Contas, financiamentos, taxas, tarifas, boletos, prestações. Todo início de mês é sempre a mesma coisa. Esse período se torna um desafio para milhões de lares brasileiros: fazer com que tudo caiba no orçamento. E, no início da vida adulta, é normal que os filhos peçam ajuda peçam ajuda financeira aos pais para fechar as contas. Mas e quando são os pais que precisam pedir dinheiro aos filhos?

Para a consultora de finanças pessoais Luciana Pasini, nada mais justo. Até porque os pais abrem mão de diversas coisas ao longo da vida para que os filhos tenham todo o possível. Em algum momento futuro, em que haja necessidade, é normal que esperem receber um pouco dessa doação de volta.

"Filhos custam muito caro, perdem roupa muito rápido quando são pequenos e dependem dos pais para tudo", explica Luciana. "Quantas vezes deixei de fazer uma viagem? Ou mesmo de comprar algo para mim porque meus filhos precisavam de alguma coisa? Eu tinha que escolher entre mim e eles." 

Os filhos crescem, estudam e se formam em uma boa faculdade. Logo conseguem um bom emprego e alcançam a tão sonhada tranquilidade financeira. Chega então o momento dos pais voltarem a pensar exclusivamente neles e de curtirem a vida sem preocupações.

"Se fosse simples assim, a vida seria perfeita e tudo estaria resolvido", brinca o economista e também consultor de finanças pessoais Mauro Guimarães. "O mercado de investimentos anda instável, a poupança deixou de ser um bom investimento. Outras opções ganharam força entre os investidores. Porém, são pouco conhecidas do grande público, que ainda enxerga a poupança como a forma mais segura de investir o dinheiro." E adverte: "o retorno é baixo, o que pode comprometer as finanças da família." 

Quando pedir dinheiro aos filhos?

Para os especialistas, os pais endividados não devem esperar que a situação se torne insustentável. É preciso avaliar as opções de crédito existentes, as taxas de juros praticadas e as possibilidades reais de cada um. Após isso, então, tomar uma decisão "com os pés no chão."

"Primeiramente, é preciso entender por onde o dinheiro está escoando", alerta Luciana. "Se não fechar o ralo, não adianta pedir dinheiro emprestado porque os problemas vão continuar acontecendo" Para ela, após identificar o motivo da crise, é preciso então montar um planejamento. Ter um passo a passo das próximas ações que devem ser tomadas.

"Não adianta pedir dinheiro emprestado no banco e depois não conseguir pagar os juros", adverte Luciana. Muitas vezes, quando a situação está complicada, pedir dinheiro aos filhos ou de um parente próximo é a melhor saída. Isso porque você pode contar com uma ajudinha sem taxa de juros. Ou, se for o caso, com juros menores que os do mercado.

Um filho ajudando o pai com as contas. O filho está sentado segurando folhas, com um computador aberto, então o pai está em pé, olhando. Imagem para ilustrar a matéria sobre pedir dinheiro aos filhos.Crédito: Inside Creative House/shutterstock

Em seu escritório, Guimarães costuma dar uma dica importante aos clientes que o procuram. "Antes de pedir dinheiro aos filhos, mostre a eles um planejamento, especificando quanto você precisa - não esqueça de incluir os juros -, como pretende pagar e de que forma pretende evitar que aquela situação se repita". Para o economista, muitas pessoas se recusam a emprestar dinheiro aos parentes por terem certeza de que, logo após a quitação daquelas dívidas, outras serão feitas e o mesmo caos voltará a reinar.

Não pegue mais que o necessário!

Esta é a segunda dica do especialista. "Pegar um valor superior à dívida pode dar a falsa sensação de que o dinheiro está sobrando, e então novas dívidas serão feitas", alerta Guimarães.

Luciana concorda e acrescenta que pegar dinheiro a mais do que o necessário no presente significa pagar um valor superior no futuro. "O arrependimento vem depois, quando você pensa que poderia estar pagando X e está pagando 2X porque foi ambicioso", destaca.

Contudo, vale lembrar que os filhos cresceram e agora têm suas próprias vidas. E, com elas, seus próprios compromissos, sonhos, projetos e também suas próprias dívidas. "Pode ser que naquele momento seu filho não possa te ajudar, porque a crise que estamos vivendo é para todos", diz Luciana. "E se as incertezas do mercado e da economia nacional tiram o sono de quem trabalhou uma vida inteira e agora só deseja um pouco de paz e de estabilidade, imagina de quem ainda tem uma vida inteira pela frente?", conclui.

O que diz a legislação?

Há casos de pais que entram na justiça para pedir dinheiro aos filhos através de pensão. De acordo com o Artigo 12 do Estatuto do Idoso, pessoas com mais de 60 anos que não tenham condições financeiras de se sustentar nem contem com o auxílio de parentes próximos podem receber pensão alimentícia dos filhos.

A medida também encontra respaldo no artigo 229 da Constituição Federal, que destaca: "os pais têm o dever de assistir, criar e educar os filhos menores". Em contrapartida, aos filhos cabe "o dever de ajudar e amparar os pais na velhice, carência ou enfermidades."

O auxílio é solidário, o que significa que, embora todos os filhos tenham a obrigação legal de ajudar os pais, a ação poderá ser movida somente contra o que tiver a melhor situação financeira. O não pagamento de uma pensão estipulada pela justiça pode resultar na prisão do filho inadimplente.

No entanto, caso fique comprovado que os familiares não têm condições financeiras de suprir essa necessidade, a responsabilidade passa para o estado e cai na conta do INSS.


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