Pode ser um colega de trabalho que tem apresentado queda de rendimento. Ou ainda um parente que deixou de fazer o que gostava e agora só fica em casa. A depressão é assim: impacta a vida de quem sofre dela – e também a de familiares, amigos e colegas.

A mudança de comportamento pode alterar a rotina da casa e a qualidade da convivência, por exemplo. Por vezes, a pessoa deprimida “pode despertar sentimentos de frustração, culpa e até raiva de membros da família”, destaca o psicanalista Rodrigo Buoro. Tanto em casa quanto no trabalho, o relacionamento pode ser infectado por ressentimento e dificuldade de entender os problemas de quem está doente.

A psicóloga Ednéia Morilha acrescenta que, muitas vezes, a família passa por uma fase de não aceitação da doença. Ao ver o parente sem motivação e triste, explica ela, mandam-no ir trabalhar e caracterizam o estado como preguiça. “Só que, ao não dar atenção para o que a pessoa está sentindo, ela fica com vergonha de contar o que está acontecendo.”


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Como o deprimido “sente muita culpa, desamor, desvalor e acredita que não é capaz”, diz ela, a orientação é ser tolerante. “A família tem que incentivar, motivar”. Buoro faz coro: “A compreensão é a chave. Quanto mais a família conhece a depressão, mais preparados estarão todos para oferecer apoio quando o familiar mais deprimido precisar”.

Morilha explica que é preciso combinar fatores para dar suporte a quem está deprimido. Persistência e carinho fazem parte do pacote. Mostrar artigos e buscar informações juntos também podem surtir resultado. E sempre mostrar que há saída.

Buoro lista outros fatores, como ajudar a exercitar a mente com frequência – com palavras cruzadas e quebra-cabeça, por exemplo –, incentivar a sair, tomar sol, caminhar, ler livros e ir ao mercado. “Boa nutrição, atividades físicas regulares e uma agenda social também contribuem para a melhora.”

Quando todos os esforços para que a pessoa se recupere não surtirem efeito, é hora de procurar ajuda especializada. “Às vezes, o deprimido não tem consciência para decidir buscar auxílio”, sinaliza Morilha. “Tem gente que pensa: ‘Se piorar, vou atrás’. Não, não pode”, afirma, acrescentando que quanto antes o tratamento tem início, mais rápida pode ser a recuperação.

Também é importante deixar para trás alguns preconceitos. “No século 20, ainda há gente que acredita que alguém vai à psicoterapia apenas para ficar conversando e que os antidepressivos causam dependência”, diz ela.

No trabalho, a indicação é a mesma: oferecer ajuda. “A depressão pode causar lentidão, dificuldade de concentração e perda de memória”, esclarece Buoro. “Mas porque as doenças psiquiátricas ainda são tabu em algumas áreas, muitos funcionários preferem esconder o problema por medo de incompreensão dos chefes e colegas.”

O bom líder, diz Morilha, entra com apoio. “A pessoa está fragilizada, achando que será mandada embora do emprego. A cobrança se intensifica”, destaca. Chefe e colegas podem perguntar no que podem ajudar, o que podem amenizar e tentar confortar quem está em depressão. “Ninguém escolhe estar deprimido”, finaliza Buoro.

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