Elas são mães, avós, esposas, donas de casa, lavam, passam, cozinham, arrumam, são mediadoras de conflitos, cuidam dos estoques e das compras, fazem de tudo para todos e, ainda por cima, trabalham fora, na profissão que escolheram seguir. Ficou cansado(a) só de imaginar essa rotina diária? Pois essa é a realidade de muitas mulheres no Brasil e no mundo.

Pensando nisso, um grupo de psicólogos americanos desenvolveu o conceito de “momcation”. A expressão, criada a partir da junção das palavras mom (mãe, em inglês) e vacation (férias, em inglês), significa “as férias das mães” e vem ganhando muitos incentivadores em todo o mundo.

Por causa dessa jornada dupla de trabalho – e muitas vezes tripla – as mulheres não conseguem se desligar das obrigações em nenhum momento do dia, durante todo o ano. Por isso, os adeptos ao momcation defendem que as mães deveriam tirar férias da família pelo menos uma vez por ano. Isso mesmo! Viajar com as amigas, sem filhos, nem maridos, para algum lugar onde elas não precisem cozinhar, nem limpar, nem se preocupar com os problemas dos outros. Apenas relaxar e curtir!


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E os profissionais garantem que isso será bom não apenas para elas, mas para toda a família.

Psicóloga e professora da Faculdade de Educação da Baixada Fluminense da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (FEBF/UERJ), Marina Castro e Souza lembra que temos hoje um número significativo de mulheres que sofrem de depressão. E que, junto a isso, estudos importantes, tanto no campo da medicina, como também nos da psicologia e da psiquiatria, trazem evidências de que o fato de as mulheres desempenharem diferentes papeis sociais tem sido uma explicação para o aumento de casos da doença.

“É importante a gente dizer que há um grande número de estudos que evidenciam que, por exemplo, doenças psicológicas como a depressão, que têm um percentual significativo dentro do grupo de mulheres, têm como explicação essa exigência de desempenhar diferentes papeis”, explica Marina. “Esse grupo, que vem chamando a atenção para a necessidade de férias das mulheres, das esposas e das mães, de alguma forma está dialogando com esse acumulado de estudos”.

A cultura do machismo

Marina acrescenta que a construção desse conceito de momcation de alguma forma fortalece uma discussão que o feminismo vem historicamente desenvolvendo, militando e denunciando, que é a desigualdade entre homens e mulheres. Para ela, isso é expresso de uma forma muito forte nas relações familiares.

“Mesmo hoje, quando a gente ouve relatos de mulheres que vivem relacionamentos que tendem para uma divisão mais democrática, podemos observar que as mulheres ainda têm mais responsabilidades que os homens, são mais sobrecarregadas. Por exemplo, quando um filho adoece. Essa criança geralmente fica com a mãe, que tem que se ausentar do seu trabalho e das suas responsabilidades para cuidar do filho”, destaca.

A psicóloga clínica Rebeca Zar concorda e complementa que, nos dias de hoje, é cada vez mais comum que as mulheres tenham menos tempo para cuidar da própria saúde e para o lazer. De acordo com Rebeca, a tripla jornada é uma das maiores cobranças sofridas pelas mulheres, e que gera sobrecarga física, emocional e psíquica.

“A cultura do machismo ainda se constitui em um empecilho para que o homem compartilhe da responsabilidade doméstica das mulheres. Estamos numa era que [essa cultura machista] não se encaixa mais nos novos papéis ocupados pelas mulheres no mercado e na sociedade em geral”, pontua Rebeca.

Ela destaca que a saúde física da mulher até pode ser cuidada, na maioria dos casos, especialmente pela necessidade dos exames ginecológicos anuais. Porém, a saúde mental, que é tão importante quanto a física, acaba sendo negligenciada.

“Menos tempo para si e para o lazer são importantes fatores de risco para que o estresse acabe se tornando uma depressão ou um transtorno de ansiedade”, diz Rebeca. E conclui: “Então sim, a mulher precisa de um tempo para si, para cuidar de sua saúde e da autoestima”.

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