As notícias sobre a internação de Giulia Gam, de 52 anos, em uma clínica psiquiátrica por causa de depressão povoaram a internet nos últimos dias. De acordo com amigos próximos, a internação da atriz, diagnosticada com o transtorno, só acontece em casos extremos, quando a medicação não apresenta mais efeitos e ela precisa de um acompanhamento mais próximo dos médicos.
Logo após a divulgação da internação, o filho de Giulia, Théo Bial, desmentiu a informação. Ele disse que a mãe está em São Paulo ensaiando para a peça Os Sete Afluentes do Rio Ota.
Apesar disso, não podemos negar a comoção gerada com a notícia. “Depressão é uma doença que pode levar à morte da pessoa e precisa ser tratada com toda a atenção que merece, tanto por parte dos médicos, quanto por parte dos amigos e familiares”, destaca a psicoterapeuta Ana Paula Madeira.
E não é de hoje que a imprensa de todo o mundo vem alertando para a gravidade do problema.
Precisamos falar sobre depressão
Giulia não é a primeira famosa a virar notícia por conta de depressão. Em abril deste ano, o humorista e influenciador Whindersson Nunes revelou sofrer da doença. O desabafo chocou os fãs e o público em geral, já que o artista sempre foi sinônimo de alegria e irreverência. Apesar da fama, do dinheiro e de ser amado, Whindersson sentia bastante angústia por dentro.
O humorista é um caso entre tantos. Os padres Marcelo Rossi e Fábio de Melo, a cantora Paula Fernandes, o ator Selton Mello e as atrizes Heloísa Périssé e Andriana Esteves. Todos dividem um quadro de depressão.
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Para Alexandre Ghelman, médico neurologista, CEO e fundador da Interativa Saúde, a depressão pode aparentar estar mais presente na vida de famosos por causa da exposição deles à mídia. No entanto, é importante estar atento.
Segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS), o número de pessoas que sofrem com a doença aumentou 18% entre 2005 e 2015. Atualmente, são mais de 300 milhões de pessoas no mundo afetadas por transtornos depressivos.
Ghelman afirma que a depressão pode causar grande sofrimento e disfunção no trabalho, na escola e no meio familiar. No Brasil, está entre as principais causas de afastamento junto à Previdência Social (INSS) e, de acordo com o relatório da Organização Panamericana de Saúde (OPAS/OMS) de 2018, representa 7,8% do total de dias perdidos por incapacidade.
“É a principal causa de mortes por suicídio, com aproximadamente 800 mil casos ao ano, e a segunda principal causa de morte entre pessoas com idade entre 15 e 29 anos”, revela Ghelman.
O que é depressão?
A depressão é uma doença mental que afeta negativamente a forma como o indivíduo se sente, pensa e atua. Pode gerar um sentimento de tristeza, pensamentos negativos e perda de interesse nas atividades do dia a dia.
Os sintomas mais comuns são a dificuldade de concentração, fadiga, perda do desejo sexual e distúrbios do sono. Outros indícios são ansiedade, ataques de pânico e distúrbios alimentares.
Ghelman deixa claro que desânimo e tristeza por curtos períodos não são sinônimos de depressão. O luto saudável também se diferencia do transtorno. No entanto, ele aponta que é preciso ficar atento aos sintomas. “Existe o oposto, onde a depressão pode passar despercebida, pois pode ser confundida com uma doença física, ou pior, ser considerada um problema sem importância”, afirma.
As causas por trás dos transtornos ainda são desconhecidas, mas fatores genéticos e ambientais contribuem no processo. “A depressão tem um componente genético e, em relação a isso, não podemos agir”, comenta Ghelman. Ele também afirma que a doença é “mais comum entre parentes de primeiro grau de pacientes deprimidos e entre gêmeos monozigóticos (idênticos)”.
O ambiente social em que a pessoa com depressão está inserida também não pode ser esquecido. Estresse, frustração, conflitos ou sobrecargas também podem ser cruciais para desencadear o transtorno.
Nesses casos, é possível se proteger e evitar o surgimento da doença.
Como se prevenir
A melhor proteção – e isso para qualquer indivíduo – é cuidar da saúde mental. Desenvolver resiliência e a capacidade de viver bem em ambientes com muito estresse e pressão também contribuem para evitar o surgimento da depressão ou de outras doenças relacionadas.
De acordo com a OMS, saúde metal é “um estado de bem-estar onde o indivíduo realiza suas próprias habilidades, lida com os fatores estressantes normais da vida, trabalha produtivamente e é capaz de contribuir com a sociedade”. Ou seja, conseguir manter um equilíbrio emocional com todas as experiências e expectativas provocadas ao longo da vida.
“Não cuidar da saúde mental é se colocar em risco para problemas de saúde, nos relacionamentos e na carreira”, argumenta Ghelman.
O que pode ajudar na prevenção à depressão?
- Espiritualidade, a fim de desenvolver propósito e sentido à vida;
- Manter um estilo de vida saudável, praticando atividade física regular e com uma boa alimentação;
- Construir relacionamentos positivos;
- Boa autoestima;
- Trabalhar competências relacionadas à inteligência emocional (também chamadas de habilidades sociais, psicossociais ou socioemocionais);
- Praticar meditação e relaxamento.
E quem já tem depressão? Qual o caminho?
A depressão é uma doença e, como tal, deve ser cuidada com toda a atenção e com a supervisão de profissionais qualificados. Para cada nível de intensidade, pode-se considerar diferentes tipos de tratamento.
A depressão leve pode ser tratada com suporte geral e psicoterapia. Já de moderada a grave deve ser assistida com medicamentos e psicoterapia. A prática de atividades físicas simples também é bastante recomendada nos dois casos. Já no caso de pacientes com sintomas psicóticos ou com risco de suicídio significativo, principalmente na ausência de suporte familiar, é necessário que ocorra a internação.
Em todos os casos, a mensagem é clara: é importante ter o acompanhamento de um profissional e o apoio da família.
“Pacientes, familiares e a sociedade em geral devem entender que a depressão não reflete falha de caráter, preguiça ou fraqueza. Trata-se de uma doença com a possibilidade de tratamento e prevenção, e que deve ser diagnosticada o quanto antes”, afirma Ghelman. “Com certeza existe uma saída! Por isso, o paciente deve buscar ajuda e escolher viver uma vida plena”, conclui.