Envelhecer é inevitável. Mas ter uma vida longa se tornou uma possibilidade real, especialmente para as mulheres, que têm expectativa média de vida maior do que os homens: 79,7 anos para elas e 73,1 anos para eles, segundo o IBGE (2023).

Esses números ressaltam a importância de políticas públicas e estratégias de saúde que considerem as especificidades de gênero na prevenção, no diagnóstico e nos cuidados em saúde.

Eu conversei com o neurologista Dr. Marcos Alvarenga e com a neurocientista Dra. Ana Carolina sobre um tema ainda cercado de silêncio: o cérebro da mulher madura.

Mulheres têm mais risco de sofrer declínio cognitivo

Estima-se que, globalmente, mais de 55 milhões de pessoas vivam com algum tipo de demência. Desse total, aproximadamente dois terços são mulheres, o que equivale a cerca de 36,7 milhões de mulheres afetadas pela condição, segundo dados da Organização Pan-Americana de Saúde (2021).

Essa prevalência mais elevada entre mulheres pode ser atribuída a diversos fatores, incluindo a maior expectativa de vida feminina, alterações hormonais disparadas pela menopausa e desigualdades sociais e econômicas que impactam diretamente a saúde cognitiva.

A menopausa é um divisor de águas para o cérebro feminino

Menopausa não é doença. Apesar disso, a ciência já sabe que a transição para o climatério e a menopausa pode alterar a forma como pensamos, sentimos e nos relacionamos.

O fim do período reprodutivo marca também uma mudança significativa na produção hormonal. A queda dos níveis de estrogênio, por exemplo, pode aumentar a vulnerabilidade do cérebro feminino ao declínio cognitivo. O estrogênio possui propriedades neuroprotetoras, e sua diminuição pode afetar áreas cerebrais ligadas à memória e às funções executivas.

Nessa fase, “a mulher pode perceber lentidão no raciocínio, falhas de memória e alterações de humor”, explica o Dr. Marcos.

Essa visão é compartilhada por pesquisadoras como Dra. Lisa Mosconi, autora do livro O cérebro e a menopausa, que considera esse período uma transformação neurológica, e não apenas hormonal. Afinal, é o cérebro que comanda toda a resposta endócrina do corpo.

Além disso, estudos apontam que doenças cardíacas, como a doença arterial coronariana, e fatores de risco como diabetes e colesterol alto, têm uma associação mais forte com o declínio cognitivo em mulheres do que em homens. Apesar de os homens apresentarem maior prevalência dessas condições, as mulheres parecem ser mais suscetíveis aos seus efeitos sobre a cognição.

Pesquisas indicam ainda que mulheres com glicemia não controlada tendem a apresentar um declínio cognitivo mais acelerado — especialmente nas funções executivas — do que homens na mesma condição. Entre os homens, essa associação não foi considerada estatisticamente significativa.

Uma mulher idosa e negra sorrindo enquanto mexe no computador e faz anotações. Imagem para ilustrar a matéria sobre o cérebro da mulher madura. Crédito: JLco Julia Amaral/Shutterstock

Transformação não é perda: é adaptação

Ao contrário do que muitos imaginam, essas mudanças cognitivas não representam necessariamente uma perda de capacidade — e sim uma profunda transformação.

Como aponta a neurocientista Dra. Ana Carolina, “o cérebro precisa de tempo para se adaptar a essa nova fase. Mas ele é plástico, ou seja, tem a capacidade de se reorganizar e aprender ao longo de toda a vida”.

A menopausa é uma travessia. Mas com acesso à informação, suporte adequado e ambientes menos preconceituosos, essa fase pode ser vivida com potência — e não com medo.

A mulher madura tem um cérebro ativo, inteligência emocional refinada, histórico de superações e uma enorme capacidade de transformação. O que falta, muitas vezes, é apenas o reconhecimento disso — por ela mesma e pelo mundo ao redor.

7 Dicas práticas para cuidar do cérebro na maturidade:

1. Entenda seu momento

Saiba identificar os sinais da menopausa: alterações de memória, insônia, irritabilidade, ansiedade, calorões. Esteja atenta a sintomas persistentes como tristeza ou cansaço mental. Reconhecer é o primeiro passo para agir com consciência e sem culpa.

2. Durma bem

O sono é restaurador e essencial para a função cognitiva. Evite cafeína à noite, reduza o uso de telas antes de dormir e procure ajuda médica se a insônia for frequente.

3. Alimente bem o corpo

Priorize alimentos anti-inflamatórios, ricos em ômega-3, antioxidantes e vitaminas do complexo B. A saúde intestinal também influencia o humor e a cognição.

4. Movimente-se

A atividade física regular melhora a oxigenação cerebral, reduz o estresse, regula o humor e protege contra o declínio cognitivo.

5. Exercite sua mente

Aprender algo novo é fundamental. Leia com regularidade, escreva, jogue xadrez, faça palavras cruzadas, estude, explore novas tecnologias. O cérebro amadurece — mas não deixa de aprender.

6. Fale sobre o que está sentindo

Não guarde tudo para si. Falar sobre o climatério, menopausa e pós-menopausa com amigas, familiares, profissionais ou colegas ajuda a quebrar tabus e fortalece redes de apoio.

7. Consulte especialistas

Busque acompanhamento com ginecologista, neurologista ou psicólogo. Terapias hormonais ou alternativas podem ser avaliadas caso a caso — sempre com orientação profissional.


Esse artigo foi inspirado no episódio “O funcionamento do cérebro da mulher na maturidade”, do podcast Barralife Talks: https://www.youtube.com/watch?v=W9l3zgaT2cY

LinkedIn / Instagram


Quer ter acesso a uma série de benefícios para viver com mais qualidade de vida? Torne-se um associado do Instituto de Longevidade MAG e tenha acesso a Tele Saúde, descontos em medicamentos, mais de 200 cursos com certificado, Seguro de Vida e assistência residencial e outros benefícios.

Fale com nossos consultores e saiba mais!

Leia também:

Saúde das mulheres maduras segue sendo negligenciada; apontam especialistas

Mulheres vivem mais? Entenda a diferença na longevidade dos gêneros

O poder de escolha da mulher e os questionamentos sobre suas decisões

Compartilhe com seus amigos

Receba os conteúdos do Instituto de Longevidade em seu e-mail. Inscreva-se: