Perder o emprego se tornou um pesadelo para o brasileiro, dada a dificuldade, nos últimos quatro anos, para a recolocação no mercado de trabalho, em especial para quem é demitido após os 50 anos de idade.
Segundo o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), o desemprego entre profissionais seniores (acima de 60 anos) cresceu 8% no primeiro trimestre de 2018 (últimos dados disponíveis), em relação ao mesmo período de 2017: saltou de 938 mil para 1,02 milhão de pessoas.
No Brasil como um todo, o desemprego fechou 2018 estável em relação a 2017, atingindo 12,1 milhões de pessoas. Apesar de o aumento no número de desocupados ter caído, o resultado aponta que a questão trabalhista deixou de ser temporária para se tornar um problema crônico.
Para o profissional que é demitido após os 50 anos, o desligamento pode representar não só a perda de uma importante fonte de renda como também a privação do status social e do vínculo com o mundo corporativo.
Esse foi o caso da pedagoga Juliana, 55, que pediu para não ser identificada. Após trabalhar por sete anos como assessora política, ela foi demitida no ano passado — dois anos antes de dar entrada na aposentadoria. Com a decepção, veio também a depressão.
“Todo mundo já teve uma porta fechada. Mas, quando tem uma aberta, o que faz de diferente?”
“Acabei me afastando das pessoas e mandando currículo apenas por e-mail, por vergonha da situação que estava passando. Cheguei a trabalhar como Uber e a vender brigadeiro na rua”, conta ela, que atualmente faz trabalhos freelancers em sua área de formação.
Superar a baixa autoestima e conquistar uma nova oportunidade de trabalho depende mais da própria pessoa do que do mercado de trabalho, avalia Wilma Dal Col, diretora do Manpower Group, empresa de recursos humanos: “Se o profissional acreditar que não tem capacidade, terá dificuldades para qualquer desafio que for enfrentar na vida”.
Experiência é o diferencial de quem é demitido com mais de 50 anos
Apesar das barreiras financeiras inerentes ao desemprego, a executiva aconselha o trabalhador sênior a destacar seu maior diferencial para conquistar uma oportunidade: a experiência.
“Um bom candidato é o que mostra como fez para levantar bons resultados nas empresas que passou. Todo mundo já teve uma porta fechada, mas, quando tem uma aberta, o que faz de diferente?”, questiona a executiva.
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O alagoano Cícero Rosa, 56, valoriza a experiência que acumulou durante os 34 anos em que trabalhou como manobrista em um estacionamento na zona oeste de São Paulo. No fim do ano passado, no entanto, o estabelecimento fechou e ele foi demitido.
Mas dias depois ele conseguiu ser realocado na mesma área, por conta de seu conhecimento no setor e facilidade em lidar com clientes. “A gente não pode baixar a cabeça. Formei três filhos com meu emprego no estacionamento. Sou grato à oportunidade e à experiência que tive. Quando somos empregados, estamos sujeitos ao desemprego”, diz.
Este ano, Cícero já não trabalha mais como manobrista. E ele se orgulha do motivo: com as economias que guardou durante a carreira, ele vai abrir agora em fevereiro o próprio estacionamento, em Osasco, na Grande São Paulo. “Se eu não conhecesse tão bem o setor, não teria tanta segurança de que meu negócio vai dar certo”, comemora.
O manobrista Cícero Rosa, demitido após os 50 anos de idade, e sua esposa, Lucia; Crédito: Arquivo Pessoal.
Recomeçar dentro da própria profissão é um dos caminhos mais comuns para quem é demitido após os 50 anos. “O importante é ter clareza para que os objetivos sejam perseguidos de forma assertiva”, aconselha Celso Braga, sócio-diretor do grupo Bridge, que atua com recursos humanos.
Com as mudanças nas relações de trabalho, os profissionais também amadureceram o próprio discurso e trouxeram a responsabilidade da carreira para si: “Hoje, a pessoa empresta seu talento para a empresa. Desta forma, o trabalhador sênior tem como diferencial a possibilidade de mostrar como a própria experiência pode contribuir com a companhia, sem deixar de lado a humildade para adquirir novos conhecimentos para a vida”.
7 dicas para conquistar um novo emprego
1 - Liste novos trabalhos que poderia executar com a experiência que adquiriu na carreira.
2 - Participe de eventos ligados ao setor que atua ou que deseja atuar para fazer networking.
3 - Reative antigos relacionamentos de trabalho para trocar experiências.
4 - Antes de participar de entrevistas, estude o histórico da empresa e pense em como poderia contribuir com seu trabalho.
5 - Mantenha-se atualizado sobre as redes sociais do momento, principalmente as de cunho profissional, como o LinkedIn.
6 - Participe de fóruns e discussões on-line sobre a área que atua ou deseja atuar.
7 - Avalie a necessidade de contratar um “headhunter” ou uma agência de empregos profissional.