Você faz parte do grupo que acredita que problemas cardiológicos só acometem aqueles que têm mais idade e já passaram da quinta ou sexta década de vida? Pois é importante que todos entendam: eventos no coração podem atingir qualquer pessoa, tanto jovens como idosos!

Hoje em dia, em função do estilo de vida e da carga de estresse cada vez maior que estamos vivenciando, dar a devida atenção ao coração e manter em dia o check-up cardiológico passou a ser fundamental para todos. Estimativas apontam que aproximadamente 15% dos casos de infarto do miocárdio são desencadeados por estresse, fator que contribui, inclusive, para o crescimento do número de ataques cardíacos em adultos jovens.

Apesar de não existirem estudos tão recentes no Brasil, um levantamento do Ministério da Saúde aponta que os episódios em indivíduos com até 30 anos estão subindo gradualmente, com aumento de 13% na quantidade de casos (pesquisa de 2013). Segundo dados do DataSUS, em 2010, 2.288 pessoas com menos de 40 anos morreram de complicações decorrentes de um infarto. Seis anos depois foram registradas 2.746 vítimas, dentre elas 1.997 na faixa de 30 a 39 anos.

E os dados alarmantes não param por aí. A Organização Mundial da Saúde (OMS) aponta que as doenças cardiovasculares seguem como a principal causa de morte no mundo. No país, de acordo com a Sociedade Brasileira de Cardiologia, ao final de 2020, cerca de 400 mil pessoas virão a óbito por doenças do coração e circulação.

O que há de errado?

Ao avaliar os fatores que têm colocado em risco a vida de pessoas nessa faixa etária em decorrência de problemas cardíacos, como o infarto, percebemos que eles estão relacionados, principalmente, ao estilo de vida e a hábitos não saudáveis.

De modo geral, o jovem está cada vez mais sedentário. E isso mesmo antes de todas as mudanças causadas com a chegada do coronavírus e a necessidade da quarentena. Na era das telas e redes sociais, grande parte dos momentos de lazer não incluem atividades físicas.

Para se ter ideia da gravidade, a obesidade, doença que amplia as chances do ataque cardíaco, afeta 20% dos brasileiros (dados do Ministério da Saúde de 2018). Na última década, o índice quase dobrou nas faixas entre 18 e 44 anos. E, em 30 anos, praticamente triplicou nas crianças em idade escolar, provocando o aumento do diagnóstico de colesterol elevado, um dos fatores de risco para a doença arterial coronária (DAC) – enfermidade que provoca o fechamento da artéria coronária e, por consequência, a possibilidade do infarto do miocárdio.

Levantamentos apontam ainda para um crescimento significativo no número de pessoas diabéticas. De acordo com a International Diabetes Federation, em 2030, haverá mais de 500 milhões de diabéticos no mundo. O consumo de comidas processadas, com elevado teor calórico e excesso de açúcares, é o principal responsável pelo acometimento da doença nos mais jovens, aumentando o risco de morte precoce por infarto ou AVC (acidente vascular cerebral).

A prevalência de hipertensão arterial nos brasileiros também é crescente e preocupante. De acordo com o Ministério da Saúde, uma em cada quatro pessoas afirma ter o diagnóstico. E quando falamos da população com menos idade, os dados seguem o mesmo caminho: mais de 3,5 milhões de crianças e adolescentes são hipertensos.

Outro ponto de alerta para problemas cardiovasculares é o tabagismo. Entre 2016 e 2017, a taxa de fumantes na faixa de 18 e 24 anos cresceu de 7,4% para 8,5% (Fonte: Ministério da Saúde). O vício, quando adquirido na juventude, amplia o período de exposição do organismo ao cigarro, elevando ainda mais as chances do surgimento de doenças cardiovasculares.  Além disso, não podemos deixar de mencionar as drogas ilícitas, principalmente cocaína e suas variações sintéticas, que têm papel relevante no aumento das ocorrências de infarto em jovens, mesmo sem fatores de risco associados.

Hereditariedade

Além dos fatores que podemos interferir, como os mencionados acima, é importante pontuar também a questão do histórico familiar no desenvolvimento da doença arterial coronária. A investigação e o acompanhamento quando há registros de casos de pais e parentes próximos é extremamente importante. Aliás, quanto mais rápido for identificada a probabilidade da doença, melhor!  Assim, é possível interferir e monitorar, tratando qualquer alteração cardíaca a partir do diagnóstico precoce.

Contudo, isso não deve ser um pretexto, uma vez que hoje já se sabe que apesar da genética e da tendência em desenvolver a doença coronária, é possível minimizar as ameaças, fazendo um controle dos riscos que podem levar ao desenvolvimento do problema.

O que causa o infarto?

O infarto acontece por conta de uma isquemia cardíaca, ou seja, o bloqueio ou redução na circulação de sangue no coração devido ao acúmulo de placas de gordura nas artérias coronárias, responsáveis por irrigar o órgão - o que chamamos de doença arterial coronária. O problema se desenvolve diante da presença dos fatores de risco acima relatados, mas o grau de obstrução varia de acordo com cada caso, assim como os sintomas, que podem ser diferentes de pessoa para pessoa.

De maneira geral, obstruções de mais de 70% nas coronárias têm como principal indício a angina (desconforto ou dor no peito de forma constritiva). Outros sinais comuns são: falta de ar, fadiga extrema durante o esforço, dor no ombro, braço ou mandíbula e, em mulheres, dores torácicas atípicas.

Porém, nem sempre isso ocorre. A DAC pode se desenvolver ao longo de anos de forma progressiva e silenciosa, o que aumenta a probabilidade de o ataque ser fulminante em indivíduos de qualquer idade. Isso porque o curso de obstrução pode ocorrer em maior velocidade e até subitamente, quando há um bloqueio total da artéria coronária pela formação de coágulo sobre a placa de gordura. Neste momento, ocorre o início do que chamamos de infarto agudo do miocárdio e o processo de necrose da musculatura do coração, com chances de arritmia grave, disfunção do órgão e até morte.

Quais os riscos de um infarto em cada fase da vida? 

Assim como o infarto, as doenças cardiovasculares de modo geral afetam com mais frequência pessoas acima de 40 anos. Entretanto, há uma polêmica em relação sua gravidade e consequências. O fato é que não existe um consenso sobre o nível de mortalidade ter ou não a ver com a idade.

Parte dos especialistas defende que os ataques cardíacos podem ser mais letais entre os mais jovens, mesmo que esses indivíduos tenham mais força física para suportá-los. E isso se explica devido ao que chamamos de circulação colateral, um fator que pode ser considerado uma proteção natural para quem tem mais idade ou por aqueles que já enfrentaram um infarto ao longo da vida.

Trata-se de uma rede de vasos que se forma como via alternativa para a circulação arterial coronária, compensando a falta de irrigação causada por uma artéria obstruída, garantindo desta forma que o sangue chegue ao músculo cardíaco.

Consequências 

No entanto, em relação às sequelas, todos concordam: neste caso, a idade não é o principal fator determinante, mas sim a velocidade dos primeiros socorros. Quanto mais rápido for iniciado o atendimento médico, menor será o tempo para o restabelecimento do fluxo de sangue, assim como os danos ao miocárdio e células do músculo cardíaco, com possibilidade de recuperação completa.

Reforço, portanto, que é de extrema importância ouvir o corpo e dar atenção aos sinais que ele nos dá, além de cuidar da saúde, principalmente quando há fatores de risco envolvidos. Não é difícil encontrar jovens que antes mesmo dos 30 anos sofreram um ataque cardíaco. Isso geralmente acontece por nunca terem dado atenção a pequenos sintomas, por minimizarem fatores de risco, pela falta de frequência nos check-ups médicos ou desconhecimento sobre uma predisposição genética para problemas no órgão.

Doenças, quando não detectadas precocemente, apresentam sintomas no decorrer da vida. No caso de eventos cardiológicos, limitações físicas atípicas, por exemplo, devem servir como um primeiro alerta. Uma pessoa com 20, 30 anos que não consegue acompanhar os amigos em atividades diárias, na prática de esportes, precisa ficar atenta. Muitas vezes isso não é um simples sinal de falta de preparo.

Outra circunstância que merece atenção é na aceleração dos batimentos, que pode causar desde uma simples alteração, considerada uma extrassístole, até uma arritmia, às vezes de forma muito intensa, passando dos 200 batimentos por minuto.

Cuidar da saúde não tem idade!

Parece bobagem quando somos novos, mas cuidar da saúde é essencial em qualquer fase da vida. Alimentação e hábitos saudáveis, atividades físicas, atenção ao estresse e a qualidade do sono, o controle do colesterol, diabetes e pressão podem fazer toda a diferença. Por isso, reforço: a prevenção é a melhor forma de enfrentar a DAC e outras complicações cardíacas. E mesmo na ausência de sintomas, é importante realizar avaliações cardiológicas, principalmente quando há a questão genética.

A primeira avaliação deve ser feita a partir dos 30 anos em pessoas que têm casos na família (quando não existe nenhum indício para realizá-la antes). Na ausência de histórico, a avaliação poderá ocorrer entre 35 e 40 anos - com reavaliações anuais. A partir daí, a recomendação é de check-ups uma vez ao ano e, em situações de maior risco, a cada seis meses. Não deixe para procurar um médico apenas quando sentir algo muito errado. Algumas doenças são descobertas sem querer, mas em tempo de serem resolvidas com tratamento e recuperação rápida.

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