A força muscular diminui, a gordura abdominal aumenta, a resistência física cai, a memória falha, o sexo começa a ter problemas. Surge a irritabilidade e, por vezes, a depressão. Se você tem mais de 65 anos, a culpa, provavelmente, é da testosterona. Mas calma lá: com reposição hormonal masculina, a vida volta ao normal.
“No homem, estima-se que haja diminuição de 12% nos níveis de testosterona a cada década de vida”, afirma Emil Hacad, urologista dos hospitais Albert Einstein e São Luiz. “Mas não necessariamente essa queda acarreta mudanças emocionais ou físicas, e o homem pode manter a capacidade fértil por toda a vida.”
Erroneamente chamada de andropausa num paralelismo à menopausa (período na vida da mulher onde há um declínio nos níveis de estrógeno e interrupção da ovulação), a associação de sintomas e alterações físicas aos baixos níveis de testosterona é a Deficiência Androgênica do Envelhecimento Masculino (DAEM).
Essas mudanças, explica Hacad, “ocorrem lenta e sutilmente de forma que cerca de 60% dos homens saudáveis aos 65 anos têm níveis de testosterona livre abaixo dos níveis normais para homens de 30 a 35 anos”. Como em 1950 menos de 5% da população tinha mais de 65 anos e estima-se que essa taxa chegue a 15% em 2025, “é um aumento considerável de pessoas com DAEM”.
Para o urologista diagnosticá-la, ele pesquisa a história clínica do paciente, “obtendo informações sobre sintomas de fraqueza muscular, falta de ânimo, irritabilidade, sonolência, alteração da memória e queixas urinárias e sexuais”.
Verifica ainda a presença de outras doenças, como diabetes e hipertensão, e o uso de medicamentos. No exame físico, avalia obesidade, massa muscular, distribuição dos pelos, funcionamento do coração, presença de pulsação nas artérias _ inclusive as penianas _, exame dos testículos, do pênis e da próstata.
Por fim, solicita exames laboratoriais para dosar os níveis de testosterona total e livre calculada, que são produzidas principalmente pelos testículos, e dos hormônios LH e FSH, que são produzidos pela hipófise e têm por função estimular os testículos a produzirem testosterona. Além de glicose, colesterol, triglicérides e hemograma.
O diagnóstico definitivo de DAEM é baseado nos sintomas associados à baixa dos níveis hormonais. Mas há “um grande motivo de controvérsia a respeito dos valores das determinações hormonais na ausência de manifestações clínicas”, pondera Hacad. “Há pacientes sem sintomas de hipogonadismo [baixa produção] com níveis hormonais baixos e vice-versa.”
Não se sabe, segundo ele, qual o nível de deficiência de testosterona é conclusivamente anormal em um homem idoso. “Pode haver respostas variáveis por parte dos órgãos-alvo [cérebro, osso, músculo e próstata] a determinados níveis de androgênios, e a resposta deles pode ser influenciada por outros fatores endócrinos.”
Nos obesos, existe aumento de uma proteína que se liga à testosterona e diminui a quantidade de testosterona livre, que produz os efeitos benéficos. A obesidade, com frequência, está associada a elevações de colesterol e triglicérides, que predispõem a aterosclerose e a oclusão de vasos responsáveis pela irrigação de vários órgãos e do pênis.
O tratamento da DAEM baseia-se na reposição de testosterona por meio de injeção ou adesivo na pele. Entre as contraindicações, está a suspeita ou o caso confirmado de câncer de próstata ou mama. “A reposição hormonal não aumenta o risco de aparecimento do câncer da próstata e sim estimula as células cancerosas latentes”, pontua o urologista.