Janeiro Branco: assim começou a ser chamado o primeiro mês do ano. O nome está relacionado a uma campanha criada e apoiada por psicólogos, psiquiatras, assistentes sociais e outros profissionais que querem trazer à tona a importância de se falar sobre saúde mental. 

De acordo com dados da OMS, até 2030, a depressão deve ser uma das principais doenças do mundo. Assim como transtornos mentais que incluem desde ansiedade até esquizofrenia e transtorno bipolar. Cuidar da saúde mental, portanto, é algo urgente e para qualquer idade. 

"A saúde mental é requisito básico para uma vida em harmonia. Muitas pessoas, porém, não dão importância ou não investem tempo e energia nesse cuidado. Estresse e depressão são assuntos recorrentes nos consultórios nos últimos tempos. Muitas pessoas não conseguem gerenciar suas emoções e precisam aprender a descarregar os pensamentos, abrir tempo para o autocuidado e entender o que de fato as faz felizes”, explica a terapeuta Fernanda Temple.

Janeiro Branco estimula pessoas a procurarem ajuda para a saúde mental

Foto: Fizkes/Shutterstock

Janeiro Branco também procura chamar atenção para a saúde mental dos idosos

No caso dos mais maduros, a campanha do Janeiro Branco é uma oportunidade de chamar atenção para um tema pouco tratado. Normalmente, fala-se muito de saúde física para quem está envelhecendo. Mas e a saúde mental?

“A saúde mental do idoso é colocada em segundo, terceiro ou quarto plano. Foca-se muito na saúde da criança, pensando na primeira infância; dos adolescentes e do desenvolvimento do adulto. E, parece que, de fato, quando você chega na idade do idoso, no final do desenvolvimento adulto, a questão da saúde mental é ignorada. É como se as pessoas que se tornam idosas já não necessitassem mais cuidar da saúde mental, visto que a saúde física “já está no fim”, avalia Filipe Colombini, psicólogo e CEO da Equipe AT.

Ele explica que é importantíssimo enxergar a pessoa que está envelhecendo como alguém que tem seus valores de vida, que tem planos para viver uma vida boa e com qualidade, tendo a família e uma rede de suporte interessante, como amigos e pessoas próximas. 

“Famílias e amigos podem ajudar dando voz, olhando a vida do idoso como uma vida importante. Podem mostrar que os valores e o objetivo de vida não terminaram por ser mais velho. Porque é importante ouvir, compreender, entender que aquela pessoa também tem seus planos, coisas para fazer, também vislumbra ter uma qualidade de vida, ter amigos, lazer, oportunidades. As áreas de vida da pessoa permanecem, inclusive os relacionamentos, a vida afetiva, a ocupação”, explica Filipe.

Envelhecimento coloca valores em foco

De acordo com o psicólogo, quando se trata de saúde mental do idoso, o mais importante é o processo de ressignificação do que é a vida, de planos e valores. “Não necessariamente a saúde mental vai se tornar frágil. Pelo contrário, quando as pessoas vão envelhecendo, elas vão tomando mais consciência de seus valores. Sabem melhor o que elas querem para si, não no que diz respeito aos bens materiais, mas nos seus valores mesmo”, diz. 

Para a terapeuta Fernanda Temple, é natural que o cenário de muitas pessoas idosas mude. Por isso, é preciso reciclar-se e acompanhar as mudanças de forma criativa, sempre buscando o bem-estar. “É preciso trabalhar a independência, para que a carência não seja uma inimiga pesada quando os cenários mudam. O amor começa de dentro para fora e escolher o que faz bem é certeza de uma colheita duradoura”, avalia.

Buscar ajuda quando necessário é fundamental

A campanha do Janeiro Branco busca alertar também para a importância de buscar ajuda quando necessário. Muitas vezes não será possível resolver sozinho um problema relacionado à saúde mental, especialmente quando não houve prevenção e a pessoa já está com sintomas difíceis de lidar. É o caso da depressão, por exemplo. 

Assim como acontece no adulto, no adolescente e na criança, o que o idoso deve fazer nesse caso é procurar ajuda. Seja da sua rede de suporte, familiares ou amigos, seja através do auxílio de profissionais (medicina, psiquiatria ou o trabalho de consultório ou do trabalho do AT, que tem o seu trabalho de disposição e ativação)”, orienta Filipe.

Esse explica que, com acompanhamento terapêutico, o idoso terá oportunidade de revisitar valores, se expor. “Porque de fato a depressão faz a pessoa se isolar, se esquivar, se limitar. Ela deixa de desenvolver uma série de habilidades diárias e sociais. O trabalho terapêutico e a família vão ajudar a colorir essa vida que, como eu disse, vai se desbotando”. 

Janeiro branco ajuda a combater tabu relacionado à saúde mental

O psicólogo lembra, porém, que muitas vezes existe um tabu relacionado ao  trabalho psicoterapêutico e de psiquiatria. Como se, por essa pessoa estar idosa, não acessasse mais esses dispositivos de saúde mental. A campanha do Janeiro Branco traz à tona reflexões que ajudam a combater esse tabu também.

“É importante a gente olhar como uma fase de desenvolvimento que vai precisar de ajuda tanto de médicos, quanto de geriatras e de profissionais da saúde que vão cuidar da saúde mental. Ela  é tão importante quanto a saúde física e a gente só faz uma divisão didática. Isso porque a gente sabe que a saúde física está totalmente intrínseca à saúde mental”, conclui.

Para a terapeuta Fernanda Temple é preciso buscar ajuda quando a pessoa se sente mais ansiosa do que o normal, quando falta um propósito que nutre a alma e sua vida ou,ainda, quando fica sempre remoendo situações do passado, entre outras situações. 

“Esses são alguns dos sintomas que indicam que é preciso buscar ajuda. Lembrando que existem muitos profissionais e caminhos que podem ajudar a guiar seus processos de cura e auto encontro. O que vale nesse caminho é a pesquisa do método e do profissional. Também é preciso dar um voto de confiança para conhecê-lo e gerar empatia. Dar o primeiro passo é o início de tudo que permitimos”, conclui Fernanda. 


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