Quando faço minhas caminhadas no parque perto de minha casa, admiro as árvores. E algumas, por decisão de algum burocrata da Prefeitura, apesar de fortes e vigorosas, vão sendo cortadas, para darem lugar a árvores novas. Mas muitas, apesar de terem perdido seus 15 ou 20m de altura, seu tronco e galhos vigorosos, suas folhas que davam sombras refrescantes, agora estão reduzidas a um toco redondo rente ao chão. Mas, elas não desistem, e continuam a brotar, na esperança de reconstruírem-se, de voltarem a ter o porte que tinham anteriormente.
Ontem à noite tive uma crise de envelhecimento. Apesar de estudar o tema, de dar aulas e palestras, eu, ao colocar minha cabeça no travesseiro, fui acometido de uma revolta, de um brutal sentimento de perda: eu não quero envelhecer! Eu não quero perder a minha vitalidade, eu não quero ter de lidar com limites crescentes em meu corpo físico. Eu, apesar de já ser idoso, não quero mais disto! Acho que eu quero ser imortal! Nada disto tinha a menor lógica, mas era assim que me sentia: estou perdendo a minha vida! Fiquei muito nervoso, não conseguia dormir, estava irritado e revoltado. Eu sabia que isto não levava a nada, mas a frase “o envelhecimento é um processo irreversível” me doía. Tive de tomar um meio comprimido de um ansiolítico e finalmente consegui dormir.
Ao acordar no outro dia, senti-me ótimo. O mal estar havia passado, e pensei muito no que havia me acontecido na noite anterior. O recado era: não desista de tua vida, não entregue os pontos. Sei logicamente que minha morte é inevitável, mas ela pode ser adiada. Não tenho controle sobre isto, Deus é que decide sobre a minha hora, mas no que depender de mim, quero viver com vitalidade pelo tempo que me for concedido. Tenho projetos, sonhos, coisas que de alguma forma ajudem os outros, que me ajudem a ter propósito e significado. Não vou me entregar, ter uma vida vazia, se ainda puder ter mobilidade, cabeça em ordem, um corpo com dores aqui e acolá, mas ainda ativo.
Vejo gente que desiste de ir ao dentista porque acha que pode morrer no dia seguinte, que não compra uma roupa nova ou que se acha muito velho para fazer alguma coisa útil. Todo idoso está entre duas polaridades: a vontade de viver e a possibilidade de morte. Gosto muito de uma frase de Martinho Lutero “Se eu soubesse que o mundo acabaria amanhã, hoje plantaria uma árvore”.
Cada um escolhe seu caminho. Eu quero continuar, enquanto for possível. Eu te convido a não desistir!
