Alguém que está doente ou tem alguma limitação funcional necessita de cuidados. Mas muita gente se esquece de que aqueles que cuidam de outra pessoa também precisam de atenção especial. Afinal, quem exerce o papel de cuidador de idosos ou de pacientes passa por desgastes físicos e emocionais – e, se não se precaver, também acabará adoecendo.
Sobretudo se o idoso se vê acometido de uma enfermidade mais grave, como o câncer, ou de um quadro demencial, aqueles que estão mais próximos dele, como seus familiares, também sofrem o impacto das mudanças no cotidiano da pessoa.
“Essas transformações acabam afetando muitos dos âmbitos da vida, caso do sexual e do financeiro, como quando um chefe de família precisa parar de trabalhar por não ter condições para isso”, afirma Luciana Holtz Barros, psico-oncologista e fundadora do Instituto Oncoguia, ONG que trabalha pela qualidade de vida do paciente com câncer e de seus familiares.
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O grande problema é que, especialmente em um primeiro momento, o cuidador negligencia sua própria necessidade de apoio – e acaba buscando ajuda apenas quando já se encontra em um nível avançado de desgaste e estresse.
“Cuidar dos cuidadores é um dos maiores desafios em um cenário de envelhecimento das populações”, afirma a pedagoga Fabiana Satiro, especialista em gerontologia e em educação em saúde, coordenadora de um grupo de apoio para cuidadores da Associação Brasileira de Alzheimer (ABRAz) e sócia da empresa 50Mais Ativo.
Por sinal, de acordo com Luciana, um suporte psicológico profissional é recomendado para a pessoa desde quando se estabelece que ela terá de cuidar de alguém. A psico-oncologista ressalta também que esse cuidador não pode deixar de lado a manutenção da própria saúde; deve se ater, por exemplo, aos hábitos de comer e dormir bem.
Plano de ação para o cuidador de idosos
Existe ainda outro aspecto fundamental para conservar a saúde física e emocional do cuidador de idosos. Além do auxílio de um psicólogo, quem está diretamente envolvido nas atividades que cercam o cotidiano de alguém que precisa ser cuidado requer uma rede de apoio para se manter equilibrado nessa missão.
Um exemplo seria uma família em que o pai ou a mãe precisem de atenção específica devido a limitações causadas pelo avanço da idade ou por uma doença. “Se eles tiverem vários filhos, eles poderão se dividir entre as tarefas necessárias no dia a dia dos cuidados”, orienta Luciana.
Crédito: JiBJhoY/Shutterstock
Esse tipo de acordo, reforça a psico-oncologista, demanda diálogo – e um que seja realizado com muita sinceridade entre as partes. Isso porque em geral cada envolvido é melhor em determinada tarefa, e, se cada um assume uma obrigação que desempenha com mais facilidade, a rotina de todos os participantes se torna mais leve.
“Esses cuidadores precisam conversar muito para dividirem entre si as atividades demandadas. Há quem prefira levar o paciente a consultas regulares porque não aguenta o ambiente de um hospital e assim ficaria dispensado de ser o acompanhante no caso de uma internação”, exemplifica.
O problema é que, muitas vezes, as famílias fazem uma “eleição velada” de um único cuidador para quem o demanda, segundo Fabiana. “Ela se dá por uma combinação de fatores, como proximidade geográfica e o próprio perfil dessa pessoa”, diz.
“Em geral, acaba sendo uma mulher com mais de 40 anos, mas muitas vezes cai-se na situação de um idoso de idade menos avançada, em torno de 70 anos, por exemplo, cuidando de um mais velho, de uns 90. Nesses casos, o cuidador negligenciar a própria saúde se torna uma questão ainda mais séria.”
A rede de suporte de um cuidador de idosos não precisa ficar restrita a familiares: pode envolver amigos ou mesmo vizinhos que se predisponham a dar uma força nesse tipo de situação. E o próprio paciente, na medida do possível, deve fazer parte do planejamento arquitetado para seus cuidados.
Respeito aos próprios limites
Para evitar grandes sobressaltos em relação à possível evolução de uma doença ou de um quadro demencial, a dica é investigar com o médico do paciente possibilidades de piora a médio e a longo prazos. Mesmo que elas não aconteçam de fato, ao menos os cuidadores estarão preparados caso se tornem realidade e demandem novos procedimentos rotineiros.
Outro ponto é o cuidador não deixar de realizar atividades que lhe deem prazer ou que lhe sejam normalmente importantes, como ir à academia ou sair com os amigos. Trata-se de um bom antídoto contra o esgotamento.
Aliás, quem cuida também precisa respeitar os próprios limites – sem se sentir culpado por isso. Como já exemplificado, alguém que se sente muito mal em ambientes hospitalares deve tentar delegar a tarefa de acompanhante em uma internação para outra pessoa da família. Em troca, assumirá outra incumbência.
“Muitos cuidadores, no entanto, abraçam a causa apenas para si mesmos e não abrem as portas para a possibilidade de ser ajudados”, afirma Fabiana. “Isso tem a ver com o próprio perfil deles, que agem movidos por um sentimento de obrigação, ou de gratidão, ou por uma crença religiosa.”
Cuidador de idosos: atenção aos sinais
Se os cuidados ao cuidador não forem providenciados, ele poderá se ver, com o passar do tempo, em um estado de estresse, desgaste emocional ou mesmo depressão. Luciana elenca alguns indicativos de que já se acendeu o sinal de alerta da saúde de quem cuida – e que buscar auxílio é mais do que nunca necessário.
Insônia, falta de apetite e irritabilidade
“A insônia ou a falta de apetite, por exemplo, sinalizam que algo não vai bem com o cuidador”, diz a especialista. “Um aumento considerável da irritabilidade, ou o chamado pavio curto, também mostra que o emocional está alterado.
Choro e falta de concentração
O mesmo vale para o choro fácil, desencadeado a qualquer contrariedade. Perda de capacidade de concentração e de memória e dificuldade para lidar com as situações da rotina são ainda pistas de que é preciso procurar ajuda.”
Fabiana conta que já vivenciou mais de um caso em que o cuidador acabou morrendo antes da pessoa de quem cuidava, e isso devido ao estresse e ao desgaste enfrentados. “Vi situações em que ele teve infarto ou AVC”, testemunha.
Depressão e burnout
“Depressão e burnout são muito comuns entre cuidadores, a maioria tem essas doenças. Muitos acabam lançando mão de medicamentos psiquiátricos ou mesmo do álcool. E, quando ficam nessas condições, acontece aquilo que mais temem: eles deixam de cuidar do paciente por não conseguirem mais fazê-lo”, complementa.
Tal quadro, segundo ela, pode até culminar em episódios de violência contra o idoso, “lembrando que o cuidador também é vítima de um sistema que não o ajuda.”
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