Solidão, medo do futuro, desânimo: a depressão apresenta diversos sintomas, e não escolhe sexo, classe social ou faixa etária. Entre as diversas formas de se lutar contra esse mal, uma delas está na palma da mão: o Whatsapp. Isso é o que mostra um estudo realizado na Universidade de São Paulo (USP), em que um grupo de idosos residentes em Guarulhos (SP) teve melhoras significativas em seus quadros depressivos após seis semanas participando do Programa Viva a Vida.

O programa Viva a Vida e a pesquisa foram liderados pela médica psiquiatra Márcia Scazufca, do Hospital das Clínicas de São Paulo. Os resultados da investigação, financiada pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp), foram publicados no periódico Nature Medicine.

Conteúdo do bem via Programa Viva a Vida

Scazufca é professora do Departamento de Psiquiatria da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FM – USP) e pesquisadora do Hospital das Clínicas. Ela e sua equipe criaram o Programa Viva a Vida. Trata-se de uma iniciativa de fomento à saúde mental composta, entre outras ferramentas, por conteúdos para WhatsApp sobre depressão e comportamento. A ferramenta foi aplicada junto a um grupo de idosos, pacientes de depressão, registrados em 24 Unidades Básicas de Saúde (UBS) do Sistema Único de Saúde (SUS) em Guarulhos, município da Grande São Paulo.

O ensaio do Programa Viva a Vida envolveu 603 pacientes com sintomas depressivos significativos. Eles foram distribuídos em dois grupos. O primeiro, chamado grupo de intervenção, reuniu 298 participantes. Durante seis semanas, eles receberam as mensagens pelo WhatsApp. Os conteúdos desenvolvidos pela equipe médica chegavam aos seus celulares duas vezes por dia, quatro dias por semana. Eram mensagens de áudio e imagens com informações sobre depressão e ativação comportamental.

Os conteúdos enviados aos pacientes do grupo de intervenção eram mensagens de voz, de três minutos de duração, ou imagens. Considerando as particularidades do grupo demográfico, os pesquisadores optaram por não incluir mensagens de texto. A linguagem utilizada foi de fácil compreensão, baseada em programas de rádio. Uma voz feminina e outra masculina, de Ana e Léo, liam mensagens de forma alternada. O conteúdo incluiu frases educacionais sobre depressão, incentivos a comportamentos de combate à doença e alertas contra as recaídas.

O segundo grupo do Programa Viva a Vida, chamado de controle, tinha 305 pessoas. Eles receberam uma única mensagem de caráter educacional via Whatsapp, e nada mais. Nenhum dos grupos teve o suporte de psicólogos ou terapeutas durante as duas semanas. Ao final do período, todos os 603 participantes foram reavaliados.

Um senhora olhando mensagens no whatsapp do Programa Viva a Vida. Crédito: Ground Picture/Shutterstock

Resultados animadores

A média de idade dos participantes do estudo foi de 65,1 anos. A maioria, 74,8%, eram mulheres, e 25,2% eram homens. No grupo de intervenção, que recebeu os conteúdos do Viva a Vida via Whatsapp por seis semanas, 42,4% apresentaram melhora nos sintomas depressivos. Já no grupo de controle, 32,2% evoluíram. O resultado indica que, no curto prazo, a intervenção por mensagens foi eficaz no tratamento da depressão.

Segundo a pesquisadora chefe, o baixo custo do Programa Viva a Vida, aliado aos resultados, mostram seu potencial de alcançar uma grande quantidade de pacientes do SUS. O baixo custo e a fácil implementação do modelo permitem que ele seja replicado em países de condições socioeconômicas semelhantes ou inferiores às do Brasil. Ou seja, onde o acesso a tratamentos convencionais também é limitado.

Tecnologia ajudou nos critérios da pesquisa

E como os participantes do estudo foram escolhidos? Os pesquisadores utilizaram uma ferramenta chamada PHQ-9 (sigla em inglês para Patient Health Questionnaire-9, ou Questionário de Saúde do Paciente-9). Ela é bastante aplicada na avaliação da presença e severidade dos sintomas de depressão.

O PHQ-9 utiliza uma escala de 0 a 27, em que 0 a 4 significa ausência de depressão, 5 a 9 indicam depressão leve, 10 a 14, depressão moderada, 15 a 19, depressão moderadamente grave e 20 a 27, depressão grave. Os selecionados para o estudo tinham pontuação acima de dez – isto é, apresentavam um quadro depressivo acima de moderado a grave.


Se você quiser contar com auxílio médico, para questões relacionadas à saúde física ou mental, saiba que o Programa de Benefícios ViverMais oferece pronto atendimento 24h com médicos clínicos gerais e com psicólogos em dias úteis. Basta se associar!

Leia também:

Planos de saúde para idosos: quais os direitos e quando ir à justiça para garanti-los?

Avós que convivem com netos vivem mais, revela estudo alemão

Exercício físico pode ajudar a reduzir ansiedade no envelhecimento

Compartilhe com seus amigos

Receba os conteúdos do Instituto de Longevidade em seu e-mail. Inscreva-se: