forma tímida no Brasil, o modelo conhecido como Senior-as-a-Service.
Essa abordagem consiste na contratação pontual de profissionais experientes, geralmente com décadas de atuação em cargos estratégicos, para resolver situações específicas dentro das organizações. São consultores? Não exatamente. São gestores interinos? Também não. São executivos prontos para entrar em campo quando a empresa enfrenta um momento crítico, precisa tomar decisões difíceis ou não pode se dar ao luxo de errar.
Nos Estados Unidos e na Europa, o modelo já se consolidou por meio de plataformas como a Business Talent Group, que conectam organizações a talentos altamente qualificados para projetos temporários, normalmente com duração de seis a doze meses. Não se trata de substituir lideranças ou interferir na cultura da empresa. Trata-se de entregar experiência concentrada em momentos em que a organização precisa de respaldo técnico, olhar externo e senso prático.
No Brasil, ainda há certa resistência cultural. Há um apego à ideia de que alguém de fora, chegando sem “história na casa”, não poderia entender a complexidade do negócio em pouco tempo. Mas o que muitas lideranças estão começando a perceber é que, justamente por não carregar os vícios, as relações internas e as disputas políticas, esse tipo de profissional pode atuar com foco total na entrega, com discrição, segurança e objetividade.
Crédito: Face Stock/Shutterstock
É uma solução que tem se mostrado particularmente útil em contextos de transição, como a saída de um executivo-chave, uma fusão em curso ou a preparação para uma rodada de investimentos. Em outros casos, o sênior é chamado para tocar um projeto específico, redesenhar um processo, acompanhar uma auditoria ou liderar uma área em transformação. Ele entra, atua com profundidade, transfere conhecimento e sai. Sem ambição de permanecer, mas com a missão clara de deixar algo melhor do que encontrou.
É uma lógica parecida com a dos médicos que são chamados para cirurgias complexas. Nem sempre são do hospital, nem sempre ficam para o pós-operatório, mas são indispensáveis naquele momento. O conhecimento acumulado ao longo dos anos se transforma em uma espécie de inteligência aplicada sob demanda. E é aí que mora o valor.
O Senior-as-a-Service não substitui o time, não disputa espaço com jovens líderes nem representa uma ameaça à cultura organizacional. Ele é, na verdade, um aliado silencioso da eficiência, da transição bem-feita e da decisão madura. E se o mercado brasileiro ainda está descobrindo esse modelo, não há dúvida de que ele veio para ficar. Em um mundo que exige respostas rápidas, às vezes a melhor resposta é alguém que já viu esse filme antes — e sabe exatamente como ele termina.
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