O Brasil está envelhecendo em ritmo acelerado e, em menos de 40 anos, mais de um quarto da população brasileira terá mais de 65 anos. Ao mesmo tempo, o bônus demográfico está chegando ao fim e o modelo previdenciário tradicional não dará conta de sustentar uma população tão envelhecida. A maior parte dos jovens, por sua vez, não quer nem ouvir falar em investir para a aposentadoria. Para eles, o verbo "aposentar" parece muito distante, pouco atrativo e, muitas vezes, inalcançável.

Segundo o 8º Raio-X do Investidor, divulgado em abril deste ano pela Anbima, apenas 37% da população brasileira investe de alguma forma. Desses, apenas um a cada 10 aplica com foco na aposentadoria. Na análise por faixas etárias, a geração X (44 a 63 anos em 2024) e os millennials (29 a 43 anos) são os que mais se preocupam em destinar, para a velhice, parte do dinheiro investido, com índices de 12% cada.

A geração Z (16 a 28 anos), que está mais longe de se aposentar, tem 10% das respostas. O relatório também mostra que a maioria das pessoas não aposentadas ainda não iniciou uma reserva financeira para a velhice (82%). 

É nesse cenário que surge uma necessidade urgente: reinventar a conversa sobre o futuro financeiro, trazendo novas linguagens, novas soluções e um novo propósito. “A maioria das estratégias que deram certo no mercado financeiro até hoje foi construída para uma sociedade que já não existe mais”, alerta Gleisson Rubin, diretor do Instituto de Longevidade MAG. “E a pergunta que fica é: o que acontece com a lógica da previdência e dos investimentos quando temos cinco gerações coexistindo na força de trabalho?”.

Investir para a aposentadoria é conceito que muda conforme as geraçõesFoto: bpawesome/shutterstock

Diferentes gerações, uma nova lógica

Hoje, convivem no mercado de trabalho brasileiros da geração baby boomer que postergaram a aposentadoria, profissionais da geração X em seu auge, millennials assumindo posições de liderança; e os primeiros representantes da geração Z com valores completamente diferentes. Essa pluralidade traz desafios reais, especialmente na forma como se fala  e se pensa sobre previdência.

“Boomers e X ainda contavam com uma proteção estatal mínima, por isso tinham mais confiança no INSS e investiam em patrimônio tradicional”, explica Rubin. “Já as gerações Y e Z cresceram em meio a reformas, crises fiscais e alta informalidade. Elas buscam liberdade financeira, não um plano fixo para o futuro", avalia.

Isso explica o baixo engajamento previdenciário entre os jovens. Muitos trabalham na informalidade, enfrentam custos elevados de vida e não conseguem pensar em longo prazo. Além disso, há uma desconfiança generalizada nas instituições. Isso torna os planos de previdência tradicionais ainda menos atrativos. Some-se a isso o déficit de educação financeira, que dificulta a compreensão sobre investimentos, acúmulo de patrimônio e planejamento.

A longevidade virou desafio 

Com mais idosos e menos jovens contribuindo, a sustentabilidade do sistema público de aposentadorias está ameaçada. E mais: os próprios idosos de hoje já não contam mais com o suporte da família. Pelo contrário. Muitos precisam manter a renda ativa ou até ajudar financeiramente filhos e netos. “Antes, os idosos herdavam dos filhos a estrutura familiar. Hoje, são eles que bancam a própria velhice. Às vezes, ainda ajudam os filhos”, lembra Rubin.

Isso muda também a relação com o patrimônio. A ideia de acumular bens para deixar como herança vem sendo substituída pela necessidade de usar o que se tem para garantir autonomia, moradia e qualidade de vida nos anos finais. Para esse novo idoso, produtos de renda vitalícia e soluções flexíveis de previdência são cada vez mais relevantes, segundo o executivo.

Do outro lado, a geração Y enfrenta o chamado “sanduíche etário”: cuida de filhos pequenos e, ao mesmo tempo, dos pais que envelhecem. Isso exige liquidez, proteção e uma estratégia financeira mais complexa. “Vamos ter que reinventar os produtos, mas também reinventar a lógica de proteção de renda”, defende Rubin. “A previdência não é mais o fim: ela tem que ser o meio para a liberdade, a autonomia e a dignidade”.

Um novo jeito de falar sobre "investir para a aposentadoria"

A geração Z não quer carreira estável. Quer mobilidade. Não sonha com um contracheque no fim do mês, mas com independência, tempo livre e projetos com propósito. Nesse contexto, o mercado financeiro precisa mudar não só o produto, mas a forma como o apresenta. “As gerações mais jovens não querem cargos, querem tempo. Não querem estabilidade, querem liberdade. E o mercado financeiro continua falando com elas como se elas quisessem aposentadoria”, diz Rubin.

Segundo o executivo, a linguagem técnica, a promessa de um “futuro tranquilo” e os planos engessados não seduzem. Para esses jovens, é preciso falar de liberdade, de autonomia, de poder de escolha. E para isso, educação financeira precisa ser tratada como um eixo estruturante, desde a escola até o ambiente corporativo.

Rubin destaca os cinco pilares essenciais: gastar menos do que se ganha, fazer renda extra, consumir com consciência, investir e proteger o patrimônio. “O desafio não é só reinventar os produtos. É reconstruir a confiança e o desejo de investir. Se queremos construir um futuro financeiro mais sustentável, precisamos lembrar que previdência, hoje, não é mais sobre parar de trabalhar para sempre e investir o tempo em lazer, viagens ou cuidados com os netos. Na perspectiva contemporânea de ciclos e reinvenções, trata-se de poder escolher o que fazer com o tempo livre", afirma. 

E o que empresas e entidades podem fazer neste cenário?

Além da reformulação da narrativa, o diretor do Instituto de Longevidade acredita que é preciso investir em uma cultura financeira contínua. "Empresas precisam ampliar a educação acerca do tema e mostrar as vantagens e benefícios relacionadas ao investimento em planos previdenciários desde o início. O tempo é o melhor amigo de quem começa a guardar dinheiro, mas a maioria não se dá conta disso", diz Rubin.

Estimular o jovem a investir para a aposentadoria também requer campanhas mais ligadas à liberdade e propósito. "Deixamos de falar em acumulação passiva para tratar de estratégia de renda e autonomia", finaliza. 


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