Ao escrever o livro “Aposentar e Empreender”, o professor Silvio Broxado, 53 anos, teve como inspiração o próprio pai – que não pôde parar de trabalhar porque o benefício recebido da Previdência não era suficiente para manter o padrão de vida.

Cofundador da ONG Geração 50+, cujo objetivo é ajudar na preparação para aposentadoria, ele avalia que a maturidade é um dos maiores aliados de quem quer abrir um negócio. Pessoas com mais de 50 anos, diz ele, “quando se dedicam a empreender, têm maior grau de dedicação, porque sabem que aquela pode ser uma oportunidade única, a melhor, a última”.

Leia a seguir trechos da entrevista.

Pessoas com mais de 50 anos de idade empreendem mais por oportunidade ou por necessidade?

Percebo que quem é classe A, B ou até C superior tem uma tendência a empreender mais por oportunidade. Porque as pessoas tiveram tempo, chance de se capacitar, de procurar entidades de apoio. De uma forma geral, pessoas da classe média são um misto de oportunidades e necessidades.

Uma das defesas que eu faço no livro é que as pessoas se preparem e busquem apoio para empreender. Só 15% das empresas buscaram informação – 85% delas não tiveram orientação. Todo negócio tem seu risco próprio, mas, sem informação, ele aumenta muito.

O pior erro é não buscar ajuda?

Com certeza. É preciso buscar orientação. É claro que uma pessoa que tem mais de 50 anos provavelmente terá mais sensibilidade para analisar, comparar. A maturidade dá essa condição de reflexão.

Em que as pessoas aposentadas se sobressaem às demais quando abrem um negócio?

Tirando por mim: hoje eu tenho 53 anos. Trinta anos atrás, eu tinha uma rede de relacionamento menor e muito menos informações sobre a vida, condições de inferir prognósticos e conhecimento técnico. Aos 50 anos, eu tenho a bagagem cheia de maturidade, de relacionamentos, de conhecimento técnico em uma área e transversal em outras, além de atitudes mais reflexivas e sistêmicas.

Às vezes, as pessoas com mais de 50 anos têm menos oportunidades no mercado de trabalho e, quando se dedicam a empreender, têm o maior grau de dedicação. Porque sabem que aquela pode ser uma oportunidade única, a melhor, a última. Os jovens tendem a ter menos paciência, a pular mais de galho em galho, um limiar de espera baixo.

É bom ter um sócio ou um apoio da família?

É difícil responder. No negócio, se os papéis não forem definidos por escrito, vai haver complicações.

Qual é o principal problema de quem tem perfil empreendedor ao abrir um negócio?

Geralmente, as pessoas têm dificuldade no capital de giro, para poder sustentar nos primeiros meses. E no conhecimento de gestão – saber de marketing, de tendência de mercado.

As pessoas estão jogando a toalha e não tem ninguém falando: Não, não joga a toalha. Vamos continuar

Até que idade você abriria uma empresa?

Enquanto eu estiver inconformado, não tem limite. As histórias mais impressionantes são a de Roberto Marinho, que começou aos 60 anos, e Cora Coralina, que escreveu o primeiro poema aos 75 anos e entrou para a Academia Brasileira de Letras. Não tem limite.

Você tem uma trajetória corporativa. O que te atraiu no empreendedorismo?

Meu pai se aposentou com 51 anos. Nasceu em uma favela em São Luís, no Maranhão, na década de 30. Foi o 14º de 15 filhos e criado por uma mãe de criação. O pai faleceu quando ele tinha 6 anos. Ele dizia: “Silvio, eu usei banheiro pela primeira vez dentro de casa quando tinha 16 anos”.

Essa história do meu pai de ter sucesso profissional e se aposentar – mas não ter se preparado para a aposentadoria... Ele se tornou corretor de seguros e tem hoje 79 anos. Todos os dias, vai para a corretora de seguros dele, entende? Precisa complementar o orçamento. Se tivesse remuneração que atendesse o que ele quer, não teria essa carga de 8 horas por dia.

A história dele me inspirou. Eu cheguei nessa fase. As pessoas estão jogando a toalha e não tem ninguém falando: “Não, não joga a toalha. Vamos continuar”. Por estar vivendo, ter exemplo na minha casa e ver que não tem ninguém – fora o Instituto de Longevidade Mongeral Aegon e mais três ou quatro institutos... Não existem políticas públicas ou trabalho social de peso para as pessoas manterem seus objetivos, sonhos e projetos.

A gente vai viver mais 30 ou 40 anos na “seniolescência”. Não pode jogar a toalha. Tem que se reinventar.

Compartilhe com seus amigos