Na maturidade, o preconceito contra a mulher no mercado de trabalho é maior do que o sofrido pelos homens. “O envelhecimento é tabu. Para a mulher, isso é ainda mais forte também nas organizações”, comenta a professora Vanessa Cepellos, do Núcleo de Estudos em Organizações e Pessoas da Escola de Administração de Empresas de São Paulo da Fundação Getulio Vargas (FGV-EAESP).
“Depois dos 50 anos, o etarismo acaba sendo um problema a mais para elas”, concorda Simone Cornelsen, diretora-geral do Lab60+, movimento de pessoas e organizações que tem como meta revolucionar o significado da longevidade.
E ele se manifesta além da inserção ou reinserção da mulher com 50 anos ou mais. Também pode ser visto no dia a dia delas em seus postos. “Há muito preconceito contra a mulher no mercado de trabalho velado. A mulher de cabelos brancos é vista como desleixada e de aparência pouco profissional. Isso não acontece com o homem grisalho”, afirma a professora.
A pressão também é sentida quando a mulher opta pela maternidade tardia. “Isso coloca mais uma camada de temor nessa relação com o trabalho”, comenta Vanessa. Há ainda, segundo ela, “muito medo de que um jovem tire seu lugar. O que impacta na tentativa de omitir a idade no currículo, na tintura do cabelo ou numa cirurgia plástica”.
A mulher no mercado de trabalho
Apesar disso, de acordo com Simone, algumas corporações começam a perceber que são as mulheres maduras quem têm algo raro a oferecer. “O trato empático com clientes e fornecedores é um diferencial. Com uma visão mais ampla da empresa, elas aplicam um saber que só a maturidade dá, se engajam mais e são mais comprometidas”, comenta.
Lá fora, já há sinais de que o mercado de trabalho pode se abrir mais às maduras. Um estudo da Wharton School of the University of Pennsylvania, publicado em 2018, indica as 50+ como o segredo para impulsionar a economia dos Estados Unidos nas próximas décadas.
Nele, os pesquisadores chamam a atenção para as mulheres entre 55 e 64 anos. Na chamada "geração-sanduíche" (trabalham, têm filhos dependentes e começam a sentir a demanda para dar suporte aos pais), elas estariam prontas para assumir ou manter um emprego que lhes dessem prazer, desde que em contratos mais flexíveis de jornada de trabalho.
Olhando para o futuro, os setores que devem mais reter e atrair essas mulheres são os de cuidados infantis e educação, saúde e vida assistida. Uma maneira, mesmo que sutil de combater o preconceito contra a mulher no mercado de trabalho. “O cuidado, de um modo geral, tende a estar no universo feminino. Pode ser um diferencial no mercado de trabalho. Isso tem total alinhamento com as áreas de saúde e educação”, avalia a diretora-geral do Lab60+.
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Visões equivocadas sobre o preconceito contra a mulher no mercado de trabalho
O fato é que, no Brasil, a retenção das mulheres nas corporações ainda é difícil. “Muitas vezes, a 50+ tem uma carreira nas companhias. Mesmo galgando postos, mas sofre com salários menores e aposentadoria forçada”, diz Simone.
A pesquisa “Envelhecimento nas Organizações e a Gestão da Idade”, realizada pela FGV com a Aging Free Fair, mostrou que, para ambos os sexos, a visão dos gestores também é barreira para a manutenção da carreira.
Os resultados revelaram que os líderes percebem os seniores como carentes de criatividade e incapazes de se adaptar às novas tecnologias. “É um grande equívoco. Criatividade é algo que se alimenta a vida toda. Um maduro pode ser extremamente criativo, ágil e digital”, ressalta a gestora.
As percepções positivas são associadas, sobretudo, a fidelidade à empresa, comprometimento no trabalho e maior equilíbrio emocional. Isso ao comparar com os mais jovens. Mas “as visões negativas ainda parecem ter maior valor, o que acaba refletindo na falta de práticas organizacionais”, lamenta a professora da FGV-EAESP.
“É por isso que muitas pensam em construir outra carreira, mais longeva, por exemplo, em consultoria, coaching, na academia, como conselheira de empresas ou mesmo empreendedora”, pontua.
Preconceito no mercado de trabalho: uma luta pessoal
No combater ao preconceito contra a mulher no mercado de trabalho, a diretora-geral do Lab60+ recomenda desenvolver a autoestima. “Se não nos valorizarmos, ninguém vai. Temos de sair da postura de vítima e cavar as oportunidades. E, para isso, é preciso sacodir a poeira e reciclar conhecimento, buscar se relacionar, reativar contatos e fazer parcerias. Tem inúmeros grupos e possibilidades de cursos on-line.”
Segundo ela, preparar-se para a velhice é oxigenar a cabeça, aprender sempre, ressignificar a vida: “Para não se tornar obsoleta, a mulher precisa observar quais as áreas que estão sendo demandadas, o perfil das competências que estão sendo consideradas e quais precisam desenvolver. Essa autoanálise é muito importante. Não dá mais para ficarmos presos a um crachá. Não adianta buscar um emprego, mas aquilo que faz sentido”.
O Lab60+ criou o programa Reinvente-se, que ajuda a mapear as habilidades desenvolvidas e que satisfazem a mulher. “Tem que colocar o prazer como centro de decisão. Do contrário, é o medo que aparece na frente e tudo o que é pautado nele tem um custo emocional muito grande. Prefiro inverter isso, entendendo o que falta para completar as habilidades que me façam trabalhar feliz”, diz Simone.
Para ela, o trato com as mídias sociais e o marketing pessoal são fundamentais nisso, além de ficar antenado nas novidades que estão sendo trazidas nas universidades (novos cursos, abordagens ou matérias), capacitação a distância e reciclagem.
“No fundo, defendo montar equipes de trabalho que contemplem jovens e maduros. Essa troca é muito benéfica. Equipes multidisciplinares e multigeracionais tendem a gerar resultados melhores”, conclui.
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