Ume Shimada, empresária de 89 anos,  já trabalhou com costura, foi feirante, dona de ótica. Hoje é produtora de lichia (uma das pioneiras no Brasil) e dona da Obaatian, fábrica de pequeno porte de chá artesanal orgânico em Registro, no Vale do Ribeira (SP), aberta há dois anos com a ajuda de uma das filhas.

Mãe de seis filhos, com 13 netos e seis bisnetos, Ume envolve toda a família no trabalho da lichia e do chá. "Eles gostam de ajudar", conta a avó de jeito simples, que diz não se preocupar com roupas, mas que também é vaidosa: "Não saio de casa sem meu perfume, Coco Chanel".

Seu espírito empreendedor, sua "teimosia" _ segundo ela, o que dá qualidade ao produto _ e seu amor ao chazal fizeram com que seu artigo chamasse a atenção dos principais produtores de chá do mundo, os japoneses: em 2015, foi convidada pelo governo nipônico a participar de uma exposição de chás e recebeu a visita de empresários interessados em conhecer melhor seu processo de produção. "A gente não pode parar, senão morre", ensina.

 A sra. já se dedicou a áreas diferentes. Nunca teve medo de investir?
Não. Aproveito as oportunidades. Meu irmão quis vender a barraca da feira, e convenci meu marido a comprar. Nunca tinha trabalhado com isso, tive de encaixotar tudo em Registro e mudar para São Paulo de um dia para o outro. Foi uma vida dura por cinco anos, vendia doce, macarrão. Quando cansei da feira, ouvi minha sobrinha falar que ia vender a ótica. Falei com meu marido: "Vamos comprar?", e fomos naquela mesma noite. Não entendia nada de ótica. Minha filha foi aprendendo com o antigo dono, uma loucura. Sempre foi assim.

empresária de 89 anos A empresária Ume Shimada em seu chazal, em Registro, no Vale do Ribeira (SP). Crédito: Divulgação

E quando começou a produção de lichia?
Há quase 30 anos, comprei 300 mudas de lichia porque tinha visto um pé carregado. Nem conhecia a fruta. Passaram seis anos e eles não davam frutos, briguei com quem me vendeu. Ia cortar todos os pés, mas eles carregaram que foi uma beleza. Hoje vendemos para vários lugares em São Paulo.

A sra. trabalha com o chá desde os cinco anos... Sofreu quando foi avisada que teria de parar a produção?
Sim, a vida toda trabalhamos com chá. Em 2011, a fábrica daqui de Registro [para quem vendiam as folhas] disse que não ia mais comprar. Chorei, entrei em desespero, não queria abandonar o chazal. Em 2014, comprei uma máquina e hoje produzo chá artesanal orgânico. Até fui ao Japão participar de uma exposição sobre o nosso chá. Foi uma viagem cansativa. Sou mulher do mato e tive de dar entrevista num palco com plateia, achei que fosse desmaiar.

Quando a sra. descansa?
Não sei ficar parada, assistir à TV. Mas gosto de jogar Free Cell no computador. Deixo meu relógio do lado e falo para mim mesma: "Só uma hora e meia". Quando vejo já foram mais de duas horas, fico brava comigo. Estou aprendendo a usar o computador, mas não sei muita coisa.

empresária de 89 anos O chazal de Ume Shimada e, em primeiro plano, a marca do chá artesanal Obaatian. Crédito: Divulgação

A sra. gosta de trabalhar com a terra?
Gosto de tudo que é serviço, limpo o campo, uso a roçadeira, tiro mato com faca, costuro sem óculos. Mulher sempre tem serviço. Meu marido só ficava na frente da TV. Eu pensava: "O que vou fazer com esse homem?" Ele se acomodou, só ficava deitado. Dizia que já tinha trabalhado bastante e que não precisava mais. Esse foi o erro dele [morreu há sete anos]. Por que as mulheres vivem mais? Porque trabalham a vida toda.

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