Para não comer sozinho, o jeito é pular refeições. Essa é a máxima para 40% das pessoas com mais de 70 anos de idade no Reino Unido, mostrou um levantamento realizado por uma fabricante de molhos, a Bisto. Outra revelação foi que sete a cada dez pessoas nessa faixa etária diz ter mais apetite e se sentir mais alegre quando se alimenta ao lado de familiares e amigos.

Com esse mote, a empresa lançou recentemente a segunda edição de uma campanha para incentivar voluntários a convidar um idoso solitário para um almoço de domingo. Na primeira, em 2015, mais de 1.600 famílias participaram da iniciativa.

A campanha é feita em parceria com a Contact the Elderly, organização que desde 1965 organiza, com voluntários, chás da tarde para idosos que vivem sozinhos. Atualmente, a entidade conta com 10 mil voluntários e 5.500 idosos convidados.

No Brasil, a preocupação com as refeições solitárias já chegou aos consultórios, seja pelo contato com esse público, seja pelas pesquisas sobre nutrição em idosos. A preocupação em comer sozinho também faz parte da publicação “Alimentação Saudável para a Pessoa Idosa”, um manual elaborado pelo Ministério da Saúde e dirigido a profissionais de saúde.

Uma das recomendações da publicação é estimular o entrosamento social nos horários das refeições. “A falta de companhia na alimentação faz com que a pessoa idosa tenha menos preocupação com o tipo de alimento consumido, e a tendência, nessa situação, é alimentar-se de maneira inadequada tanto do ponto de vista da qualidade, como da quantidade”, diz o texto.

"É comum que idosos adocem ou salguem os alimentos em excesso”

“Nossa experiência mostra que idosos que vivem sós tendem a se isolar e a ficar deprimidos. É comum que pessoas deprimidas tenham pouca vontade de cozinhar para si próprias e muitas perdem o apetite”, diz Claudia Fló, presidente do Departamento de Gerontologia da SBGG (Sociedade Brasileira de Geriatria e Gerontologia).

Ela explica que, no envelhecimento, ocorre uma diminuição da sensibilidade das papilas gustativas – e o efeito é sentir os sabores com menor intensidade. “É comum que idosos adocem ou salguem os alimentos em excesso”, acrescenta Claudia.

Outro problema comum, diz ela, é a substituição de refeições por "lanches" com café com leite e pão ou bolacha. Essa, segundo Claudia, é uma opção inadequada, pois apresenta pouca proteína, muitos carboidratos e nada de fibras.

 

Padrões alimentares

“Café com leite, pão e manteiga” foi justamente um dos três padrões alimentares detectados em um estudo que avaliou a dieta de 295 pessoas com idade a partir de 60 anos em São Caetano do Sul (SP). A substituição do jantar por uma refeição com esses ingredientes foi associada com pessoas com baixa escolaridade, acima de 80 anos e com dificuldade de mastigar, diz uma das autoras do artigo sobre o estudo publicado neste ano na Revista Brasileira de Geriatria e Gerontologia, a nutricionista Rita de Cássia de Aquino.

Os outros dois padrões detectados são: “Tradicional” (arroz, feijão, verduras, legumes, frango), associado principalmente ao público masculino e aos praticantes de atividade física; e “Massa, carne suína e doces” (massas com molho, carne suína, refrigerantes, doces), com itens muito citados por homens e aposentados. O estudo não tinha o objetivo de apontar o percentual de adesão aos padrões alimentares.

“A qualidade da dieta sempre é pior quando existe pior qualidade de vida e quando existe risco de depressão”, diz Rita, que é docente do mestrado em ciências do envelhecimento da Universidade São Judas e integrante da SBAN (Sociedade Brasileira de Alimentação e Nutrição).

Riscos

Essa situação acende o sinal de alerta entre os profissionais da saúde. “A alimentação adequada promove a saúde e diminui o risco de surgimento e agravamento de doenças crônicas comuns nessa faixa etária”, alerta a nutricionista Rita.

“Idosos que se alimentam mal perdem ainda mais massa muscular e óssea do que um adulto jovem. Portanto, é importantíssimo fazer várias refeições ao dia [café da manhã, lanche, almoço, lanche, jantar], ingerindo verduras, legumes, frutas e proteínas de forma balanceada”, recomenda Claudia. Ela destaca também a necessidade de prestar atenção no consumo de água, porque eles “não sentem muita sede”.

Família reunida

Para viabilizar as refeições em grupo diante das agendas cada vez mais apertadas e evitar o hábito de comer sozinho, a sugestão do manual editado pelo Ministério da Saúde é que a família escolha uma refeição do dia para que todos ou quase todos possam estar presentes. “Sentar confortavelmente à mesa em companhia de outras pessoas, sejam elas da família, amigos ou o próprio cuidador, proporciona mais prazer com a alimentação e favorece o apetite”, segundo o manual. No caso de pessoas que estão em instituições de longa permanência, a orientação do manual é no sentido de estimular os moradores a frequentar o salão de refeições.

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