Entenda como o hormônio interfere também no processo de envelhecimento

Produzida naturalmente pelo organismo, a melatonina é um hormônio relacionado ao nosso ciclo circadiano, o chamado relógio biológico. Ela age como se enviasse um sinal para o corpo, indicando que chegou a hora de se preparar para repousar, induzindo-nos a dormir. E sabemos que ter boas noites de sono faz toda diferença no dia a dia! Dormir bem é importante para recuperarmos as energias, descansar o corpo e a mente, além de ajudar a proteger o coração e beneficiar a saúde de modo geral.

A melatonina controla o ritmo de vários processos fisiológicos durante a noite: a temperatura corporal cai, a digestão fica mais lenta, a pulsação cardíaca e a pressão sanguínea diminuem e o sistema imunológico é estimulado. O hormônio tem assim papel fundamental na regulação do metabolismo.

Além disso, atua no processo de reparação das nossas células, aquelas que ao longo do dia foram expostas ao estresse, a poluição e outros elementos prejudiciais. É considerada, por essa razão, um poderoso antioxidante, combatendo os radicais livres que agridem o organismo. Essas propriedades antioxidantes revelam seu potencial como agente natural antienvelhecimento.

E quando falamos da relação entre a produção da substância e a idade, estudos apontam que a quantidade de melatonina fabricada vai diminuindo com o passar do tempo, após a puberdade, chegando a concentrações sanguíneas irrisórias em idosos - constatação que abre precedentes para a suspeita de que essa perda gradual de melatonina pode precipitar o processo do envelhecimento.

Teorias do envelhecimento

Neste sentido, vale um parêntese sobre o envelhecimento. Várias teorias já foram elaboradas a fim de explicar o processo. A mais abrangente delas, no entanto, é a teoria do envelhecimento pelos radicais livres, proposta em 1954 pelo médico Denham Harman, pesquisador da Universidade de Nebraska (EUA).

De acordo com Harman, o envelhecimento e as doenças a ele associadas, resultam de alterações moleculares e lesões celulares desencadeadas pelos radicais livres. A teoria tem base em evidências científicas de que os radicais livres estão envolvidos praticamente em todas as doenças típicas da idade, como a arteriosclerose, doenças coronárias, catarata, hipertensão, doenças neurodegenerativas, entre outras. Ou seja, com o aprofundamento e novos estudos que estão sendo realizados, a melatonina passou a ser vista como uma das melhores defesas contra os distúrbios inerentes ao envelhecimento.

Além do mais, como já mencionado, o hormônio ainda desempenha papel importante no fortalecimento no sistema imunológico. E sabemos que muitos dos problemas comuns aos idosos decorrem da perda da capacidade do sistema de defesa corporal em reagir às agressões com o passar da idade.

Coração e envelhecimento 

Com o coração não é diferente. A idade chega e as mudanças trazidas com o tempo também. É possível envelhecer e manter o órgão em pleno funcionamento até o fim da vida, mas isso não é a realidade de todos. As doenças cardiovasculares são a primeira causa de morte no mundo, com predominância nas populações mais velhas.

Quando o assunto é a relação entre as doenças cardiovasculares e o envelhecimento, a melatonina mais uma vez tem papel de destaque. O que se descobriu é que a substância, através de propriedades antioxidantes, anti-inflamatórias e imunomoduladoras, atua em favor do sistema cardiovascular.

O hormônio possui efeito vasodilatador: diminui a pressão arterial sistêmica, reduzindo, então, a resistência periférica, além de exercer efeito cardioprotetor. Contribui na prevenção de arritmias (anormalidades no ritmo do coração), doença arterial coronariana, hipertensão, entre outros distúrbios e disfunções que atingem esse sistema.

No caso das arritmias, por exemplo, a idade é um fator de risco que precisa ser considerado. Devido à extensa remodelação estrutural e funcional do tecido do coração em quem já está na terceira fase da vida, elas podem ocorrer com relativa frequência e até em pessoas que nunca apresentaram nenhuma condição anteriormente.

Pesquisas indicam que a ação do hormônio sobre a pressão arterial e a frequência de batimentos ocorre tanto nos vasos e no coração como em outras estruturas do sistema nervoso central e até mesmo sobre as mitocôndrias das células, estruturas importantes na regulação do sistema cardiovascular e do processo de envelhecimento. E cada vez mais benefícios da melatonina são documentados. O hormônio também é apontado como aliado no controle da ingestão alimentar, no metabolismo de lipídios, na síntese e na ação da insulina nas células e até na prevenção e tratamento do câncer.

Fonte natural

A responsável pela produção de melatonina é a glândula pineal (hipófise), localizada bem no meio da nossa cabeça, na região central do cérebro, em uma estrutura em tamanho semelhante ao de uma ervilha. A fabricação ocorre principalmente ao escurecer. O nível máximo é atingido no meio da madrugada quando, geralmente, estamos em sono profundo. Ao amanhecer sua produção é reduzida.

Benefícios e riscos da melatonina para o envelhecimento e a saúde do coração.

Crédito: Bricolage/Shutterstock

Vale reforçar que a luz emitida pela tela de equipamentos eletrônicos, como celulares, tablets e computadores, sinaliza ao organismo que ainda é dia e, com isso, pode atrasar a liberação do hormônio, gerando dificuldades para dormir. Portanto, para aqueles que querem investir em um sono de qualidade bem como na produção natural de melatonina, é interessante evitar o uso de iluminação artificial quando já estiver na cama e reservar de 6 a 8 horas, em média, para dormir todas as noites.

Além disso, é recomendado não fazer refeições pesadas ou repletas de carboidratos simples algumas horas antes de dormir. Isso porque eles podem atrapalhar a produção interna do hormônio. O melhor é optar por alimentos fontes de aminoácido triptofano - como banana, leite, peixe, grão de bico e chocolate amargo - uma vez que a melatonina é sintetizada a partir dele, garantindo que o corpo continue trabalhando enquanto repousamos e se recupere para o dia seguinte.

A suplementação de melatonina e seus riscos

Especialmente por sua ação de indução do sono e atuação no processo de envelhecimento, a melatonina tornou-se uma substância amplamente vendida como suplemento. É importante ressaltar, porém, que a suplementação da melatonina tem riscos devido a sua extensa interferência no organismo, uma vez que, como vimos, participa da regulação do metabolismo e interage com vários

sistemas do corpo, como o cardiovascular, imunológico, reprodutor e o nervoso central. Por isso, antes de sair em busca de suplementos, é essencial consultar um especialista. Tomar suplementos indiscriminadamente pode gerar efeitos colaterais e trazer riscos para a saúde.

Entre os sintomas que o consumo em excesso ou sem a devida prescrição podem causar estão: dor de cabeça, tontura, náusea, sonolência, irritabilidade, nervosismo, ansiedade, depressão, inchaços na pele, boca ou língua, perda de consciência, alterações na pressão arterial, no funcionamento do fígado e até o desencadeamento de doenças crônicas, como diabetes.

A reposição hormonal deve ser cuidadosamente calculada, de maneira personalizada. É fundamental identificar se realmente existe essa necessidade, tal qual avaliar a dosagem, que varia para cada indivíduo. Fatores como idade, peso, condição clínica e até horário de pico de produtividade devem ser considerados na hora da prescrição.

Além disso, os suplementos de melatonina podem interagir com vários medicamentos, entre eles anticoagulantes e drogas antiplaquetárias, anticonvulsivantes, medicamentos para o diabetes e que suprimem o sistema imunológico (imunossupressores). A suplementação deve ser feita, portanto, com muito critério e somente sob supervisão médica.

Compartilhe com seus amigos

Receba os conteúdos do Instituto de Longevidade em seu e-mail. Inscreva-se: